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segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

HISTÓRIA DA FILOSOFIA: PERÍODO ROMANO


Ao fazermos uma análise sobre a filosofia praticada no período romano, precisa-se levar em conta alguns aspectos tais como: A filosofia romana foi praticamente uma releitura do pensamento grego. Houve uma espécie de “mistura” de várias correntes filosóficas, e em todas elas ganharam destaque as ideias moralizantes.
A civilização romana, que conheceu um desenvolvimento gradual, teve seu início por volta do século 7 a.C. Esse processo compreendeu cinco fases principais: (1) a fase inicial, que corresponde ao período monárquico e ao princípio da República; (2) o período da República tardia; (3) o Principado, de Augusto a Marco Aurélio; (4) a grande crise do terceiro século; e (5) o período da Antiguidade tardia, com a divisão entre leste e oeste e as sucessivas épocas pagã e cristã” (Jaguaribe, 2002: 365).
 A marca genuína e duradoura da civilização romana foi seu pragmatismo a serviço da cidade-estado e, posteriormente, a serviço do Império. Essa praticidade se materializou de forma notável nos campos da oratória forense, do direito e da jurisprudência; da engenharia civil e militar; da arquitetura e do urbanismo.
Ao longo de três séculos, o Império Romano estendeu seu domínio da península italiana a toda uma vasta área mediterrânea e à vasta região a oeste da Índia, com exceção da Pérsia. No século 1 a.C. era o maior império da Antiguidade. O mundo jamais conheceu império tão duradouro. Apesar da enorme potência do Império Romano, a opulência cultural da Grécia antiga constituiu objeto de desejo dos romanos, que se acercaram dessa cultura, levando-a para a sua. Os romanos absorveram não apenas o magnífico imaginário grego representado na mitologia, mas também suas representações artísticas – da arquitetura à escultura, por exemplo –, além da filosofia, da ciência natural e da teoria política. A literatura romana – cujos maiores expoentes foram Cícero, Virgílio, Horácio e Ovídio – também foi fortemente influenciada pela literatura grega. Não é de se estranhar, portanto, que os romanos tenham traduzido o acervo cultural grego. A grande influência cultural da Grécia sobre Roma deveu-se, em parte, ao reconhecimento dos romanos relativamente à superioridade intelectual e artística dos gregos:





Todo esse processo educacional grego que desagou na sociedade romana, ficando conhecida como cultura greco-romana. Esse fato é decorrente da herança dos fundamentos educacionais aos moldes da Paideia grega, aplicados pelos romanos a partir de então.
Todavia, diversas especificidades ou diferenciações da educação romana em relação à educação grega merecem ser destacadas. A característica geral e acentuada da educação romana era o pragmatismo, ou seja, uma educação voltada para o modelo prático-social e o método imitativo foi seu principal fundamento. Enquanto os gregos primaram por uma educação liberal, com isso se permitiu um percurso evolutivo da educação sendo herdeira das culturas de outros impérios, como as dos impérios egípcio e pérsico, mas não se contentaram apenas em reproduzir tais conhecimentos que foram adquiridos, prosseguiram galgando sempre por inovações, renovações e aperfeiçoamento elevando os níveis de conhecimentos a outros patamares, dando assim o surgimento da filosofia.
Entretanto, nem sempre de áurea a cultura grega está presente em Roma. Com efeito, a cultura helenística tem seu menosprezo simbolizado nas três principais expressões ou espaços culturais de desenvolvimento estético corporal: o ginásio, a palestra e o estádio. O ginásio grego é substituído pelo jardim de diversão; a palestra, pelas termas; e o estádio-anfiteatro, pelo circo. A decadência da educação romana, dentre outras causas, deveu-se ao tipo de educação elitista e ao desprezo intelectual da grande massa constituidora do grande Império Romano, que levou a outros problemas enfraquecedores e corrosivos daquela sociedade.
Outras atividades educativas praticadas pelos gregos também não eram aceitas pela educação romana, como: ginástica, dança, música, etc. Essas atividades eram consideradas como atividades estimuladoras à afeminação pelos romanos.
Os grandes pensadores desse período foram:
Lucrécio (Tito Lucrécio Caro) nasceu provavelmente em Roma, no ano 94 a.C. Autor do poema “De Rerum Natura” (Da Natureza das Coisas), onde faz uma detalhada exposição de princípios filosóficos que ele foi buscar na obra de grego Epicuro (341-270 a.C). Possivelmente o primeiro texto filosófico em latim — limitou-se a expor o pensamento de Epicuro; Cícero (c. 106-43 a.C.), mais original, mesclou influências da Academia, do Liceu, do Jardim. Foi um poeta e filósofo latino, autor do poema didático "De Rerum Natura", uma rigorosa exposição filosófica.
Na visionária concepção epicurista, o mundo – coisas, plantas, animais e até o homem – era constituído por pequenas partículas indestrutíveis que ele chamou de átomo.
A obra de Lucrécio, em seis volumes era um corpo estranho para o pensamento que a Igreja professava na época em que o poema foi encontrado. Poggio Bracciolini, humanista do Renascimento italiano, ao visitar mosteiros alemães, em 1417, encontrou pergaminhos com textos latinos esquecidos havia séculos, depois de ser negligenciado pelos pios monges.
No poema de Lucrécio, longe de ser o centro do universo, o homem seria apenas mais uma entre várias configurações da matéria possibilitada pela reunião dos átomos. A alma, tal como o corpo, é feita de átomos, portanto se desfaz com a morte. A única vida que é dada ao homem é esta, e ele deve aproveitá-la retirando-se da vaidosa agitação da vida pública para se dedicar à serena busca do prazer.
Lucius Annaeus Seneca (em português, Lúcio Aneu Sêneca, ou ainda Sêneca, o Jovem - Córdoba, Hispânia, Império Romano, 4 a.C. - Roma, Império Romano, 65 d.C.) foi um importante escritor e filósofo do Império Romano. Filho de um grande orador, Annaeus Seneca, o Velho, foi educado em Roma, onde estudou retórica e filosofia, tornando-se famoso como advogado. Foi membro do senado romano e depois foi nomeado questor, magistrado da justiça criminal. Epíteto, ex-escravo, e Marco Aurélio, imperador, também constituíram o pensamento romano.
É o seu trabalho no campo da filosofia que desperta o maior interesse, isso desde o período do Renascimento. Entre suas ideias, destaca-se a da consciência, que ele entendia como a capacidade que o homem tem de distinguir entre o bem e o mal. Ela é inerente ao ser humano, que não pode se livrar dela ou escondê-la, pois o homem não consegue se esconder de si próprio. O criminoso pode evitar a punição da lei, mas não evita a punição dentro de sua consciência, que faz um juízo íntimo de seus atos. Por isso mesmo, o pecado estaria inserido na estrutura e na fundamentação do homem, e para nos tornarmos homens necessitamos da prática de pecados. Se o indivíduo nunca peca, não é homem; mesmo o sábio é um pecador, porque através do pecado ele realizou experiências de diferenciação entre o bem e o mal.
Somente no século III, em pleno declínio do Império Romano, é retomada a preocupação inicial da filosofia — a busca por um princípio único para tudo que existe. O responsável por essa retomada, também baseada na filosofia grega, é Plotino, fundador da corrente denominada “neoplatonismo”.
Plotino (205-270)
Plotino nasceu em 205 da era cristã, em Licópolis, permanecendo quase toda a juventude em Alexandria até 243 d.C., quando deixou a cidade para seguir o imperador Jordano em sua expedição oriental. Morto Jordano no meio de sua expedição, Plotino decide ir à Roma, onde chegou em 244 d.C., fundando uma escola.

