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Livro: Uma Síntese a Filosofia Medieval

  Olá pessoal! Depois de um tempo, estou retomando as atividades por aqui. Uma das razões que contribui para esse hiato foi a falta de tempo...

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

HISTÓRIA DA FILOSOFIA: PERÍODO ROMANO


Ao fazermos uma análise sobre a filosofia praticada no período romano, precisa-se levar em conta alguns aspectos tais como: A filosofia romana foi praticamente uma releitura do pensamento grego. Houve uma espécie de “mistura” de várias correntes filosóficas, e em todas elas ganharam destaque as ideias moralizantes.
A civilização romana, que conheceu um desenvolvimento gradual, teve seu início por volta do século 7 a.C. Esse processo compreendeu cinco fases principais: (1) a fase inicial, que corresponde ao período monárquico e ao princípio da República; (2) o período da República tardia; (3) o Principado, de Augusto a Marco Aurélio; (4) a grande crise do terceiro século; e (5) o período da Antiguidade tardia, com a divisão entre leste e oeste e as sucessivas épocas pagã e cristã” (Jaguaribe, 2002: 365).
 A marca genuína e duradoura da civilização romana foi seu pragmatismo a serviço da cidade-estado e, posteriormente, a serviço do Império. Essa praticidade se materializou de forma notável nos campos da oratória forense, do direito e da jurisprudência; da engenharia civil e militar; da arquitetura e do urbanismo.
Ao longo de três séculos, o Império Romano estendeu seu domínio da península italiana a toda uma vasta área mediterrânea e à vasta região a oeste da Índia, com exceção da Pérsia. No século 1 a.C. era o maior império da Antiguidade. O mundo jamais conheceu império tão duradouro. Apesar da enorme potência do Império Romano, a opulência cultural da Grécia antiga constituiu objeto de desejo dos romanos, que se acercaram dessa cultura, levando-a para a sua. Os romanos absorveram não apenas o magnífico imaginário grego representado na mitologia, mas também suas representações artísticas – da arquitetura à escultura, por exemplo –, além da filosofia, da ciência natural e da teoria política. A literatura romana – cujos maiores expoentes foram Cícero, Virgílio, Horácio e Ovídio – também foi fortemente influenciada pela literatura grega. Não é de se estranhar, portanto, que os romanos tenham traduzido o acervo cultural grego. A grande influência cultural da Grécia sobre Roma deveu-se, em parte, ao reconhecimento dos romanos relativamente à superioridade intelectual e artística dos gregos:





