David Hume (1711 - 1776)
Hume pretende aplicar o método de raciocínio experimental para entender
melhor a natureza humana, usar um método científico, que era usado basicamente
para entender os objetos, para interpretar também as pessoas, criando assim a
ciência do homem. O filósofo acreditava que se explicarmos o que e como são as
pessoas, qual a essência da natureza humana, explicaremos também todas as
outras ciências. Isso acontece porque todas as ciências, como a matemática e a
física, estão relacionadas diretamente com as pessoas, pois a própria razão,
que é o fundamento da matemática e da física, faz parte da natureza humana.
Raciocinamos e filosofamos por instinto.
Tudo o que temos em nossa mente é resultado das nossas sensações. Nossas
ideias são percepções, mas existem diferenças entre o sentir e o pensar, o
sentir está relacionado às nossas sensações mais vivas, mais recentes e que nos
marcam mais. Já o pensar está relacionado às ideias, que é uma percepção mais
fraca. As ideias são como imagens que com o tempo vão perdendo cor e definição.
As ideias dependem das sensações, nós só temos ideias de algo depois de
percebermos esse algo. Não existem ideias inatas, ideias que nascem com as
pessoas.
As ideias simples que temos através das sensações podem se relacionar e
se transformar em ideias complexas através da memória e da imaginação, mas as
ideias simples se associam em ideias complexas principalmente através da
semelhança, da proximidade no espaço e no tempo e da relação de causa e efeito.
Por exemplo, quando olhamos uma fotografia lembramos uma pessoa, pois a imagem
da fotografia é semelhante à pessoa, quando pensamos em comida podemos pensar
logo depois em geladeira, supermercado ou restaurante, pois geralmente a comida
está próxima destes lugares, quando pensamos em gol pensamos em alguém que
chutou uma bola, pois o chutar a bola é a causa e o gol o efeito.
Mas essa relação de causa e efeito não pode ser conhecida a priori, pois
ela depende da experiência. Nenhuma pessoa quando for posta frente a um objeto
do qual não conhece absolutamente nada vai poder raciocinar sobre ele, para que
isso aconteça essa pessoa vai ter que experimentar o objeto e descobrir quais
suas causas e efeitos para somente depois poder criar sobre ele ideias e
conceitos.
Quando observamos algo repetidamente temos a tendência a acreditar que
esse algo vai acontecer sempre, essa tendência torna-se um hábito. Através do
hábito nós estabelecemos relação entre os fatos, mas isso não quer dizer que
essa relação é necessária. Não é porque sempre vimos o sol se levantar toda
manhã que necessariamente ele se levantará amanhã. Para Hume essa relação de
necessidade existe nos eventos práticos da nossa vida, mas não existe como uma
justificação racional e filosófica.
O filósofo acredita que o que chamamos de experiência e realidade nada
mais é do que um conjunto de ideias e sensações, mas não existe algo que una
essas percepções. Da mesma forma não existe uma subjetividade constante, não existe
um eu contínuo, autoconsciente e idêntico. Não existe um princípio de
identidade permanente onde cada um de nós pode dizer esse sou eu. Nós somos
algo parecido com um teatro móvel e anônimo onde são representadas sensações e
ideias.
Outro ponto analisado por Hume é a moral, que para ele é derivada mais
dos sentimentos do que da razão. A razão pode até apoiar a moral com algumas
orientações, mas o fundamento da moral são mesmo os sentimentos e
especificamente os sentimentos de dor e prazer. A virtude provoca prazer e o
vício a dor. Por exemplo, quando estamos diante de uma pessoa virtuosa sentimos
um prazer característico, e o contrário acontece quando estamos diante de
alguém com vícios. A virtude nos provoca o elogio, e o vício a censura.
A moral também não é o fundamento da religião. A religião não fundamenta
nem é fundamentada pela razão ou pela ética. A religião nasce do instinto, os
deuses surgem por causa do medo que temos da morte e pela inquietação com o
nosso fim e a nossa existência depois dela.
Sentenças:
- O gênio está próximo do louco.
- A beleza não está no objeto, mas na
mente do observador.
- O hábito é o nosso grande guia.
- Afirmações extraordinárias exigem
provas extraordinárias.
- Em cada solução encontramos uma nova
pergunta.
- O auto-domínio da mente é limitado da
mesma forma que o domínio do corpo.
- O homem é o maior inimigo do homem.
- O trabalho e a pobreza são o destino
da maioria.
- A natureza é sempre maior que a
teoria.
- A razão é escrava das paixões.
- Nada é mais livre que a nossa
imaginação.
- Seja filósofo, mas não se esqueça de
ser homem.
- As pessoas reclamam da falta de
memória, mas não da falta de entendimento.
- Um milagre é a violação das leis da
natureza.
- Um erro é a mãe de outro.
- A ignorância é a mãe da devoção.
. História Natural da Religião
- Investigações Sobre o Entendimento Humano e Sobre os Princípios da Moral
- Resumo de um Tratado da Natureza Humana
- Historia Natural da Religião
- Hume em 90 Minutos – Paul Strathern
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