Platão foi um dos maiores filósofo de todos os tempos. Sua filosofia sobre metafísica e humana a mais completa do que a de Aristóteles. Seus escritos em forma de diálogo são
de uma beleza incomparável em relação a qualquer outro filósofo que já tenha
existido. Uma analisar a filosofia platônica em seus principais aspectos, como
o mundo das Ideias, a psicologia, a existência de Deus, o domínio da opinião, a
moral e a política. A Ideia No começo, podemos definir a teoria das Ideias
dizendo que o mundo sensível é apenas uma cópia do mundo ideal, e que o objeto
da ciência é o mundo real das Ideias. O mundo inteligível é estudado na
dialética, e o mundo sensível é o domínio da opinião (DOXA). A existência do
mundo Ideal é baseada em duas provas, segundo Thonnard: uma de ordem lógica, e
outra de ordem ontológica. A prova lógica: Platão em nenhum momento põe em
dúvida a existência da ciência, que para ele é um fato indiscutível; então, é
necessário um objeto estável e permanente, que possa permanecer no espírito.
Ora, para Platão, esse objeto não se encontra no mundo sensível, pois ele
acredita, como Heráclito, que o mundo é “um infinito e perpétuo tecido de
movimentos”, onde “tudo passa como as águas das torrentes”, sendo que nada
permanece estável. Surge, então, a necessidade da ciência encontrar seu objeto:
o mundo inteligível das Ideias. Prova Ontológica: Thonnard diz que o mundo
sensível prova a existência do mundo ideal como sombra da realidade. Sabemos
disso pois os objetos desse mundo são mais ou menos perfeitos, e estas
participações supõem a existência de uma fonte que possui a perfeição em estado
pleno. Esse é o mundo inteligível, que é o objeto da ciência.
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quarta-feira, 14 de agosto de 2019
sexta-feira, 29 de março de 2019
Aristóteles - Filosofia Período Clássico
Aristóteles (384 - 322 a.C.), nasceu em Estágira, colônia de origem jônica encravada no reino da Macedônia. Filho de Nicômaco, médico do rei Amintas, gozou de circunstâncias favoráveis para seus estudos.
Em 367 a.C., aos seus 17 anos, foi enviado para a Academia de Platão em Atenas, na qual permanecerá por 20 anos, inicialmente como discípulo, depois como professor, até a morte do mestre em 347 a.C.O fato mesmo de ser filho de médico poderá ter dado a Aristóteles o gosto pelos conhecimentos experimentais e da natureza, ao mesmo tempo que teve sucesso como metafísico.
Depois da primeira estadia em Atenas, ausentou-se por 12 anos, com uma permanência inicial na Ásia menor, onde se dirigiu, ainda solteiro, para uma comunidade de platônicos estabelecida em Assos (Trôade). Ali reinava então sobre Assos e Atarneo, o tirano Hérmias, um eunuco, em cuja corte passou três anos. Casou então Aristóteles com Pítias, irmã de Hérmias. Morto este pelos persas, retirou-se Aristóteles para Mitilene. Depois do falecimento de Pítias, se casará com Hérpilis, da qual nascerá Nicômaco, a quem dedicará posteriormente o livro Ética a Nicômaco.
Entrementes, importantes transformações
estavam a ocorrer no mundo helênica, que então se unificou.
Felipe II (rei da Macedônia de 356 a 336 a.C.) desenvolveu o país e criou um exército poderoso. Sucessivamente foi anexando as cidades gregas, aproveitando as velhas discórdias, derrotando finalmente Atenas e Tebas, em Queronéia (338 a.C.). Reuniu as cidades gregas em uma liga, sob sua direção, no Congresso de Corinto (337 a.C.), pregando sempre a guerra contra o então grande Império Persa, que já há mais de um século ocupava as cidades gregas da Ásia Menor.
Ofereceu-se também uma nova oportunidade a Aristóteles, que foi chamado em 343 ou 342 para a corte do rei Felipe II, em Pela, como educador de seu filho Alexandre (356-323 a.C.). Mas ficou nesta função somente dois anos, depois dos quais aconteceu o totalmente inesperado, - o assassinato do rei Felipe II.
Foi assim que já cedo o jovem Alexandre deveu assumir o trono, em 336 a.C., com apenas 20 anos. Atravessando o Bósforo, partiu em 334 a.C. para a conquista do império persa. Foi de um sucesso espetacular, vencendo a Dario, na Batalha de Granico. Completou sua façanha, indo até a Índia. Estabeleceu sua capital em Babilônia. No Egito fundou a Alexandria, que logo passou à ser um grande centro de cultura. Estava mudada a estrutura política do então mundo conhecido, o que não demoraria a ter repercussão na filosofia.
Sem função na Macedônia, voltou Aristóteles para Atenas, pelo ano 335 a. C., com Teofrasto, outro homem notável pelo saber.
Auxiliado sempre por Alexandre que o prestigiava, Aristóteles fundou o Liceu (cerca de 334 a.C.) no ginásio do templo de Apolo Liceu (Liceu é referência ao local do templo). Onde criou escola própria no ginásio Apolo Liceu.
Em pouco mais de dez anos de atividade, fez Aristóteles de sua escola um centro de adiantados estudos, em que os mestres se distribuiam por especialidades, inclusive em ciências positivas.
Felipe II (rei da Macedônia de 356 a 336 a.C.) desenvolveu o país e criou um exército poderoso. Sucessivamente foi anexando as cidades gregas, aproveitando as velhas discórdias, derrotando finalmente Atenas e Tebas, em Queronéia (338 a.C.). Reuniu as cidades gregas em uma liga, sob sua direção, no Congresso de Corinto (337 a.C.), pregando sempre a guerra contra o então grande Império Persa, que já há mais de um século ocupava as cidades gregas da Ásia Menor.
Ofereceu-se também uma nova oportunidade a Aristóteles, que foi chamado em 343 ou 342 para a corte do rei Felipe II, em Pela, como educador de seu filho Alexandre (356-323 a.C.). Mas ficou nesta função somente dois anos, depois dos quais aconteceu o totalmente inesperado, - o assassinato do rei Felipe II.
Foi assim que já cedo o jovem Alexandre deveu assumir o trono, em 336 a.C., com apenas 20 anos. Atravessando o Bósforo, partiu em 334 a.C. para a conquista do império persa. Foi de um sucesso espetacular, vencendo a Dario, na Batalha de Granico. Completou sua façanha, indo até a Índia. Estabeleceu sua capital em Babilônia. No Egito fundou a Alexandria, que logo passou à ser um grande centro de cultura. Estava mudada a estrutura política do então mundo conhecido, o que não demoraria a ter repercussão na filosofia.
Sem função na Macedônia, voltou Aristóteles para Atenas, pelo ano 335 a. C., com Teofrasto, outro homem notável pelo saber.