Pelos escritos de um discípulo famoso de Plotino, Porfírio, sabemos que Amônio foi um jovem brilhante, educado no seio de uma família cristã. Mas depois que passou a se dedicar à filosofia, Amônio, por inclinação e vontade próprias, se voltou novamente ao paganismo (talvez por achar mais liberdade por buscar um caminho próprio de entendimento).
Pelo que sabemos, foi Amônio, professor de Plotino, provavelmente o primeiro a usar a palavra teosofia ao se reportar às formas de pensamento que buscam explicar a natureza divina, as relações com tudo o mais. Depois de abandonar a religião cristã, definiu as bases da filosofia neoplatônica, adotada por seus discípulos Longino e Plotino da escola de Alexandria.
Neoplatonismo é uma das últimas escolas filosóficas da antiguidade Greco-pagã, fundada por Amônio Sacas no século II da Era Cristã. Seu representante máximo é o filósofo egípcio Plotino que teve como discípulo Porfírio, outro neoplatônico, que intentava demonstrar a compatibilidade entre as filosofias de Platão e Aristóteles, além de difundir o neoplatonismo.
É importante frisar duas coisas: a primeira é que o prefixo “neo” só foi adicionado na posteridade para diferenciar o dualismo platônico do monismo neoplatônico, ou seja, Plotino e os demais seguidores do hoje chamado neoplatonismo se designavam apenas pela alcunha de platônicos. E a segunda é que o termo neoplatônico não faz referência a todo e qualquer seguidor das ideias de Platão, mas a escolas pontuais, com finalidades específicas.
O neoplatonismo visava, a partir de uma síntese do Platonismo, Aristotelismo, Estoicismo e Pitagorismo, legitimar verdades religiosas supostamente reveladas aos homens. Há, portanto, um profundo caráter místico e espiritualista intencional nas escolas neoplatônicas que servirá de base para a posterior fundamentação teórica de religiões monoteístas como por exemplo o Cristianismo. Desse modo, ideias de Plotino, Porfírio, Proclo estão diluídas na teologia e filosofia medieval cristã.
O neoplatonismo contrário ao ver perspectivo, que possibilita diversas interpretações de autores, propunha uma interpretação unitária do pensamento de Platão a partir de chaves de leitura que segundo os filósofos das escolas neoplatônicas seria a única   forma
de se acessar efetivamente aos textos platônicos sem subverter suas ideias.
Cícero foi um dos mais importantes filósofos da Roma antiga.
Nascido no dia 3 de janeiro do ano 106 antes de Cristo, Marco Túlio Cícero era proveniente de uma cidade ao sul de Roma de nome Arpino. O fato de Cícero não ser um romano tradicional foi incomodo durante toda a sua vida, o deixava envergonhado. Mas sua educação foi baseada nos grandes filósofos, poetas e historiadores gregos. Foi toda a sua proficiência na língua grega que o levou à condição de intelectual e o colocou entre a elite romana tradicional. A família de Cícero também o ajudou a crescer, seu pai era um rico equestre com importantes contatos em Roma.
Cícero era um estudante incansável e extremamente talentoso, características que despertaram a atenção de Roma. Desprovido de qualquer interesse pela vida militar, Cícero era um intelectual e começou sua carreira como advogado. Mais tarde, mudou-se para a Grécia e ampliou seus estudos de retórica. Através dessa estadia na Grécia teve contato e passou a admirar calorosamente a obra de Platão. Cícero tornou-se o responsável por introduzir a filosofia grega em Roma, criando um vocabulário filosófico em Latim.
Após morar na Grécia, Cícero voltou a Roma e ingressou na vida pública. Nesse momento, já era reconhecido como grande linguista, tradutor e filósofo e tinha em sua história pessoal o respeito por ser um eloquente orientador e bem sucedido advogado. Porém ele acreditava que a carreira política era a conquista de maior sucesso em sua vida. Cícero participou de grandes eventos da história política de Roma, como as guerras civis e a ditadura de Júlio César na primeira metade do século I a.C. Foi Cícero quem patrocinou o retorno ao governo republicano tradicional em Roma, era um homem descrito por seus biógrafos como de personalidade sensível e impressionável, que reagia de modo exagerado às mudanças políticas. Como estadista, era inconsistente em suas decisões e tinha a tendência de muda-las em função do clima político do momento. Marco Aurélio Antonino (121 d.C.-180 d.C.) foi imperador romano durante quase duas décadas. Considerado o mais sábio dos dirigentes políticos da antiguidade ocidental, ele governou de 161 a 180 e ficou conhecido como o imperador-filósofo.
Combinando a busca da sabedoria com um espírito prático, Marco Aurélio soube desenvolver o desapego enquanto cumpria os seus deveres perante o mundo. Taurino nascido a 26 de abril, o imperador tinha persistência. Influenciado pelo filósofo Epicteto, ele baseou sua filosofia de vida na aceitação da impermanência das coisas e na disciplina da indiferença em relação a dor e prazer.
A leitura de um bom livro pode ser um diálogo vivo, porque o leitor atento interage com os padrões de vibração mental do autor e sua consciência é guiada pelos ritmos da emoção e do pensamento presentes no texto que lê. Por isso, a presença espiritual do imperador-filósofo pode ser percebida como algo vivo por qualquer pessoa que seguir as ondas de pensamento registradas nos textos do volume intitulado Meditações. A obra reúne suas reflexões pessoais sobre o caminho da sabedoria. O texto não foi redigido para publicação, mas registra sua luta consigo mesmo na busca do auto aperfeiçoamento. Passados mais de 18 séculos, as Meditações de Marco Aurélio continuam inspirando milhões de leitores ao redor do planeta.
