1. A busca do princípio primeiro (arché)
Vamos considerar, brevemente,
os
primeiros passos da filosofia em
nossa cultura ocidental. O primeiro
período da
filosofia começa no século VI a.C., e termina dois séculos depois, nos fins do
século V. Surge e
floresce fora da Grécia propriamente dita, nas
prósperas colônias gregas da Ásia Menor, do Egeu (Jônia) e da Itália
meridional, da Sicília, favorecido pelas liberdades democráticas e pelo
bem-estar econômico. A preocupação central dos filósofos deste período
refere-se aos problemas cosmológicos, nos quais a tônica que unifica esse
pensamento é estudar o mundo exterior nos elementos que o constituem, na sua
origem e nas contínuas mudanças a que está sujeito.
A forma inicial da filosofia nascente será uma
cosmologia, uma explicação da ordem do mundo, do
universo, pela determinação de um princípio
originário e racional, a origem e a causa das coisas e de sua
ordenação. Ao nascer como cosmologia, a
filosofia procura ser a palavra racional, a fundamentação pelo discurso da
origem e ordem do mundo, isto é, do todo da realidade, do ser. Os primeiros
filósofos não pretenderam explicar apenas a origem das coisas e da ordem do
mundo, mas também e sobretudo as causas das mudanças e repetições, das
diferenças e semelhanças entre as coisas, seu surgimento, suas modificações e
transformações e seu desaparecimento ou corrupção e morte.
“Para os primeiros filósofos, pré-socráticos
naturalistas, há um princípio primeiro (arché)a partir do qual tudo se origina.
Esse princípio é um elemento natural, não personificado em força divina. É a
primeira forma de filosofia no ocidente”.
a) A physis e a
causalidade
Esses primeiros filósofos foram denominados por
Aristóteles de ‘physiólogos’, o que vem a significar
estudiosos da natureza; dessa forma, o mundo
natural ( physis) passa a ser o objeto de estudo desses primeiros filósofos,
que inauguram entre nós a ciência. A mudança fundamental de olhar está agora no
foco natural e não no sobrenatural. Buscam-se as explicações e as causas dos
fenômenos naturais na própria realidade natural e não mais no horizonte mítico.
Para os pensadores pré-socráticos, ao buscar a
inteligibilidade de um fenômeno, explicar a origem de uma
realidade é encontrar o nexo causal natural, é
relacionar um efeito a uma causa natural que o antecede e o
determina. Contudo, nessa busca, deve haver uma
causa primeira ou última, para não recair no que constitui a narrativa mítica,
uma volta ao infinito e eterno.
b) Busca pelo
elemento primordial (o arché)
Os pré-socráticos estão preocupados em
encontrar o princípio (o arché) de todas as coisas. A partir desse
princípio seria possível explicar tudo o que
existe no Universo, pois, além de estar presente em todas as coisas, esse mesmo
arché seria uma atividade, isto é, uma força dinâmica que, em conformidade com
sua forma de ação, originaria a variedade de fenômenos naturais.
Esses filósofos, a fim de evitar a regressão ao
infinito em suas explicações causais, vão postular a
existência de um elemento primordial, ponto de
partida de todo o processo. Essa noção de princípio (arché) está vinculada com
a preocupação desses filósofos em buscar uma explicação mais profunda da
realidade, mediante um princípio, um elemento natural, que permeie e unifique
toda a realidade. A partir disso se poderá falar em caráter geral. Podemos
perceber aqui os princípios da ciência.
c) O logos e o
cosmos
Nossos primeiros filósofos fizeram,
simultaneamente, duas grandes mudanças em relação ao passado.
Primeiramente, tentaram entender o mundo com o
uso da razão, sem recorrer à revelação, à religião, ou ainda à autoridade e à
tradição. E em segundo lugar, estimulavam as pessoas à atitude de pensar,
servindo-se de sua de um corpo acabado e sistematizado de conhecimentos a serem
transmitidos. Ao contrário, o diálogo e a discussão, o debate e a argumentação
são características fundamentais.
O termo grego logos pode ser traduzido por
discurso racional, diferenciado de Mythos, uma narrativa
poética que recorria a deuses. Dessa forma, os
primeiros filósofos, sendo naturalistas ou physiólogos, buscam o logos, a razão
de ser da realidade, a partir de um pensamento racional aplicado sobre essa
mesma realidade, buscando seu entendimento. Dessa forma, o discurso que emerge
é um discurso racional, crítico, argumentativo e sujeito à superação durante a
discussão racional.
Há um segundo e fundamental sentido relacionado
à expressão logos. Buscar o logos é buscar o princípio
de inteligibilidade, é buscar, através da
razão, a racionalidade que move o mundo. Aqui se pressupõe que haja uma ordem e
uma harmonia no mundo. E é justamente isso que a expressão grega kosmos
designa. O cosmo é o mundo natural regido por uma ordem, por princípios
racionais inteligíveis, no qual se percebe uma ordem hierárquica, na qual
alguns princípios estão na base. A falta de uma ordem e organização da matéria
é conhecida com a expressão caos.
Nesse contexto é importante perceber um
pressuposto de fundo. Para que o mundo possa ser conhecido
pela razão é preciso que haja princípios
racionalmente inteligíveis. Assim, pode-se fazer ciência, tentar explicar
teoricamente o cosmo. Daí resulta a expressão ‘cosmologia’, uma reflexão,
estudo e explicação dos processos naturais e do funcionamento do universo.
De modo sumário, podemos caracterizar a atitude
filosófica nascente em termos de racionalidade acima
da intuição, ausência de explicações
pré-estabelecidadas, busca por respostas racionais concludentes e
tendência à gneralização.
Os nomes mais destacados dos filósofos
pré-socráticos são: Tales, Anaximandro, Anaxímenes, Pitágoras,
Heráclito, Xenófanes, Parmênides, Empédocles,
Anaxágoras, Leucipo, Heráclito, Parmênides e Demócrito.
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