Auxiliado sempre por Alexandre que o prestigiava, Aristóteles fundou o Liceu (cerca de 334 a.C.) no ginásio do templo de Apolo Liceu (Liceu é referência ao local do templo). Onde criou escola própria no ginásio Apolo Liceu.
Em pouco mais de dez anos de atividade, fez Aristóteles de sua escola um centro de adiantados estudos, em que os mestres se distribuiam por especialidades, inclusive em ciências positivas.
Falecido Alexandre prematuramente em 323 a.C., com apenas 13 anos de
reinado, recrudeceu o sentimento antimacedônico em Atenas, com Demóstenes
ativando o partido nacionalista, a situação se tornou difícil para
Aristóteles.
Além disto, sua filosofia de ideias objetivas não poderia escapar à reação do sacerdote Eurimedote, que o acusava de impiedade. Teve, então, Aristóteles de optar por retirar-se de Atenas, deixando o Liceu sob a direção de Teofrasto.
Oculto em uma sua propriedade em Cálcis, de Eubea, ali morreu já no ano seguinte aos 62 anos. Mas o Liceu teve continuidade, como também a Academia de Platão
Uma notícia diz que Aristóteles, o mais ilustre dos discípulos de Platão, "tinha a voz débil, pernas delgadas e olhos pequenos; que vestia sempre com esmero, levava anéis e cortava a barba".
A estátua, que dele se conserva, o apresenta com a testa e a cabeça menor, que a de Platão; cabelo aparado, sem ser calvo como Sócrates; barba não alongada; boca pequena, entre lábios finos. Tal foi o maior dos mestres.
O nome Escola Peripatética derivou do uso de Aristóteles haver dado lições em amena palestra, ao mesmo tempo que passeava pelos caminhos do ginásio.
Além disto, sua filosofia de ideias objetivas não poderia escapar à reação do sacerdote Eurimedote, que o acusava de impiedade. Teve, então, Aristóteles de optar por retirar-se de Atenas, deixando o Liceu sob a direção de Teofrasto.
Oculto em uma sua propriedade em Cálcis, de Eubea, ali morreu já no ano seguinte aos 62 anos. Mas o Liceu teve continuidade, como também a Academia de Platão
Uma notícia diz que Aristóteles, o mais ilustre dos discípulos de Platão, "tinha a voz débil, pernas delgadas e olhos pequenos; que vestia sempre com esmero, levava anéis e cortava a barba".
A estátua, que dele se conserva, o apresenta com a testa e a cabeça menor, que a de Platão; cabelo aparado, sem ser calvo como Sócrates; barba não alongada; boca pequena, entre lábios finos. Tal foi o maior dos mestres.
O nome Escola Peripatética derivou do uso de Aristóteles haver dado lições em amena palestra, ao mesmo tempo que passeava pelos caminhos do ginásio.
OBRAS DE ARISTÓTELES
Obras de Lógica ou Organon: incluem Categorias, Sobre a Interpretação,
os Analíticos ( Primeiros e Segundos) e os Tópicos.
Obras sobre física e a concepção do universo: compreendem Física, Sobre o Céu, Sobre a Geração e a Corrupção e Meteorológicos.
Obras psicológicas e biológicas: abrangem Sobre a Alma, além de pequenos textos reunidos sobre o título de Parva Naturalia e História dos Animais ( com partes de autoria duvidosa).
Tratados de metafísica: Andronico denominou Metafísica (literalmente "depois da física) a estas partes dos apontamentos de Aristóteles.
Obras ético-políticas: compreendem a Ética a Eudemo (organizados por Eudemo, discípulo de Aristóteles), a Ética a Nicómaco (organizada por Nicómaco, filho de Aristóteles), a Grande Moral ( de autoria duvidosa), a Política e a Constituição de Atenas.
Obras sobre a linguagem e a estética: incluem a Retórica e Poética.
Principais Domínios de Investigação
Toda a sua filosofia assenta numa observação minuciosa da natureza, da
sociedade e dos indivíduos, organizando de uma forma verdadeiramente
enciclopédica. A sua ideia fundamental era a de tudo classificar, dividindo as
coisas segundo a sua semelhança ou diferença, obedecendo a um conjunto de
perguntas muito simples: Como é esta coisa ? (o género). O que é que a difere
doutras que lhe são semelhantes? ( a diferença). A partir daqui começava a
hierarquizar todas as coisas, de uma forma tão ordenada que até então nunca
ninguém conseguira fazer.
Lógica: o primeiro sistema lógico, que permitiu estabelecer um conjunto de princípios e regras formais por meio das quais se tornou possível distinguir as conclusões falsas das exactas. Na Idade Média os seus escritos sobre lógica foram os manuais mais importantes usados nas universidades, sobretudo na forma que lhes deu o filósofo português Pedro Hispano ( Papa João XXI).
Física: a física era a chave da natureza das coisas, não apenas da forma como se comportavam no presente, mas também no que potencialmente viriam a transformar-se. Quanto à constituição das coisas defendia a teoria dos quatro elementos: água, terra, fogo e ar. Os corpos celestes, com excepção da terra, eram constituídos por um quinto elemento puro e incorruptível. O universo é concebido de forma hierarquizada, tendo no centro a terra, girando à sua volta todos os corpos celestes.
Biologia: recusando a separação das ideias da natureza, como fazia Platão, Aristóteles, apontou como tarefa para o investigador a de descobrir e classificar as formas do mundo material. Os últimos 12 anos da sua vida foram preenchidos com esta tarefa. Partindo de uma observação sistemática dos seres vivos, e não desdenhando estudar vermes ou insetos, registou perto de 500 classes diferentes de animais, dos quais dissecou aproximadamente 50 tipos. Foi o primeiro que dividiu o mundo animal entre vertebrados e invertebrados; sabia que a baleia não era um peixe e que o morcego não era um pássaro, mas que ambos eram mamíferos.
Política: a sua primeira preocupação foi a elaborar uma listagem tão completa quanto possível sobre os diferentes modelos políticos que existiam no seu tempo. Enumerou um total de 158 constituições de cidades ou países diferentes. Partindo da sua diversidade procurou depois as suas semelhanças e diferenças, pondo em evidência o que constituía a natureza de cada regime. Evitou, quanto pode, mostrar as suas preferências por um ou outro regime político.
Animal
político Expressão utilizada por Aristóteles ao definir o homem como
"zoôn politikón" ("animal político"). Queria dizer que, por
oposição aos outros seres vivos, o homem é um animal destinado, por sua
natureza, a viver na *cidade (na pólis), o que não implica que tenha um gosto
natural pelas lutas eleitorais ou pelas discussões políticas no sentido que
lhes damos hoje.