1) Uma base essencial da sua filosofia e sua ética é a constatação da unidade de todas as coisas. Nada existe separado, nada fica escondido muito tempo, e por isso é aconselhável agir sempre corretamente. Mas como colocar esses princípios em prática? 
R: O importante é estabelecer primeiramente que sou parte de um Todo regido por uma natureza e, posteriormente, que, de algum modo, sou parente das outras partes que a mim se assemelham. Certamente, observando estes princípios, como parte que sou, não me revoltarei contra nenhuma das vicissitudes que o Todo me reservar, pois nada incomoda a parte quando é útil ao Todo, e nada há no Todo que não lhe seja útil. Não me esquecendo de que sou parte do Todo, acolherei de boa vontade todos os acontecimentos. Sendo, de alguma forma, parente das partes semelhantes a mim, procurarei nada fazer que possa prejudicar a sociedade. Antes pelo contrário, tendo sempre em vista o meu próximo, consagrarei minha atividade ao bem comum e me absterei de tudo que provoque dano para o próximo. Procedendo dessa forma, minha vida será obviamente feliz. 
2) Correto. A percepção da unidade dinâmica que existe entre todos os seres é a fonte mais eficaz dos sentimentos éticos. No entanto, nem todos percebem as vantagens de agir com sabedoria, e  ainda há muita violência e crueldade no mundo.  Como funciona o círculo vicioso do egocentrismo? 
R: A aranha orgulha-se de apanhar moscas. Um homem, de apanhar lebres, tal outro, sardinhas na rede, este, um javali, esse, um urso, aquele, alguns sármatas [guerreiros germânicos, contra os quais os soldados de Marco Aurélio combateram várias vezes]. Estudados os princípios que os norteiam, não poderiam, todos eles, ser qualificados como assassinos?
3) E como podemos viver corretamente em meio a esse mundo?
R: Cria um método para entender como todas as coisas se transformam umas nas outras. Com muita constância, dedica-te a essa parte da filosofia, especializa-te nela, já que nenhuma outra eleva tanto a alma. Para aquele que se dedica a ela, é como se ele se libertasse do corpo. E, considerando que em breve terá de deixar tudo e sair de entre os homens, ele não deve preocupar-se com nada, exceto submeter-se à justiça e à natureza do Todo, em tudo quanto faz e recebe. O que dele disserem e supuserem, e o que lhe fizerem, não lhe preocupa o espírito, ao qual só importa o seguinte: realizar com justiça o que agora lhe compete fazer, e amar o que agora lhe acontece. 
4) A filosofia estoica ensina a ser imperturbável diante das oscilações da vida. Mas há obstáculos enormes para isso. Estamos sujeitos a inúmeras pressões externas. Nossos parentes, colegas de trabalho, amigos e conhecidos fazem exigências e nos influenciam o tempo todo. 
R: De manhã cedo, dize logo a ti mesmo: Encontrarei um indiscreto, um ingrato, um arrogante, um trapaceiro, um invejoso, um egoísta. Tudo isso lhes advém da ignorância do bem e do mal. Mas eu, tendo reconhecido que a natureza do bem é a virtude e a do mal é o vício, e que o pecador é por natureza meu parente – não do mesmo sangue ou semente, mas pela inteligência e por participar de uma parcela da divindade – não posso considerar-me ultrajado por qualquer um deles. Nenhum deles me contaminaria com o vício. Não posso tampouco irritar-me contra meu parente nem odiá-lo; pois fomos feitos para cooperar, assim como os pés, como as mãos, como as pálpebras, como as fileiras superior e inferior dos dentes. Agir como adversário é, então, contra a natureza. E é ser adversário irritar-se com os outros e evitá-los.
5) Ser feliz parece ser um objetivo natural, não só dos seres humanos,  mas de todo ser vivo.  Plotino, o filósofo neoplatônico, escreveu que até mesmo as plantas buscam a felicidade.  De que modo alguém pode alcançá-la, na prática? 
Se concentras teus esforços no presente, seguindo a reta razão seriamente, vigorosamente, calmamente, sem permitir que nada mais te distraia e mantendo puro teu Gênio interior, como se tivesses de devolvê-lo imediatamente; se te aplicares a isso, nada esperando, nada temendo e satisfeito com tua atividade presente conforme a natureza e com uma verdade heroica em cada verdade e manifestação, viverás feliz. E ninguém será capaz de impedir isso.
Época imperial romana. — Com o surgimento dos imperadores romanos o curso dos tempos se torna
ainda mais tormentoso e os homens interiormente ainda mais inquietos e angustiados.
No império romano ainda sobrevivem as antigas escolas filosóficas; mas já se esgotam e caem em ruína umas depois das outras. Aqui e acolá, heroicos esforços se desenvolvem, a fim de ainda despertar, para nova vida, o espírito da cultura antiga, antes de tudo no neoplatonismo. Mas a evolução não é já possível ser contida. Quando Justiniano, em 529 d.C. mandou fechar a Academia, o último reduto da Filosofia antiga, e proibiu se continuasse a ensinar Filosofia em Atenas, foi isso, exteriormente, um ato de violência, na realidade, porém, apenas a documentação de uma situação preexistente.







