João Escoto
Erigena (810 - 876)
Erigena
considera que todas as aspirações humanas ao saber tem por origem a questão da
fé na revelação. Nele filosofia e teologia se identificam. A verdadeira
filosofia é a verdadeira religião e a verdadeira religião é a verdadeira
filosofia. Filosofar é ver e reconhecer a justificação e a legitimidade dos
princípios sobre os quais se baseia a religião e é por isso que a filosofia se
identifica com os princípios religiosos. É inerente a ligação entre fé e razão,
pois ambas tem por fundamento a mesma causa que é a sabedoria divina que está
revelada na sagrada escritura. Se a fé não encontrar sustentação na razão ela
pode hesitar em suas verdades. A fé é a busca para melhor interpretar os
verdadeiros significados das escrituras e para melhor interpretar esses
significados temos que utilizar nossa estrutura racional. A religião tem que se
identificar com a investigação proporcionada pela razão.
Escoto
acreditava que Deus era a única e verdadeira realidade e Deus é, portanto o
principal personagem da sua filosofia. Todas as coisas dependem e são criadas
por Deus e todas as coisas vão a ele retornar. A natureza é divina, pois ela se
identifica com Deus. O filósofo divide essa natureza divina em quatro: 1
- A natureza incriada e criante que é o próprio Deus que é a razão de
tudo que é e de tudo que não é ; 2 - A natureza criada e criante que é o Verbo
divino; 3 - A natureza criada e não criante que é toda a realidade material que
existe no espaço e no tempo; 4 - A natureza não criada e não criante que é Deus
enquanto meta para se alcançar no fim do mundo, pois para ele vai retornar toda
a natureza. Desta forma as quatro naturezas formam o que o filósofo define como
sendo um circulo divino no qual o próprio Deus é o centro e se manifesta de
forma incessante e eterna não saindo nunca de Si. Deus cria tudo de Si, em Si e
para Si. A natureza não é somente tudo aquilo que é, mas é também tudo aquilo
que não é. O que não é não é o nada, mas tudo aquilo que poderia ter sido mas
que não foi e de tudo aquilo que poderá ser mas não será.
O
mundo é o próprio Deus, mas Deus não é o mundo, pois ele criou e transformou-se
no mundo mas se conservou em posição mais elevada do que o mundo.
O
filósofo sustenta também a liberdade humana, para ele não é possível atribuir a
Deus uma predestinação dos seres humanos, pois em Deus não existe uma pré ou
uma pós destinação. Deus é o princípio, o meio e o fim, ele é a razão de tudo
que dele se origina, ou seja, é a razão de tudo.
O
mal não é em si uma realidade, mas uma recusa da realidade e Deus não conhece o
mal. Se Deus conhecesse o mal o mal seria algo real no mundo. Mas o mal não é
algo real, é uma recusa da realidade, o mal é o pecado que é uma carência ou
uma inexistência de vontade. A vontade livre é o livre arbítrio em que o homem
se encontra e nele o homem pode se decidir pelo bem ou pelo mal. O homem comete
pecado quando desvia a sua vontade de escolher o mal em lugar de escolher o
bem. O homem é portanto livre para pecar ou não pecar.
Sentenças:
- Não há salvação para as almas dos
fiéis se não em crer no que se diz com verdade sobre o único princípio das
coisas, e em entender o que com verdade se crê.
- O homem tem em si todas as criaturas.
- O Homem compreende como o anjo,
raciocina como homem, sente como animal irracional, vive como o verme.
- Se eu compreendo o que tu compreendes,
converto-me no teu próprio entendimento e de certa maneira, converto-me em ti
próprio.
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