Ebook com 26 Páginas sobre Aristóteles |
Síntese sobre Metafísica 11:46 duração |
- A Política
- Metafísica. Grego e Português [Edição de Giovanni Reale. 2V.] – 32 MB
- Obras Completas Vol. I-I – Introdução geral
- Obras Completas Vol. III-I – Sobre a Alma
- Obras Completas Vol. II-III – Sobre a geração e a corrupção
- Obras Completas Vol. I-V – Tópicos
- Obras Completas Vol. IV-I – História dos animais Livros I-VI
- Obras Completas Vol. IV-II – História dos animais Livros VII-X
- Aristóteles v.1 – Coleção os pensadores (1987)
- Arte Poética
- Coleção Os Pensadores – Aristóteles Vol. I (1987)
- Coleção Os Pensadores – Aristoteles Vol. II (1987)
- Mário Ferreira dos Santos – Aristoteles e as Mutações
- Metafísica, Poética e Ética a Nicômaco
- Tomás de Aquino – Comentário à Metafísica de Aristóteles
- Organon: Categorias * Da Interpretação * Analíticos * Tópicos / Edipro 2005 (28 MB)
Platão - Filosofia Período Clássico
Platão (430 - 347)
a.C.
Platão
fundou a Academia de Atenas, escola onde estudou Aristóteles. Escreveu sobre
diversos temas como epistemologia, metafísica, ética e política. Em seus
diálogos um dos personagens frequente é Sócrates de quem Platão foi discípulo.
Em muitos momentos é difícil dividir o pensamento dos dois filósofos.
Em
seus diálogos Platão utiliza diversos personagens históricos como Górgias,
Parmênides e Sócrates para através de suas falas expor suas teorias
filosóficas. Uma de suas teorias mais conhecidas é a das Ideias em que afirma
que o mundo que conhecemos através dos cinco sentidos, o mundo sensível, é um
mundo imperfeito e falho, mera sombra do real mundo das ideias. O Mundo das
Ideias é muito superior ao mundo sensível. O mundo que sentimos é somente uma
cópia apagada do mundo das ideias pois as ideias são únicas e imutáveis e as
coisas do mundo sensível estão constantemente mudando. Esse pensamento aparece
no livro República e é conhecida como Mito da Caverna. Para Platão a única
forma para conhecermos a realidade inteligível é através da razão pois os nosso
sentidos podem nos enganar.
Ele divide o mundo
em três partes, na primeira estão os objetos perceptíveis pelos sentidos. Na
segunda estão as coisas que não podem ser percebidas pelos sentidos mas podem
ser entendidos pelo espírito humano como a matemática e a geometria. Na
terceira parte de sua divisão Platão coloca as ideias superiores como a virtude
e a justiça que somente podem ser conhecidas pela inteligência através da
utilização de outras ideias.
Platão
escreveu ainda sobre diversos assuntos como a melhor forma de governo e sobre o
Estado, para ele a sociedade deveria ser dividida em três partes que
correspondem e se relacionam com a alma dos indivíduos. A primeira parte é a
vontade ou o apetite e corresponde aos trabalhadores braçais. A segunda parte é
a do espírito e é relacionada aos guerreiros e aventureiros que tem que ser
destemidos, fortes e espirituosos. A terceira parte é reservada aos filósofos e
aos governantes, é a parte da razão e é reservada aos inteligentes e racionais,
qualidades essas mais apropriadas para indivíduos que vão tomar decisões
representando toda sociedade. É portanto a razão e a sabedoria que devem governar,
os filósofos devem governar como reis ou os reis devem ser filósofos para
governar com racionalidade.
Em
seu escrito A República Platão descreve a maneira que se pode passar de um
regime político a outro e classifica os regimes de governo em cinco formas: 1-
O governo dos filósofos ou aristocracia que ele define como o governo dos mais
capazes. Esse é para ele o regime perfeito pois corresponde ao ideal do
filósofo rei que reúne poder e sabedoria em uma só pessoa. Esse regime é
seguido por quatro regimes imperfeitos: 2- A timocracia, regime fundamentado
sobre a honra; 3- Oligarquia, fundamentado sobre a riqueza; 4- Democracia que
se fundamenta sobre a ideia de igualdade e 5- Tirania que se funda no desejo do
tirano e representa o fim da política porque nele são abolidas as leis.
Sobre
Epistemologia Platão elabora a teoria da reminiscência segundo a qual aprender
é recordar-se. Para ele as ideias são imutáveis, eternas, incorruptíveis e não
criadas, estas ideias estão hospedadas no hiperurânio que está localizado num
mundo suprasensível. Esse mundo é parcialmente visível para as almas que estão
desligadas do próprio corpo. Quando nossa alma estava desligada do nosso corpo
ela viu e conheceu as ideias do hiperurânio e quando entraram novamente em um
corpo, reencarnando-se, nossa alma esqueceu a visão que teve das ideias. O
trabalho do filósofo é fazer com que as pessoas recordem dessas ideias através
do diálogo. Mas é impossível aos seres humanos conhecer completamente o mundo
das ideias que é acessível somente aos desuses, o melhor conhecimento a que os
humanos conseguem atingir é o conhecimento filosófico, o amor pelo saber e a
incansável busca da verdade. Para Platão o homem tem necessidade de
conhecimento e ele não teria necessidade de conhecimento se não tivesse visto
nunca esse conhecimento. O homem busca o conhecimento porque ele não o tem
mais, porque ele o perdeu.
O mito é uma forma
de conhecimento inferior à filosofia porque é baseado sobre a intuição que não
tem como ser demonstrada. E a ciência é um saber inferior porque necessita ser
demonstrada e porque é baseada sobre hipóteses, mas na falta de conhecimentos
melhores mesmo o mito e a ciência são conhecimentos que podem ser utilizados
pelos filósofos para alcançar as ideias. O único conhecimento que o filósofo
não pode aceitar é a opinião.
Na
questão ética Platão liga beleza e bondade, tudo aquilo que é belo é também
verdadeiro e bom e vice-versa. É a beleza das ideias que atraem a inteligência
do filósofo e o bem, também por ser belo, atrai a sabedoria.
O
amor para Platão é uma forma de delírio divino que se manifesta no afeto à uma
pessoa a um objeto ou até mesmo à uma ideia. Esse afeto é acompanhado da ideia
de que a satisfação desse desejo pode ser uma forma de elevar a existência. Ele
distingue o amor através das suas diferentes finalidades condenando o amor
carnal e exaltando o amor pela sabedoria que é expresso pela filosofia que
contempla o verdadeiro belo. O amor é o desejo de beleza e ela é desejada
porque ela é o bem que torna as pessoas felizes. A primeira beleza que aparece
é a beleza do corpo, em seguida vem a beleza de todos os corpos, acima dela
está a beleza da alma que é inferior à beleza das leis e das organizações
humanas, acima dela está a beleza das ciências e acima de tudo está a ideia de
beleza, é a beleza em si que é eterna e fundamenta todas as outras belezas. O
amor é ainda insuficiência pois ele deseja qualquer coisa que não tem e ele
deseja essa coisa porque ele precisa dessa coisa e se ele precisa de algo é
porque ele é imperfeito.