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sábado, 9 de novembro de 2019

História da Filosofia: Período helenístico


O período helenístico
O Período Helenístico (ou Helenismo) foi uma época da história compreendida entre os séculos III e II a.C. no qual os gregos estiveram sob o domínio do Império Macedônico.
Foi tão grande a influência grega que, após a queda do Império, a cultura helenística continuou predominando em todos os territórios anteriormente por eles dominados.
Entre os séculos II e I a.C., os reinos helenísticos foram aos poucos sendo conquistados pelos romanos.
No mundo helenístico há, no entanto, um fenômeno mais impressionante do que qualquer batalha de Alexandre: gregos, egípcios, persas, hebreus, mesopotâmicos e hindus, culturas tão ricas e distintas, passaram a ter contato. Surgia uma cultura nova, nem grega, nem oriental, mas híbrida, sincrética, sendo, por isso, chamada de cultura helenística. A língua grega tornou-se a “língua comum” em toda a região conquistada por Alexandre. O modelo das cidades gregas era exportado para o Oriente: nos territórios conquistados, Alexandre construiu cerca de 70 cidades, sendo Alexandria, no Egito, a maior cidade da época, eixo econômico e intelectual do Mediterrâneo Oriental.
A filosofia helenística surge nesse contexto histórico. Ela é fortemente marcada por uma preocupação central com a ética, aqui entendida como o estabelecimento de regras do bem viver, da “arte de viver”. É ilustrativo disso o famoso Manual, do romano Epicteto (50-125). Em outras palavras, com o fim da pólis grega e o advento das hegemonias (macedônica, romana ou bizantina), o homem deixou de ser analisado em sua condição de “animal político”, que deveria viver pela sua cidadania. O homem abondona perspectiva política ou desiludido com ela, passou a preocupar-se mais com sua felicidade pessoal. Num mundo pluralista e multicultural, ou seja, cosmopolita, o homem sentia-se desenraizado, e a pólis deixou de ser sua referência básica. ataraxia (“paz de espírito” ou “tranquilidade”), e não a política, leva os homens à eudaimonia (“felicidade”). Surgem nesse período os filósofos: Plotino, Zenão de Cítio, Epicuro, Cícero, o pensamento no mundo helenístico é usualmente associado a uma escola ou tradição. A originalidade, assim, tem menos valor que a vinculação a um grupo. Muitas escolas helenísticas, por isso, foram acusadas de dogmáticas e doutrinárias, por deixar de lado o aspecto polêmico e dialético da filosofia grega. Além do mais, elas são profundamente ecléticas, por sintetizar diferentes doutrinas. 
O período helenístico também ajudou a criar correntes filosóficas que influenciaram diversas vertentes filosóficas posteriores. As principais escolas foram:

• Estoicismo: essa corrente pregava a felicidade como equilíbrio, na qual o homem deveria aceitar todas as situações postas pela vida. Como foi uma escola que se adaptava aos contextos, acabou sendo a visão filosófica do helenismo que mais durou. Seu principal representante e fundador era Zênon de Cítion.  

• Epicurismo: esse sistema filosófico afirmava que os prazeres moderados contribuíam para o encontro do estado de equilíbrio e tranquilidade, onde todos os medos eram liberados. O conhecimento sobre o funcionamento do mundo diminuía o sofrimento corporal. O criador dessa escola foi o filósofo Epicuro, que deu nome a corrente.

• Ceticismo: o fundador desse sistema foi Pirro de Elis. A escola pregava o não julgamento das coisas, o desprezo pelas bens materiais e pela afirmação de que todo conhecimento humano é relativo. 

• Cinismo: iniciado pelo filósofo Antístenes, essa corrente defendia a rejeição dos desejos de riqueza, poder político e fama. Indicava que os homens deveriam viver com indiferença, sem pudor e cultuando as amizades.

As principais escolas helenísticas são a Estoica e a Epicurista.
Escola Estoica
A Escola Estoica foi fundada em Atenas, em 300 a.C., por Zenão de Cítio (344-262 a.C.), e desenvolvida por Cleantes (330-232 a.C.) e Crisipo (280-206 a.C.). Em Roma, os principais representantes do estoicismo foram Sêneca (4 a.C.-65d.C.), Epicteto (60-138) e o imperador Marco Aurélio (121-180).
O termo “estoicismo” deriva de stoa poikilé (“pórtico pintado”), local em Atenas onde os membros da escola se reuniam. O estoicismo é a primeira ética universal fundada numa igualdade de princípios de todos os homens: cada um deve se pensar como “cidadão do mundo”, isto é, um cosmopolita.
A noção de necessidade, ou destino (heimarmené), é muito forte no estoicismo: o homem deve resignar-se e aceitar os acontecimentos predeterminados. Isso não se traduz pela inação ou pelo fatalismo passivo. Devemos agir de acordo com os preceitos éticos e fazer o que julgarmos devido, mas devemos também aceitar as consequências de nossa ação e o curso inevitável dos acontecimentos. Segundo um exemplo famoso, se vejo alguém se afogando, devo salvá-lo, mas, se não o conseguir, não devo desesperar-me, pois era inevitável. É legítimo, portanto, um amor ao destino (amor fati).
Assim, os estoicos acreditam que, para manter nossa ataraxia, devemos nos preocupar apenas com o que podemos modificar (nossos pensamentos, ações, sentimentos).  O que não está ao nosso alcance, ou seja, o que não conseguimos modificar (morte, velhice, catástrofes naturais, a opinião dos outros) não deve ser alvo de nossas preocupações. O sábio, em vez de buscar mudar a ordem do mundo, deve saber mudar seus desejos. A liberdade é compreendida como adesão à necessidade do ser que sabe reconhecer na lei universal o que é mais apropriado à sua natureza primeira. Como disse Sêneca: “Deve-se aprender a viver por toda a vida e, por mais que tu talvez te espantes, a vida toda é um aprender a morrer”.

