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Livro: Uma Síntese a Filosofia Medieval

  Olá pessoal! Depois de um tempo, estou retomando as atividades por aqui. Uma das razões que contribui para esse hiato foi a falta de tempo...

sexta-feira, 21 de junho de 2019

João Escoto Erigena


João Escoto Erigena (810 - 876)
          
  Para João Escoto a realidade é um sistema racional e unitário onde Deus e o mundo não são realidades diferentes. Todas as coisas são emanações de Deus e a ele voltam. A razão e a fé são fontes válidas para se chegar ao conhecimento verdadeiro e, portanto não podem ser opostas, mas se assim fosse, a razão é que deve prevalecer sobre a fé. É da natureza humana estar nas trevas, mas ela pode ser iluminada e conduzida pela razão.
            Erigena considera que todas as aspirações humanas ao saber tem por origem a questão da fé na revelação. Nele filosofia e teologia se identificam. A verdadeira filosofia é a verdadeira religião e a verdadeira religião é a verdadeira filosofia. Filosofar é ver e reconhecer a justificação e a legitimidade dos princípios sobre os quais se baseia a religião e é por isso que a filosofia se identifica com os princípios religiosos. É inerente a ligação entre fé e razão, pois ambas tem por fundamento a mesma causa que é a sabedoria divina que está revelada na sagrada escritura. Se a fé não encontrar sustentação na razão ela pode hesitar em suas verdades. A fé é a busca para melhor interpretar os verdadeiros significados das escrituras e para melhor interpretar esses significados temos que utilizar nossa estrutura racional. A religião tem que se identificar com a investigação proporcionada pela razão.
            Escoto acreditava que Deus era a única e verdadeira realidade e Deus é, portanto o principal personagem da sua filosofia. Todas as coisas dependem e são criadas por Deus e todas as coisas vão a ele retornar. A natureza é divina, pois ela se identifica com Deus. O filósofo divide essa natureza divina em quatro: 1 -  A natureza incriada e criante que é o próprio Deus que é a razão de tudo que é e de tudo que não é ; 2 - A natureza criada e criante que é o Verbo divino; 3 - A natureza criada e não criante que é toda a realidade material que existe no espaço e no tempo; 4 - A natureza não criada e não criante que é Deus enquanto meta para se alcançar no fim do mundo, pois para ele vai retornar toda a natureza. Desta forma as quatro naturezas formam o que o filósofo define como sendo um circulo divino no qual o próprio Deus é o centro e se manifesta de forma incessante e eterna não saindo nunca de Si. Deus cria tudo de Si, em Si e para Si. A natureza não é somente tudo aquilo que é, mas é também tudo aquilo que não é. O que não é não é o nada, mas tudo aquilo que poderia ter sido mas que não foi e de tudo aquilo que poderá ser mas não será.
            O mundo é o próprio Deus, mas Deus não é o mundo, pois ele criou e transformou-se no mundo mas se conservou em posição mais elevada do que o mundo.
            O filósofo sustenta também a liberdade humana, para ele não é possível atribuir a Deus uma predestinação dos seres humanos, pois em Deus não existe uma pré ou uma pós destinação. Deus é o princípio, o meio e o fim, ele é a razão de tudo que dele se origina, ou seja, é a razão de tudo.
            O mal não é em si uma realidade, mas uma recusa da realidade e Deus não conhece o mal. Se Deus conhecesse o mal o mal seria algo real no mundo. Mas o mal não é algo real, é uma recusa da realidade, o mal é o pecado que é uma carência ou uma inexistência de vontade. A vontade livre é o livre arbítrio em que o homem se encontra e nele o homem pode se decidir pelo bem ou pelo mal. O homem comete pecado quando desvia a sua vontade de escolher o mal em lugar de escolher o bem. O homem é portanto livre para pecar ou não pecar.

Sentenças:
- Não há salvação para as almas dos fiéis se não em crer no que se diz com verdade sobre o único princípio das coisas, e em entender o que com verdade se crê.
- O homem tem em si todas as criaturas.
- O Homem compreende como o anjo, raciocina como homem, sente como animal irracional, vive como o verme.
- Se eu compreendo o que tu compreendes, converto-me no teu próprio entendimento e de certa maneira, converto-me em ti próprio.


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