Outro
ponto importante da filosofia de Platão é a questão da justiça pois para ele
nenhuma sociedade pode manter-se sem justiça. A justiça é o que fundamenta o
estado e ela acontece quando os cidadãos pertencentes a um estado cumprem a
tarefa que pertence a cada um deles. A justiça é o que une o estado, ela é a
união do indivíduo com o estado. Para que o estado seja justo devem ser
cumpridas duas condições, a primeira é a eliminação da riqueza e da pobreza e a
segunda é o fim da vida familiar dando às mulheres igualdade de participação no
estado. Os filhos seriam criados pelo estado que assim seria uma única e grande
família.
Platão
acreditava que o papel do filósofo é amar conhecer todas as coisas e não
somente algumas coisas e somente é possível conhecer as coisas que são pois o
que não é, não é também cognoscível. O ser é a ciência que é o verdadeiro
conhecimento e o não ser é a ignorância. A opinião é o meio termo entre o conhecimento
e a ignorância. A arte imitativa, como a pintura e a poesia, são condenáveis
por serem somente ilusões. A pintura representa uma imitação de uma pequena
parte da aparência dos objetos e a poesia vai representar somente uma parte da
alma que são as emoções. Ambas são imitações incompletas e de pouco valor.
Sentenças :
- Buscando o bem de
nossos semelhantes encontramos o nosso.
- Cada lágrima nos
ensina uma verdade.
- Quando a multidão
exerce a autoridade, ela é mais cruel do que os tiranos.
- Existe somente um
tipo de virtude, de maldades existem muitos tipos.
- Onde reina o
amor, sobram as leis.
- O corpo é a
prisão da alma.
- O homem sábio vai
querer estar sempre com quem seja melhor que ele.
- Aquele que
aprende e não pratica o que sabe é como o que ara e não semeia.
- Frio e enfadonho
é o consolo que não vem acompanhado de algum remédio.
- A conquista
própria é a maior das vitórias.
- Filosofia é a
ciência dos homens livres.
- Liberdade é ser
dono da própria vida.
- A música é para a
alma o que a ginástica é para o corpo.
- A pobreza não vem
da diminuição das riquezas, mas da multiplicação dos desejos.
- Os amigos se
convertem com frequência em ladrões do nosso tempo.
- Um dos castigos
por recusarmos a participar da política é que seremos governados por homens
inferiores a nós.
- Não conheço um
caminho infalível para chegar ao sucesso, mas existe um caminho seguro para o
fracasso: querer contentar a todos.
- Somente os mortos
viram o fim da guerra.
- Uma vida sem pesquisa
não é digna de ser vivida pelo homem.
Principais obras
Fédon
Dois temas são fundamentais nesta obra, cuja elaboração estima-se em
aproximadamente 387 a.C.: a imortalidade da alma e o modo como um homem sábio
encara a morte. O diálogo se passa em Fliunte, uma cidade de Sícon, no nordeste
do Peloponeso, na Grécia, um dos mais importantes centros do pitagorismo. As
personagens são Fédon de Élis, discípulo de Sócrates, Símias e Cebes,
originários de Tebas, onde foram discípulos do pitagórico Filolau Críton, um
rico ateniense e amigo de Sócrates e Equécrates, a quem Fédon conta a morte de
Sócrates. Assim, a estrutura do diálogo se dá em alguns temas que perpassam o
diálogo, que consiste em se discutir a visão da morte como libertação,
discutindo-se a relação entre corpo e alma, e sobre a existência da alma em
relação ao corpo, a teoria das ideias, a degradação na alma nas sucessivas
reencarnações, e no epílogo a última mensagem de Sócrates.
Banquete
Essa obra, de cerca de 380 a.C., pode ser tida como uma resposta de
Platão às acusações da cidade contra a filosofia. Platão narra uma festividade
na casa de Agaton. Estavam presentes a esse banquete, entre outras pessoas,
Aristodemo, amigo e discípulo de Sócrates; Fedro, o jovem retórico; Pausânias;
o médico Eriximaco; Aristófanes, o comediante que ridicularizava Sócrates, e o
político Alcibíades. E também o velho Sócrates. O exagero cometido na festa do
dia anterior, sobretudo o excesso de bebida, fatigara os convidados de Agaton.
Pausânias propôs então que, em lugar de beber, ficassem ali a conversar, a
discutir ou que cada um fizesse algo “diferente”.
Essa proposta de Pausânias foi aceita por todos. Ao que Eriximaco
acrescentou que se fizessem elogios a Eros, assim os convidados deveriam fazer
um discurso para louvar o amor. Pausânias, ao afirmar que há mais de um Eros,
dividido entre bem e mal, real e divino, é o primeiro a discursar; Eriximaco, o
segundo, aponta como o amor não exerce influência apenas nas almas, mas que dá
também a harmonia ao corpo; Aristófanes, então, toma a palavra, demarcando que
o amor é o desejo e a procura da metade perdida por causa da nossa injustiça
contra os deuses, Agaton, o anfitrião e o último dos elogiosos ao amor, não se
propõe enaltecer os benefícios que Eros faz ao homem, mas sim cantar o próprio
deus e a sua essência, passando em seguida a descrever-lhe o dote.
Após toda essa longa lista de virtudes atribuídas a Eros, nota-se o
quanto o poeta se distancia de sua proposta inicial e de seu preceito
metodológico; Sócrates, um dos presentes, propõe dialogar sobre a definição do
amor. Expõe como Diotima lhe ensinou a genealogia do amor e chega ao
apontamento crucial sobre o conceito de amor: o que se ama é somente aquilo que
não se tem. A verdade é algo que está sempre mais além, inquietação que faz do
amor um filósofo.
A
República
A República (Politeia), de cerca de 375 a.C., é o diálogo mais célebre
de Platão, o mais lido e o mais comentado ao longo da história. Nele é
discutida a questão do tempo, e de como impedir que a cidade, já não mais
afeita a uma tradição aceita por todos, seja capaz de se submeter ao princípio
da discussão sem deslizar nos caprichos dos interesses particulares e da
dispersão. A República contém diversos temas filosóficos, sociais e políticos
entrelaçados.
A questão chave é a da justiça em seu sentido amplo, oportunidade que
Platão aproveita para tecer comentários sobre a educação e o tema genérico do
conhecimento das coisas. O livro 1 goza de certa independência, sendo que os
demais (ao todo são 10), tratam de temas variados: A formação das lideranças
(os guardiões) está presente nos livros 2, 3, 4, 5 e 6; a formação dos
governantes, classe especial dos guardiões, nos livros 6 e 7; uma vez
compreendida a tarefa pública, Platão a compara com o que acontece nas cidades
existentes (livro 8I); diante do desafio de Trasímaco ao tratar das
conveniências da tirania (livro 9), Platão encerra (livro 10) com a proposição
de um mito, tratando da importância da arte, do destino e da liberdade.