Escola Epicurista


Epicuro (341-271 a.C.), notabilizado por seu tratado Da Natureza, fundou sua escola em Atenas, em 306 a.C., reunindo-se com seus discípulos no Jardim (Kepos), que ficou conhecido na Antiguidade. O Jardim tornou-se uma comunidade filosófica que põe em prática a ideia de frugalidade, serenidade e amizade, a rejeição das superstições religiosas e as vaidades sociais. Os sábios constroem um pequeno mundo amistoso em que reinam livremente a sabedoria e a amizade, no qual são recebidos abertamente mulheres, crianças, escravos e estrangeiros.
Para Epicuro, o que nos afasta do soberano bem são os quatro grandes medos humanos: medo dos deuses, medo da morte, medo do sofrimento e medo da dor. Os quatro medos não têm razão de ser, pois são alimentados por crenças vãs. De fato, não são as coisas que nos atormentam, mas, sim, as elaborações e os pensamentos que temos delas. A morte, por exemplo, não deve ser temida, pois, se pensarmos, veremos que não há por que ansiar a imortalidade. Além disso, a morte “não é nada em relação ao homem: ou ela existe e ele não existe ou ele existe e ela não existe”. A morte de um amigo não nos deve fazer infelizes, pois não é um mal para ele.
Para os epicuristas, o homem age eticamente na medida em que dá vazão a seus desejos e necessidades naturais de forma equilibrada ou moderada, e é isso que garante a ataraxia, porque “aprender e gozar andam juntos”. A valorização do prazer (hedoné) como algo natural e a concepção de que a realização de nossos desejos naturais e espontâneos é positiva deram origem à imagem, certamente distorcida, de que o epicurista é alguém devotado a uma vida cirenaica de prazeres. Ao contrário, o prazer excessivo joga-nos novamente na dor, que por sua vez nos leva à ação viciosa. Existem três tipos de prazeres: os naturais e necessários, que devemos buscar, pois a não satisfação causaria em nós uma dor real; os nem naturais nem necessários, cuja não satisfação não causaria uma dor verdadeira, e, portanto, artifícios da vaidade devem ser evitados; e os naturais, mas não necessários (como um bom vinho ou o amor), que devem ser evitados.

Escola cética

O Ceticismo é uma doutrina filosófica, surgida na Grécia em IV a.C, durante o período helenístico. A primeira escola cética foi fundada por Pirro de Élis (365/60-275/70 a.C) e a inspiração do filósofo para criá-la teria se originado de uma série de viagens feitas ao lado de Alexandre, o Grande, nas quais teria passado por países como Índia e Pérsia, e conhecido grandes sábios desses locais. Pirro não deixou nenhuma obra escrita e dentre as principais fontes do Ceticismo, encontram-se Diógenes Laércio, Cícero, Tímon e Sexto Empírico. Ao longo da história da filosofia, os principais representantes do Ceticismo, foram Pirro (fundador da primeira escola cética, conforme já citado), Tímon de Filonte (díscupulo de Pirro – 320 – 230 a.C), Arcesilau (315-240 a.C), Carnéades (219-129 a.C), Enesidemo (século I d.C), Agripa (séculos I e II d.C) e Sexto Empírico (160-210 d.C).
Pirro, fundador da primeira escola cética.
  Podemos considerar que o principal aspecto do Ceticismo é a epoché“, que significa suspensão do julgamento, ou, mais precisamente, a valorização de uma postura de neutralidade do juízo diante de qualquer questão apresentada. Assim como ocorria com o Epicurismo e com o Estoicismo, a finalidade de tal postura era a busca pela ataraxia (imperturbabilidade da alma) e, portanto, a obtenção da ausência das inquietações, angústias e ansiedades. Os céticos acreditavam que nem sempre haveria dois lados divergentes, de mesma validade argumentativa e de possibilidade numa determinada investigação e, por isso, não se deveria formar opinião sobre nenhuma delas, nem ter plena certeza de nada, tal como seria impossível se afirmar ou negar algo. Além da epoché, outro importante princípio do Ceticismo é a crença de que o mundo que experimentamos em nosso cotidiano é puramente fenomênico (isto é, aparente) e também por isso, não poderia haver evidências certas ou compreensão absoluta de nada, sendo que, portanto, para os céticos, vivemos num mundo caracterizado essencialmente pela incerteza. Consequentemente, esses filósofos mantinham-se sempre no âmbito da dúvida e da constante busca (chamada de sképsis), e não estabeleciam afirmações e tampouco negações: “(…) a investigação cética é, por definição, interminável, pois jamais levará a uma conclusão definitiva.”

