A história da filosofia medieval — na sua flagrante
originalidade e
especificidade, que a distingue de qualquer outro período da história do
pensamento — não se compreende sem uma prévia compreensão do que foi o seu
contexto histórico, civilizacional e cultural, que nela se reflete. Daí a
necessidade metodológica desta introdução. Note-se, porém, que, ao procurarmos
a compreensão da história filosófica a partir do seu contexto cultural e
civilizacional, não queremos afirmar a unilateralidade da influência desse
contexto na filosofia. De facto, o que a pesquisa historiográfica mostra é que,
em regra, em qualquer período histórico, a influência é circular, dá-se nos
dois sentidos. Se, pois, tomamos como adquirido que o mundo medieval determinou
em boa parte a orientação geral da história filosófica nesse tempo, precisamos
de ter também em conta que o contrário também é verdadeiro. A correta
compreensão da história medieval não pode, pois, prescindir da uma abordagem
dessa história em modo de círculo hermenêutico. No caso presente, todavia,
convém ressalvar a escassez da influência filosófica na vida da Idade Média por
via imediata. Com efeito, neste longo período, a filosofia teve sempre um lugar
e um papel secundários, sempre subalternizados àquela que era considerada a
rainha dos saberes, isto é, à teologia. Só pela mediação desta, sem dúvida em
boa medida modelada por aquela, é que ela determinou — especialmente com o seu
tom platonizante — a orientação da civilização e da cultura que marcaram esse
tempo.
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