Teeteto
Diálogo platônico sobre a natureza do conhecimento. Escrito nos meados
de 369 a.C, nele aparece, talvez pela primeira vez explicitamente na filosofia,
o confronto entre verdade e relativismo. Desse diálogo provém uma definição
tradicional do conhecimento como crença verdadeira justificada. Os personagens
principais no diálogo são Sócrates, Teodoro de Cirene e o matemático Teeteto.
Há ainda dois personagens que aparecem apenas do início do diálogo: Terpsião e
Euclides.
A obra está dividida em três partes, cada uma com momentos do debate
entre Sócrates e Teeteto, as duas principais figuras desse diálogo. Platão
pretende, através dele, provar que é possível chegar ao conhecimento através da
razão, e não pela subjetividade gnoseológica dos sofistas, que afirmavam que os
sentidos determinam o conhecimento. Assim, Sócrates rechaça as quatro teses de
Teeteto: de que o saber não pode ser definido mediante exemplos; de que ele não
é percepção, nem opinião verdadeira, e nem uma explicação acompanhada de
opinião verdadeira. Sócrates rebate esses argumentos de um ponto de vista
crítico, formulando questões sobre as suas teses, sem se chegar a um conceito
definido.
quinta-feira, 28 de março de 2019
Sócrates - Filosofia Período Clássica
Sócrates (470
a.C.-399 a.C.) foi um filósofo grego. “Conhece-te a ti mesmo” é a essência de todo seu ensinamento. O saber, de
acordo com Sócrates é uma virtude.
Sócrates nasceu em Atenas, Grécia, no ano de 470 a.
C. Filho de um escultor e pedreiro e de uma parteira, da sua
infância nada se sabe. Em sua juventude, tomou parte de três campanhas
militares. Apesar de ter ocupado cargos políticos, chegando a receber convite
para o Senado dos quinhentos, suas ideias não foram aceitas pela aristocracia
grega. Dedicou-se ao estudo da filosofia.
Homem feito, Sócrates chamava atenção não só pela
sua inteligência, mas também pela estranheza de sua figura e seus hábitos.
Corpulento, baixo, nariz chato, olhos saltados, vestes rotas, pés descalços,
vagava pelas ruas de Atenas e costumava passar horas, mergulhado em seus
pensamentos. Quando não estava meditando solitário, conversava com seus
discípulos, procurando ajudá-los na busca da verdade.
Antes de Sócrates surgir no panorama intelectual da
Grécia, os filósofos estavam voltados para a explicação natural do universo,
fase que ficou conhecida como “pré-socrática”. No final do século V a. C.
iniciou-se a segunda fase da filosofia grega, conhecida como
"socrática" ou antropológica, onde a preocupação de maior vulto se
relacionava com o indivíduo e a organização da humanidade. Passaram a perguntar:
O que é a verdade? O que é o bem? O que é a justiça?
As
ideias de Sócrates
Para Sócrates sua maior ambição era ser não somente
um mestre, mas um benfeitor da humanidade. Desejava ver a justiça social
estabelecida em todo o mundo. Tratava dos negócios alheios e esquecia os seus.
Sua mulher, Xantipa, dizia que ele era um deus para os jovens atenienses.
Sócrates tinha um meio característico de expressar suas ideias. A fim de
transmitir o saber, jamais respondia a perguntas, pelo contrário, fazia
perguntas.
Segundo alguns autores, o aforismo “Conhece-te a ti
mesmo, torna-te consciente de tua ignorância e serás sábio” é de autoria de
Sócrates, mas segundo Platão, quando Sócrates ouviu que era o homem mais sábio
que existia, respondeu: “Só sei que nada sei”. Sócrates afirmava com
insistência que nada sabia. “Sou o homem mais sábio de Atenas, porque só eu sei
que nada sei”, dizia ele. Por isso tentava aprender de todos.
Sócrates criou um método de investigação do
conhecimento através da maiêutica - técnica de trazer a luz, no qual, por
meio de sucessivas questões se chegava à verdade. Esse caminho usado por
Sócrates era um verdadeiro “parto”, onde ele induzia os seus discípulos a
praticarem mentalmente a busca da verdade última.
Política e moral eram temas frequentes em Atenas.
Sócrates achava que a Polis grega deveria ser governada por aqueles que
detinham o conhecimento, uma espécie de “aristocracia dos sábios”. O filósofo
não era a favor da democracia grega como era praticada em Atenas. Teceu severas
críticas às crenças religiosas e aos costumes da cultura grega
Sócrates
e Platão
Sócrates não deixou nada escrito, apenas conhecemos
seus ensinamentos através de seus discípulos, especialmente por Platão, que
transcreveu os pensamentos do mestre em seus célebres diálogos, mesclando-lhes
às suas concepções pessoais. Nas obras, Apologia de Sócrates e Fédon, Platão
faz a defesa de seu mestre diante dos juízes e relata os últimos momentos de
sua vida. No diálogo Mênon, Platão mostra um exemplo clássico da aplicação da
maiêutica, quando Sócrates leva um escravo ignorante a descobrir e formular
vários teoremas de geometria.
A
Morte de Sócrates
Os políticos de Atenas não gostavam de seu método
de fazê-los parar na rua para dirigir-lhes perguntas embaraçantes. E então se
reuniram e resolveram se livrar de Sócrates. Certo dia, quando chegava ao
mercado para seu cotidiano debate filosófico, encontrou o seguinte aviso,
colocado na tribuna pública: “Sócrates é criminoso. É ateu e corruptor da
mocidade. A pena de seu crime é a morte”. Sócrates foi preso e julgado por um
júri que reunia todos aqueles políticos cuja hipocrisia denunciara nas
praças públicas. Os juízes o consideraram culpado. Quando lhe perguntaram qual
deveria ser a sua punição, ele sorriu sarcasticamente e disse: “pelo que fiz
por vós e pela vossa cidade, mereço ser sustentado até o fim de minha vida a
expensas públicas”.
Sócrates foi obrigado a acabar a vida como um
criminoso. Durante trinta dias ficou em uma cela funerária e depois lhe deram
para beber uma taça de veneno. Quando sentiu que seus membros esfriavam,
despediu-se dos amigos e parentes com as palavras: “E agora chegamos à encruzilhada
dos caminhos. Vós, meus amigos, ides para vossas vidas, eu para a minha morte.
Qual seja o melhor desses caminhos, só Deus sabe”.
Sócrates morreu em Atenas, Grécia, no ano de 399 a.
C.