Sexto Empírico, na obra Hipoteposes, faz um esclarecimento válido de menção: o cético não rejeita aquilo que provém das impressões sensíveis, ou seja, do que sentidos fornecem, como, por exemplo, a sensação de frio ou calor. Porém: “(…) ele diz aquilo que lhe parece e relata o que sente de forma não-dogmática, sem afirmar nada de positivo sobre o que existe na realidade.” (EMPÍRICO, p. 118). Ainda no mesmo livro, mais adiante, fornece outro exemplo acerca da realidade sensível, ao afirmar que não sabe se o mel é realmente doce, mas apenas que lhe parece doce: “(…) se é doce em si mesmo é algo questionável, pois não se trata mais de uma aparência, mas de um juízo sobre o aparente”. (EMPÍRICO, p. 119). Ou seja, será aquilo que sentimos e captamos, corresponde ao que tal objeto é de fato? Para os céticos, simplesmente não é possível tirar quaisquer conclusões que estejam além daquilo que se apresenta como mera aparência e qualquer tipo de conclusão sobre algo que está além da percepção cairá no dogmatismo, que foi fortemente combatido pelos céticos pirrônicos.
Escola cínica
A Escola Cínica, ou o Cinismo, foi uma corrente de natureza moral um tanto quanto exagerada, portanto, fora dos padrões normais, que ocorreu no Período Pós-socrático, justamente para combater a cultura degenerada da época. Essa corrente foi como que preparatória para o surgimento de outras escolas desse período, tal como se estivesse antevendo a época posterior que iria se desenhar na Grécia com a desencarnação de Alexandre, o Grande, em que a cultura grega iria decair do nível que antes foram determinados pelo Período Doutrinário e pelo Período Sistemático, através da degeneração da moral e da ética, assim como da implantação da monarquia na Grécia Antiga, que tanto lá como nos arredores iria se instalar.
O primeiro veritólogo a definir a Escola Cínica foi Antístenes, discípulo de Sócrates, no final do século V a.C., o qual foi seguido por Diógenes de Sínope, que levou o Cinismo a ultrapassar aos extremos da lógica e passou a ser visto como sendo o arquétipo do Cinismo, já que a sua autossuficiência e a sua indiferença demonstradas perante as vicissitudes da vida espelhavam os ideais do cinismo, que então se espalhou durante a ascensão do Império Romano, no século I, tornando-se quase um movimento de massa, já que os seus seguidores eram encontrados tanto pedindo esmolas como pregando ao longo das cidades do Império. A doutrina finalmente desapareceu no final do século V, com o falso cristianismo primitivo adotando muitos dos seus ensinamentos e das suas práticas ascéticas e retóricas.
A denominação de cínico é proveniente do grego antigo kynikos, que significa igual a um cão, sendo que em grego a palavra kyon significa cão, cujo genitivo é kynos, como acontece nas línguas em que os nomes se declinam por casos, sendo a manifestação com que se exprime em geral o complemento possessivo, limitativo e, às vezes, o circunstancial ou terminativo. Mas a explicação existente desde os tempos antigos do porquê dos cínicos serem denominados de cães, deve-se ao fato de Antístenes, que foi o primeiro cínico, ensinar no ginásio Cynosarges, ou Cinosargo, um ginásio e templo para os atenienses nothoi, ou seja, aqueles que não possuíam a cidadania ateniense por terem nascido de uma escrava, estrangeira, prostituta, de pais cidadãos mas não legalmente casados, ou, ainda, que fossem bastardos de hilotas, cujo nome designa uma raça escrava da antiga Esparta. A palavra Cynosarges sugere os significados de alimento de cão, cão branco ou cão rápido.
Mas ao que tudo indica, a denominação de cão foi também lançada aos primeiros cínicos como um insulto pelas suas rejeições exageradas quanto aos costumes adotados, o que implica em total desprezo em relação às convenções sociais, já que eles decidiram adotar os seus próprios costumes de natureza ascética, ao viverem nas ruas. O próprio Diógenes de Sínope, em particular, foi referido como o cão, ao ter afirmado que “os outros cães mordem os seus inimigos, eu mordo os meus amigos para salvá-los”, ao que tudo indica tentando transformar o significado da palavra em seu favor, como se através da mordida ele estivesse inoculando os atributos morais nas carnes dos seus amigos. Mas tal exagero de viver a vida em tais condições não condiz com a verdadeira moral, pois foge a ela, já que esse procedimento não condiz com a natureza, apesar dos cínicos considerarem que estavam vivendo em conformidade com ela. Mas, mesmo assim, um comentarista tenta dar uma explicação para o estilo de vida e a denominação canina aos cínicos, quando diz o seguinte:
Há quatro razões de porque os cínicos são assim chamados. A primeira razão por causa da indiferença do seu modo de vida, pois fazem um culto à indiferença e, assim como os cães, comem e fazem amor em público, andam descalços e dormem em banheiras nas encruzilhadas. A segunda razão é que o cão é um animal sem pudor, e os cínicos fazem um culto à falta de pudor, não como sendo falta de modéstia, mas como sendo superior a ela. A terceira razão é que o cão é um bom guarda e eles guardam os princípios da sua filosofia. A quarta razão é que o cão é um animal exigente que pode distinguir entre os seus amigos e inimigos. Portanto, eles reconhecem como amigos aqueles que são adequados à sua filosofia, e os recebem gentilmente, enquanto os inaptos são afugentados por ele, como os cães fazem, ladrando contra eles”.
Por aqui se pode constatar plenamente o exagero extremo em busca da moral, em que nesse extremo exagero a ética é quase que completamente esquecida, o que se leva a concluir que os cínicos não eram verdadeiramente educados, pois que para o ser humano ser educado verdadeiramente, ele deve possuir os atributos morais e éticos. Além do mais, nenhum ser humano deve olvidar de viver a vida em conformidade com a sociedade, mas tendo sempre como foco da sua vida aquilo que diga respeito à virtude, o que não implica em agredi-la.