Método de Sócrates
É a parte polêmica. Insistindo no perpétuo fluxo das coisas e na variabilidade extrema das impressões sensitivas determinadas pelos indivíduos que de contínuo se transformam, concluíram os sofistas pela impossibilidade absoluta e objetiva do saber. Sócrates restabelece-lhe a possibilidade, determinando o verdadeiro objeto da ciência.
O objeto da ciência não é o sensível, o particular, o indivíduo que passa; é o inteligível, o conceito que se exprime pela definição. Este conceito ou ideia geral obtém-se por um processo dialético por ele chamado indução e que consiste em comparar vários indivíduos da mesma espécie, eliminar-lhes as diferenças individuais, as qualidades mutáveis e reter-lhes o elemento comum, estável, permanente, a natureza, a essência da coisa. Por onde se vê que a indução socrática não tem o caráter demonstrativo do moderno processo lógico, que vai do fenômeno à lei, mas é um meio de generalização, que remonta do indivíduo à noção universal.
Praticamente, na exposição polêmica e didática destas ideias, Sócrates adotava sempre o diálogo, que revestia uma dúplice forma, conforme se tratava de um adversário a confutar ou de um discípulo a instruir. No primeiro caso, assumia humildemente a atitude de quem aprende e ia multiplicando as perguntas até colher o adversário presunçoso em evidente contradição e constrangê-lo à confissão humilhante de sua ignorância. É a ironia socrática. No segundo caso, tratando-se de um discípulo (e era muitas vezes o próprio adversário vencido), multiplicava ainda as perguntas, dirigindo-as agora ao fim de obter, por indução dos casos particulares e concretos, um conceito, uma definição geral do objeto em questão. A este processo pedagógico, em memória da profissão materna, denominava ele maiêutica ou engenhosa obstetrícia do espírito, que facilitava a parturição das ideias.
Doutrinas Filosóficas
A introspecção é o característico da filosofia de Sócrates. E exprime-se no famoso lema conhece-te a ti mesmo - isto é, torna-te consciente de tua ignorância - como sendo o ápice da sabedoria, que é o desejo da ciência mediante a virtude. E alcançava em Sócrates intensidade e profundidade tais, que se concretizava, se personificava na voz interior divina do gênio ou demônio.
Como é sabido, Sócrates não deixou nada escrito. As notícias que temos de sua vida e de seu pensamento, devemo-las especialmente aos seus dois discípulos Xenofonte e Platão, de feição intelectual muito diferente. Xenofonte, autor de Anábase, em seus Ditos Memoráveis, legou-nos de preferência o aspecto prático e moral da doutrina do mestre. Xenofonte, de estilo simples e harmonioso, mas sem profundidade, não obstante a sua devoção para com o mestre e a exatidão das notícias, não entendeu o pensamento filosófico de Sócrates, sendo mais um homem de ação do que um pensador. Platão, pelo contrário, foi filósofo grande demais para nos dar o preciso retrato histórico de Sócrates; nem sempre é fácil discernir o fundo socrático das especulações acrescentadas por ele. Seja como for, cabe-lhe a glória e o privilégio de ter sido o grande historiador do pensamento de Sócrates, bem como o seu biógrafo genial. Com efeito, pode-se dizer que Sócrates é o protagonista de todas as obras platônicas embora Platão conhecesse Sócrates já com mais de sessenta anos de idade.
"Conhece-te a ti mesmo" - o lema em que Sócrates cifra toda a sua vida de sábio. O perfeito conhecimento do homem é o objetivo de todas as suas especulações e a moral, o centro para o qual convergem todas as partes da filosofia. A psicologia serve-lhe de preâmbulo, a Teodicéia de estímulo à virtude e de natural complemento da ética.
Em psicologia, Sócrates professa a espiritualidade e imortalidade da alma, distingue as duas ordens de conhecimento, sensitivo e intelectual, mas não define o livre arbítrio, identificando a vontade com a inteligência.
Em Teodicéia, estabelece a existência de Deus: a) com o argumento teológico, formulando claramente o princípio: tudo o que é adaptado a um fim é efeito de uma inteligência; b) com o argumento, apenas esboçado, da causa eficiente: se o homem é inteligente, também inteligente deve ser a causa que o produziu; c) com o argumento moral: a lei natural supõe um ser superior ao homem, um legislador, que a promulgou e sancionou. Deus não só existe, mas é também Providência, governa o mundo com sabedoria e o homem pode propiciá-lo com sacrifícios e orações. Apesar destas doutrinas elevadas, Sócrates aceita em muitos pontos os preconceitos da mitologia corrente que ele aspira reformar.
Moral. É a parte culminante da sua filosofia. Sócrates ensina a bem pensar para bem viver. O meio único de alcançar a felicidade ou semelhança com Deus, fim supremo do homem, é a prática da virtude. A virtude adquiri-se com a sabedoria ou, antes, com ela se identifica. Esta doutrina, uma das mais características da moral socrática, é consequência natural do erro psicológico de não distinguir a vontade da inteligência. Conclusão: grandeza moral e penetração especulativa, virtude e ciência, ignorância e vício são sinônimos. "Se músico é o que sabe música, pedreiro o que sabe edificar, justo será o que sabe a justiça". Sócrates reconhece também, acima das leis mutáveis e escritas, a existência de uma lei natural - independente do arbítrio humano, universal, fonte primordial de todo direito positivo, expressão da vontade divina promulgada pela voz interna da consciência.
Sublime nos lineamentos gerais de sua ética, Sócrates, em prática, sugere quase sempre a utilidade como motivo e estímulo da virtude. Esta feição utilitarista empana-lhe a beleza moral do sistema.
Gnosiologia
O interesse filosófico de Sócrates volta-se para o mundo humano, espiritual, com finalidades práticas, morais. Como os sofistas, ele é cético a respeito da cosmologia e, em geral, a respeito da metafísica; trata-se, porém, de um ceticismo de fato, não de direito, dada a sua revalidação da ciência. A única ciência possível e útil é a ciência da prática, mas dirigida para os valores universais, não particulares. Vale dizer que o agir humano - bem como o conhecer humano - se baseia em normas objetivas e transcendentes à experiência. O fim da filosofia é a moral; no entanto, para realizar o próprio fim, é mister conhecê-lo; para construir uma ética é necessário uma teoria; no dizer de Sócrates, a gnosiologia deve preceder logicamente a moral. Mas, se o fim da filosofia é prático, o prático depende, por sua vez, totalmente, do teorético, no sentido de que o homem tanto opera quanto conhece: virtuoso é o sábio, malvado, o ignorante. O moralismo socrático é equilibrado pelo mais radical intelectualismo, racionalismo, que está contra todo voluntarismo, sentimentalismo, pragmatismo, ativismo.
A filosofia socrática, portanto, limita-se à gnosiologia e à ética, sem metafísica. A gnosiologia de Sócrates, que se concretizava no seu ensinamento dialógico, donde é preciso extraí-la, pode-se esquematicamente resumir nestes pontos fundamentais: ironia, maiêutica, introspecção, ignorância, indução, definição. Antes de tudo, cumpre desembaraçar o espírito dos conhecimentos errados, dos preconceitos, opiniões; este é o momento da ironia, isto é, da crítica. Sócrates, de par com os sofistas, ainda que com finalidade diversa, reivindica a independência da autoridade e da tradição, a favor da reflexão livre e da convicção racional. A seguir será possível realizar o conhecimento verdadeiro, a ciência, mediante a razão. Isto quer dizer que a instrução não deve consistir na imposição extrínseca de uma doutrina ao discente, mas o mestre deve tirá-la da mente do discípulo, pela razão imanente e constitutiva do espírito humano, a qual é um valor universal. É a famosa maiêutica de Sócrates, que declara auxiliar os partos do espírito, como sua mãe auxiliava os partos do corpo.
Esta interioridade do saber, esta intimidade da ciência - que não é absolutamente subjetivista, mas é a certeza objetiva da própria razão - patenteiam-se no famoso dito socrático "conhece-te a ti mesmo" que, no pensamento de Sócrates, significa precisamente consciência racional de si mesmo, para organizar racionalmente a própria vida. Entretanto, consciência de si mesmo quer dizer, antes de tudo, consciência da própria ignorância inicial e, portanto, necessidade de superá-la pela aquisição da ciência. Esta ignorância não é, por conseguinte, ceticismo sistemático, mas apenas metódico, um poderoso impulso para o saber, embora o pensamento socrático fique, de fato, no agnosticismo filosófico por falta de uma metafísica, pois, Sócrates achou apenas a forma conceptual da ciência, não o seu conteúdo.
O procedimento lógico para realizar o conhecimento verdadeiro, científico, conceptual é, antes de tudo, a indução: isto é, remontar do particular ao universal, da opinião à ciência, da experiência ao conceito. Este conceito é, depois, determinado precisamente mediante a definição, representando o ideal e a conclusão do processo gnosiológico socrático, e nos dá a essência da realidade.
A Moral
Como Sócrates é o fundador da ciência em geral, mediante a doutrina do conceito, assim é o fundador, em particular da ciência moral, mediante a doutrina de que eticidade significa racionalidade, ação racional. Virtude é inteligência, razão, ciência, não sentimento, rotina, costume, tradição, lei positiva, opinião comum. Tudo isto tem que ser criticado, superado, subindo até à razão, não descendo até à animalidade - como ensinavam os sofistas. É sabido que Sócrates levava a importância da razão para a ação moral até àquele intelectualismo que, identificando conhecimento e virtude - bem como ignorância e vício - tornava impossível o livre arbítrio. Entretanto, como a gnosiologia socrática carece de uma especificação lógica, precisa - afora a teoria geral de que a ciência está nos conceitos - assim a ética socrática carece de um conteúdo racional, pela ausência de uma metafísica. Se o fim do homem for o bem - realizando-se o bem mediante a virtude, e a virtude mediante o conhecimento - Sócrates não sabe, nem pode precisar este bem, esta felicidade, precisamente porque lhe falta uma metafísica. Traçou, todavia, o itinerário, que será percorrido por Platão e acabado, enfim, por Aristóteles. Estes dois filósofos, partindo dos pressupostos socráticos, desenvolverão uma gnosiologia acabada, uma grande metafísica e, logo, uma moral.
É a parte polêmica. Insistindo no perpétuo fluxo das coisas e na variabilidade extrema das impressões sensitivas determinadas pelos indivíduos que de contínuo se transformam, concluíram os sofistas pela impossibilidade absoluta e objetiva do saber. Sócrates restabelece-lhe a possibilidade, determinando o verdadeiro objeto da ciência.
O objeto da ciência não é o sensível, o particular, o indivíduo que passa; é o inteligível, o conceito que se exprime pela definição. Este conceito ou ideia geral obtém-se por um processo dialético por ele chamado indução e que consiste em comparar vários indivíduos da mesma espécie, eliminar-lhes as diferenças individuais, as qualidades mutáveis e reter-lhes o elemento comum, estável, permanente, a natureza, a essência da coisa. Por onde se vê que a indução socrática não tem o caráter demonstrativo do moderno processo lógico, que vai do fenômeno à lei, mas é um meio de generalização, que remonta do indivíduo à noção universal.
Praticamente, na exposição polêmica e didática destas ideias, Sócrates adotava sempre o diálogo, que revestia uma dúplice forma, conforme se tratava de um adversário a confutar ou de um discípulo a instruir. No primeiro caso, assumia humildemente a atitude de quem aprende e ia multiplicando as perguntas até colher o adversário presunçoso em evidente contradição e constrangê-lo à confissão humilhante de sua ignorância. É a ironia socrática. No segundo caso, tratando-se de um discípulo (e era muitas vezes o próprio adversário vencido), multiplicava ainda as perguntas, dirigindo-as agora ao fim de obter, por indução dos casos particulares e concretos, um conceito, uma definição geral do objeto em questão. A este processo pedagógico, em memória da profissão materna, denominava ele maiêutica ou engenhosa obstetrícia do espírito, que facilitava a parturição das ideias.
Doutrinas Filosóficas
A introspecção é o característico da filosofia de Sócrates. E exprime-se no famoso lema conhece-te a ti mesmo - isto é, torna-te consciente de tua ignorância - como sendo o ápice da sabedoria, que é o desejo da ciência mediante a virtude. E alcançava em Sócrates intensidade e profundidade tais, que se concretizava, se personificava na voz interior divina do gênio ou demônio.
Como é sabido, Sócrates não deixou nada escrito. As notícias que temos de sua vida e de seu pensamento, devemo-las especialmente aos seus dois discípulos Xenofonte e Platão, de feição intelectual muito diferente. Xenofonte, autor de Anábase, em seus Ditos Memoráveis, legou-nos de preferência o aspecto prático e moral da doutrina do mestre. Xenofonte, de estilo simples e harmonioso, mas sem profundidade, não obstante a sua devoção para com o mestre e a exatidão das notícias, não entendeu o pensamento filosófico de Sócrates, sendo mais um homem de ação do que um pensador. Platão, pelo contrário, foi filósofo grande demais para nos dar o preciso retrato histórico de Sócrates; nem sempre é fácil discernir o fundo socrático das especulações acrescentadas por ele. Seja como for, cabe-lhe a glória e o privilégio de ter sido o grande historiador do pensamento de Sócrates, bem como o seu biógrafo genial. Com efeito, pode-se dizer que Sócrates é o protagonista de todas as obras platônicas embora Platão conhecesse Sócrates já com mais de sessenta anos de idade.
"Conhece-te a ti mesmo" - o lema em que Sócrates cifra toda a sua vida de sábio. O perfeito conhecimento do homem é o objetivo de todas as suas especulações e a moral, o centro para o qual convergem todas as partes da filosofia. A psicologia serve-lhe de preâmbulo, a Teodicéia de estímulo à virtude e de natural complemento da ética.