Os cínicos, tanto os gregos como os romanos clássicos, consideravam a virtude como a única necessidade para realizar a felicidade, vendo-a como inteiramente suficiente para tanto. Mas nessa busca pela felicidade eles negligenciavam com rudeza a sociedade, a higiene, a família, o dinheiro, etc., denotando assim uma elevada dose de falta de ética. Assim, eles procuravam se libertar das convenções estabelecidas pela cultura local, na tentativa de se tornarem autossuficientes, em razão da crença equivocada de que estavam vivendo de acordo com a natureza. Como consequência desse desvirtuamento, eles rejeitavam todas as formas convencionais de felicidade que envolvessem dinheiro, poder, fama, etc., a fim de viverem asceticamente de maneira virtuosa e, portanto, feliz.
Mas se os cínicos antigos por um lado rejeitavam os valores sociais convencionais, por outro lado criticavam fortemente alguns tipos de comportamentos prejudiciais ao convívio humano, como a avareza, o egoísmo, a ganância, etc., que eram vistas como causadoras dos sofrimentos. Uma maior ênfase sobre este aspecto dos seus ensinamentos levou à compreensão moderna do que seja cinismo, já no final do século IX, considerado como sendo a manifestação de uma atitude de desdém negativo ou cansaço da vida, proveniente de uma desconfiança geral quanto à integridade ou motivos professos dos outros. Mas esta definição moderna se encontra em contraste marcante com o pensamento antigo, que destacou a virtude e a liberdade moral na libertação do desejo.
Na realidade, o propósito da vida para os cínicos era viver na virtude, na mais extremada virtude, de acordo com os ditames da natureza, a qual eles não sabiam interpretar nem o seu conteúdo e nem o seu objetivo para a vida, por lhes faltar a sabedoria necessária para tanto. Nas suas ignorâncias acerca da natureza, eles traçavam os objetivos essenciais para as suas vidas, em que predominava a virtude moral, que somente poderia ser obtida se eliminando o desejo de todos os bens supérfluos, assim como tudo aquilo que fosse exterior a eles.
Daí a razão deles defenderem a tese de que o ser humano dispunha de tudo aquilo que necessitava para viver, independente dos bens materiais. A isto denominavam de autarcia, uma variante com outra acepção mais difundida de autarquia, ou a qualidade de quem se basta a si mesmo, que pretendia exprimir uma condição de autossuficiência do sábio, algo que eles não eram, a quem basta ser virtuoso para ser feliz. Mas o termo grego original é autarkeia, que significa autossuficiência. Além dos cínicos, tal concepção se consagrou em uma proposição defendida também pelos estoicos, como veremos mais adiante em outro tópico, neste site de A Filosofia da Administração.
Os cínicos desacreditavam das conquistas obtidas por esta civilização, rejeitando as suas estruturas jurídicas, sociais e credulárias, estas últimas corretamente, pelo fato de serem todos os credos e as suas seitas sobrenaturais, afirmando que elas não trariam qualquer benefício ao ser humano. Considerando-se autossuficientes, eles rejeitavam tudo aquilo que naturalmente não é dado ao ser humano pelo nascimento, ao que parece se referindo até ao instinto, que é irracional, que não pode servir de base para a conceituação nem da moral e nem da ética. Em outros termos, este pensamento pode ser encontrado no mito Bom Selvagem, de Rousseau.
Os conhecimentos metafísicos acerca da verdade, por serem provenientes da percepção criptoscópica, devem ser transmitidos por intermédio de uma saperologia, antes de uma filosofia, com a inserção de algumas experiências físicas acerca da sabedoria, para que assim possam ser acessíveis à compreensão intelectual. No entanto, o cinismo não conseguiu penetrar no âmbito da verdade, já que a sua saperologia partia do princípio de que a felicidade não dependia de nada externo ao próprio ser humano, tais como as coisas materiais, sem qualquer preocupação com a saúde, com o sofrimento doloroso e mesmo com a desencarnação, limitando-se estritamente ao âmbito da moral, mesmo sem atingi-la a contento, pois que dela o pudor faz parte integrante, mas preconizando a virtude para se atingir a felicidade, em que desponta a sua saperologia no ensinamento da libertação de todas as coisas materiais, para eles a única via pela qual se pode atingir a felicidade, que, assim obtida, nunca mais pode ser perdida. Assim, para os cínicos a virtude reside, sobretudo, na conduta moral do ser humano, naquilo que lhe é intrínseco, não nas conquistas materiais, e muito menos na aparência exterior.
Mas assim como Sócrates, os cínicos nada deixaram de escrito. O que se sabe sobre eles foi narrado por escritores alheios aos seus ensinamentos moralistas, que em geral eram críticos severos dos seus modos de vida, pelo fato de serem alheios à cultura e a sociedade.
Assim como a preocupação com o próprio sofrimento doloroso relativo ao seu ascetismo, tanto a saúde como a desencarnação, assim como o sofrimento doloroso dos seus semelhantes, representavam algo do qual os cínicos também almejavam se libertar. Em virtude disso, a palavra cinismo adquiriu a conotação que hoje em dia tem de indiferença e insensibilidade ao sentir e ao sofrer dos semelhantes, ou mesmo aquele que afronta ostensivamente as convenções e conveniências morais e sociais.
Por volta do século dezenove, a ênfase sobre os aspectos negativos da doutrina cínica levou ao entendimento moderno de cinismo a significar desfaçatez, tal como uma disposição de descrença na sinceridade ou bondade das motivações e ações humanas, e também como a caracterização de pessoas que desprezam as convenções sociais.
História da Filosofia