Em psicologia, Sócrates professa a espiritualidade e imortalidade da alma, distingue as duas ordens de conhecimento, sensitivo e intelectual, mas não define o livre arbítrio, identificando a vontade com a inteligência.
Em Teodicéia, estabelece a existência de Deus: a) com o argumento teológico, formulando claramente o princípio: tudo o que é adaptado a um fim é efeito de uma inteligência; b) com o argumento, apenas esboçado, da causa eficiente: se o homem é inteligente, também inteligente deve ser a causa que o produziu; c) com o argumento moral: a lei natural supõe um ser superior ao homem, um legislador, que a promulgou e sancionou. Deus não só existe, mas é também Providência, governa o mundo com sabedoria e o homem pode propiciá-lo com sacrifícios e orações. Apesar destas doutrinas elevadas, Sócrates aceita em muitos pontos os preconceitos da mitologia corrente que ele aspira reformar.
Moral. É a parte culminante da sua filosofia. Sócrates ensina a bem pensar para bem viver. O meio único de alcançar a felicidade ou semelhança com Deus, fim supremo do homem, é a prática da virtude. A virtude adquiri-se com a sabedoria ou, antes, com ela se identifica. Esta doutrina, uma das mais características da moral socrática, é consequência natural do erro psicológico de não distinguir a vontade da inteligência. Conclusão: grandeza moral e penetração especulativa, virtude e ciência, ignorância e vício são sinônimos. "Se músico é o que sabe música, pedreiro o que sabe edificar, justo será o que sabe a justiça". Sócrates reconhece também, acima das leis mutáveis e escritas, a existência de uma lei natural - independente do arbítrio humano, universal, fonte primordial de todo direito positivo, expressão da vontade divina promulgada pela voz interna da consciência.
Sublime nos lineamentos gerais de sua ética, Sócrates, em prática, sugere quase sempre a utilidade como motivo e estímulo da virtude. Esta feição utilitarista empana-lhe a beleza moral do sistema.
Gnosiologia
O interesse filosófico de Sócrates volta-se para o mundo humano, espiritual, com finalidades práticas, morais. Como os sofistas, ele é cético a respeito da cosmologia e, em geral, a respeito da metafísica; trata-se, porém, de um ceticismo de fato, não de direito, dada a sua revalidação da ciência. A única ciência possível e útil é a ciência da prática, mas dirigida para os valores universais, não particulares. Vale dizer que o agir humano - bem como o conhecer humano - se baseia em normas objetivas e transcendentes à experiência. O fim da filosofia é a moral; no entanto, para realizar o próprio fim, é mister conhecê-lo; para construir uma ética é necessário uma teoria; no dizer de Sócrates, a gnosiologia deve preceder logicamente a moral. Mas, se o fim da filosofia é prático, o prático depende, por sua vez, totalmente, do teorético, no sentido de que o homem tanto opera quanto conhece: virtuoso é o sábio, malvado, o ignorante. O moralismo socrático é equilibrado pelo mais radical intelectualismo, racionalismo, que está contra todo voluntarismo, sentimentalismo, pragmatismo, ativismo.
A filosofia socrática, portanto, limita-se à gnosiologia e à ética, sem metafísica. A gnosiologia de Sócrates, que se concretizava no seu ensinamento dialógico, donde é preciso extraí-la, pode-se esquematicamente resumir nestes pontos fundamentais: ironia, maiêutica, introspecção, ignorância, indução, definição. Antes de tudo, cumpre desembaraçar o espírito dos conhecimentos errados, dos preconceitos, opiniões; este é o momento da ironia, isto é, da crítica. Sócrates, de par com os sofistas, ainda que com finalidade diversa, reivindica a independência da autoridade e da tradição, a favor da reflexão livre e da convicção racional. A seguir será possível realizar o conhecimento verdadeiro, a ciência, mediante a razão. Isto quer dizer que a instrução não deve consistir na imposição extrínseca de uma doutrina ao discente, mas o mestre deve tirá-la da mente do discípulo, pela razão imanente e constitutiva do espírito humano, a qual é um valor universal. É a famosa maiêutica de Sócrates, que declara auxiliar os partos do espírito, como sua mãe auxiliava os partos do corpo.
Esta interioridade do saber, esta intimidade da ciência - que não é absolutamente subjetivista, mas é a certeza objetiva da própria razão - patenteiam-se no famoso dito socrático "conhece-te a ti mesmo" que, no pensamento de Sócrates, significa precisamente consciência racional de si mesmo, para organizar racionalmente a própria vida. Entretanto, consciência de si mesmo quer dizer, antes de tudo, consciência da própria ignorância inicial e, portanto, necessidade de superá-la pela aquisição da ciência. Esta ignorância não é, por conseguinte, ceticismo sistemático, mas apenas metódico, um poderoso impulso para o saber, embora o pensamento socrático fique, de fato, no agnosticismo filosófico por falta de uma metafísica, pois, Sócrates achou apenas a forma conceptual da ciência, não o seu conteúdo.
O procedimento lógico para realizar o conhecimento verdadeiro, científico, conceptual é, antes de tudo, a indução: isto é, remontar do particular ao universal, da opinião à ciência, da experiência ao conceito. Este conceito é, depois, determinado precisamente mediante a definição, representando o ideal e a conclusão do processo gnosiológico socrático, e nos dá a essência da realidade.
A Moral
Como Sócrates é o fundador da ciência em geral, mediante a doutrina do conceito, assim é o fundador, em particular da ciência moral, mediante a doutrina de que eticidade significa racionalidade, ação racional. Virtude é inteligência, razão, ciência, não sentimento, rotina, costume, tradição, lei positiva, opinião comum. Tudo isto tem que ser criticado, superado, subindo até à razão, não descendo até à animalidade - como ensinavam os sofistas. É sabido que Sócrates levava a importância da razão para a ação moral até àquele intelectualismo que, identificando conhecimento e virtude - bem como ignorância e vício - tornava impossível o livre arbítrio. Entretanto, como a gnosiologia socrática carece de uma especificação lógica, precisa - afora a teoria geral de que a ciência está nos conceitos - assim a ética socrática carece de um conteúdo racional, pela ausência de uma metafísica. Se o fim do homem for o bem - realizando-se o bem mediante a virtude, e a virtude mediante o conhecimento - Sócrates não sabe, nem pode precisar este bem, esta felicidade, precisamente porque lhe falta uma metafísica. Traçou, todavia, o itinerário, que será percorrido por Platão e acabado, enfim, por Aristóteles. Estes dois filósofos, partindo dos pressupostos socráticos, desenvolverão uma gnosiologia acabada, uma grande metafísica e, logo, uma moral.
Síntese sobre as obras de Sócrates em 12 minutos |