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quinta-feira, 26 de setembro de 2019

HISTÓRIA DA FILOSOFIA PARTE XIII - Introdução às obras Aristotélica: POLÍTICA


HISTÓRIA DA FILOSOFIA PARTE XIII - Introdução às obras Aristotélica: POLÍTICA
A política aristotélica é essencialmente unida à moral, porque o fim último do estado é a virtude, isto é, a formação moral dos cidadãos e o conjunto dos meios necessários para isso. O estado é um organismo moral, condição e complemento da atividade moral individual, e fundamento primeiro da suprema atividade contemplativa. A política, contudo, é distinta da moral, porquanto esta tem como objetivo o indivíduo, aquela a coletividade. A ética é a doutrina moral individual, a política é a doutrina moral social. Desta ciência trata Aristóteles precisamente na Política, de que acima se falou.
O estado, então, é superior ao indivíduo, porquanto a coletividade é superior ao indivíduo, o bem comum superior ao bem particular. Unicamente no estado efetua-se a satisfação de todas as necessidades, pois o homem, sendo naturalmente animal social, político, não pode realizar a sua perfeição sem a sociedade do estado.
Visto que o estado se compõe de uma comunidade de famílias, assim como estas se compõem de muitos indivíduos, antes de tratar propriamente do estado será mister falar da família, que precede cronologicamente o estado, como as partes precedem o todo. Segundo Aristóteles, a família compõe-se de quatro elementos: os filhos, a mulher, os bens, os escravos; além, naturalmente, do chefe a que pertence a direção da família. Deve ele guiar os filhos e as mulheres, em razão da imperfeição destes. Deve fazer frutificar seus bens, porquanto a família, além de um fim educativo, tem também um fim econômico. E, como ao estado, é-lhe essencial a propriedade, pois os homens têm necessidades materiais. No entanto, para que a propriedade seja produtora, são necessários instrumentos inanimados e animados; estes últimos seriam os escravos.
Aristóteles não nega a natureza humana ao escravo; mas constata que na sociedade são necessários também os trabalhos materiais, que exigem indivíduos particulares, a que fica assim tirada fatalmente a possibilidade de providenciar a cultura da alma, visto ser necessário, para tanto, tempo e liberdade, bem como aptas qualidades espirituais, excluídas pelas próprias características qualidades materiais de tais indivíduos. Daí a escravidão.
Vejamos, agora, o estado em particular. O estado surge, pelo fato de ser o homem um animal naturalmente social, político. O estado provê, inicialmente, a satisfação daquelas necessidades materiais, negativas e positivas, defesa e segurança, conservação e engrandecimento, de outro modo irrealizáveis. Mas o seu fim essencial é espiritual, isto é, deve promover a virtude e, consequentemente, a felicidade dos súditos mediante a ciência.
Compreende-se, então, como seja tarefa essencial do estado a educação, que deve desenvolver harmônica e hierarquicamente todas as faculdades: antes de tudo as espirituais, intelectuais e, subordinadamente, as materiais, físicas. O fim da educação é formar homens mediante as artes liberais, importantíssimas a poesia e a música, e não máquinas, mediante um treinamento profissional. Eis porque Aristóteles, como Platão, condena o estado que, ao invés de se preocupar com uma pacífica educação científica e moral, visa a conquista e a guerra. E critica, dessa forma, a educação militar de Esparta, que faz da guerra a tarefa precípua do estado, e põe a conquista acima da virtude, enquanto a guerra, como o trabalho, são apenas meios para a paz e o lazer sapiente.
Não obstante a sua concepção ética do estado, Aristóteles, diversamente de Platão, salva o direito privado, a propriedade particular e a família. O comunismo como resolução total dos indivíduos e dos valores no estado é fantástico e irrealizável. O estado não é uma unidade substancial, e sim uma síntese de indivíduos substancialmente distintos. Se se quiser a unidade absoluta, será mister reduzir o estado à família e a família ao indivíduo; só este último possui aquela unidade substancial que falta aos dois precedentes. Reconhece Aristóteles a divisão platônica das castas, e, precisamente, duas classes reconhece: a dos homens livres, possuidores, isto é, a dos cidadãos e a dos escravos, dos trabalhadores, sem direitos políticos.
Quanto à forma exterior do estado, Aristóteles distingue três principais: a monarquia, que é o governo de um só, cujo caráter e valor estão na unidade, e cuja degeneração é a tirania; a aristocracia, que é o governo de poucos, cujo caráter e valor estão na qualidade, e cuja degeneração é a oligarquia; a democracia, que é o governo de muitos, cujo caráter e valor estão na liberdade, e cuja degeneração é a demagogia. As preferências de Aristóteles vão para uma forma de república democrático-intelectual, a forma de governo clássica da Grécia, particularmente de Atenas. No entanto, com o seu profundo realismo, reconhece Aristóteles que a melhor forma de governo não é abstrata, e sim concreta: deve ser relativa, acomodada às situações históricas, às circunstâncias de um determinado povo. De qualquer maneira a condição indispensável para uma boa constituição, é que o fim da atividade estatal deve ser o bem comum e não a vantagem de quem governa despoticamente.
FAMILIA E EDUCAÇÃO
O Estado deve promover a família e a educação, legislando sobre as mesmas.
"Convém fixar o casamento das mulheres nos dezoito anos, e o dos homens nos trinta e sete, ou pouco menos. Assim a união será feita no momento do máximo vigor e os dois esposos terão um tempo pouco mais ou menos igual para educar a família, até que cessem a ser próprios à procriação" (Política, 4,c.14, § 6).

Com vistas à depuração social defende ainda:

"Quanto a saber quais os filhos que se devem abandonar ou educar, deve haver uma lei que proíba alimentar toda a criança disforme. Sobre o número dos filhos (porque o número dos nascimentos deve sempre ser limitado), se os costumes não permitem que os abandonem e se alguns casamentos são tão fecundos que ultrapassem o limite fixado de nascimentos, é preciso provocar o aborto, antes que o feto receba animação e a vida; com efeito, só pela animação e vida se poderá determinar se existe crime" (Política, 4,c.14, § 10).
Só modernamente se veio a saber melhor sobre a vida. Enquanto isto demorou, até moralistas cristãos admitiram o aborto antes da referida animação de que fala Aristóteles, como acontecida apenas em um estágio adiantado da gestação.
O grande Aristóteles, apesar de sua vida relativamente curta (62 anos) e da perda de seus livros mais literários e brilhantes, continua sempre grande.
Não se sabendo dizer se foi mesmo o maior filósofo dentre os até agora nascidos, certamente é Aristóteles ainda uma das cordilheiras mestras do pensamento humano.


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