Todo esse processo educacional grego que desagou na sociedade romana, ficando conhecida como cultura greco-romana. Esse fato é decorrente da herança dos fundamentos educacionais aos moldes da Paideia grega, aplicados pelos romanos a partir de então.
Todavia, diversas especificidades ou diferenciações da educação romana em relação à educação grega merecem ser destacadas. A característica geral e acentuada da educação romana era o pragmatismo, ou seja, uma educação voltada para o modelo prático-social e o método imitativo foi seu principal fundamento. Enquanto os gregos primaram por uma educação liberal, com isso se permitiu um percurso evolutivo da educação sendo herdeira das culturas de outros impérios, como as dos impérios egípcio e pérsico, mas não se contentaram apenas em reproduzir tais conhecimentos que foram adquiridos, prosseguiram galgando sempre por inovações, renovações e aperfeiçoamento elevando os níveis de conhecimentos a outros patamares, dando assim o surgimento da filosofia.
Entretanto, nem sempre de áurea a cultura grega está presente em Roma. Com efeito, a cultura helenística tem seu menosprezo simbolizado nas três principais expressões ou espaços culturais de desenvolvimento estético corporal: o ginásio, a palestra e o estádio. O ginásio grego é substituído pelo jardim de diversão; a palestra, pelas termas; e o estádio-anfiteatro, pelo circo. A decadência da educação romana, dentre outras causas, deveu-se ao tipo de educação elitista e ao desprezo intelectual da grande massa constituidora do grande Império Romano, que levou a outros problemas enfraquecedores e corrosivos daquela sociedade.
Outras atividades educativas praticadas pelos gregos também não eram aceitas pela educação romana, como: ginástica, dança, música, etc. Essas atividades eram consideradas como atividades estimuladoras à afeminação pelos romanos.
Os grandes pensadores desse período foram:
Lucrécio (Tito Lucrécio Caro) nasceu provavelmente em Roma, no ano 94 a.C. Autor do poema “De Rerum Natura” (Da Natureza das Coisas), onde faz uma detalhada exposição de princípios filosóficos que ele foi buscar na obra de grego Epicuro (341-270 a.C). Possivelmente o primeiro texto filosófico em latim — limitou-se a expor o pensamento de Epicuro; Cícero (c. 106-43 a.C.), mais original, mesclou influências da Academia, do Liceu, do Jardim. Foi um poeta e filósofo latino, autor do poema didático "De Rerum Natura", uma rigorosa exposição filosófica.
Na visionária concepção epicurista, o mundo – coisas, plantas, animais e até o homem – era constituído por pequenas partículas indestrutíveis que ele chamou de átomo.
A obra de Lucrécio, em seis volumes era um corpo estranho para o pensamento que a Igreja professava na época em que o poema foi encontrado. Poggio Bracciolini, humanista do Renascimento italiano, ao visitar mosteiros alemães, em 1417, encontrou pergaminhos com textos latinos esquecidos havia séculos, depois de ser negligenciado pelos pios monges.
No poema de Lucrécio, longe de ser o centro do universo, o homem seria apenas mais uma entre várias configurações da matéria possibilitada pela reunião dos átomos. A alma, tal como o corpo, é feita de átomos, portanto se desfaz com a morte. A única vida que é dada ao homem é esta, e ele deve aproveitá-la retirando-se da vaidosa agitação da vida pública para se dedicar à serena busca do prazer.
Lucius Annaeus Seneca (em português, Lúcio Aneu Sêneca, ou ainda Sêneca, o Jovem - Córdoba, Hispânia, Império Romano, 4 a.C. - Roma, Império Romano, 65 d.C.) foi um importante escritor e filósofo do Império Romano. Filho de um grande orador, Annaeus Seneca, o Velho, foi educado em Roma, onde estudou retórica e filosofia, tornando-se famoso como advogado. Foi membro do senado romano e depois foi nomeado questor, magistrado da justiça criminal. Epíteto, ex-escravo, e Marco Aurélio, imperador, também constituíram o pensamento romano.
É o seu trabalho no campo da filosofia que desperta o maior interesse, isso desde o período do Renascimento. Entre suas ideias, destaca-se a da consciência, que ele entendia como a capacidade que o homem tem de distinguir entre o bem e o mal. Ela é inerente ao ser humano, que não pode se livrar dela ou escondê-la, pois o homem não consegue se esconder de si próprio. O criminoso pode evitar a punição da lei, mas não evita a punição dentro de sua consciência, que faz um juízo íntimo de seus atos. Por isso mesmo, o pecado estaria inserido na estrutura e na fundamentação do homem, e para nos tornarmos homens necessitamos da prática de pecados. Se o indivíduo nunca peca, não é homem; mesmo o sábio é um pecador, porque através do pecado ele realizou experiências de diferenciação entre o bem e o mal.
Somente no século III, em pleno declínio do Império Romano, é retomada a preocupação inicial da filosofia — a busca por um princípio único para tudo que existe. O responsável por essa retomada, também baseada na filosofia grega, é Plotino, fundador da corrente denominada “neoplatonismo”.
Plotino (205-270)
Plotino nasceu em 205 da era cristã, em Licópolis, permanecendo quase toda a juventude em Alexandria até 243 d.C., quando deixou a cidade para seguir o imperador Jordano em sua expedição oriental. Morto Jordano no meio de sua expedição, Plotino decide ir à Roma, onde chegou em 244 d.C., fundando uma escola.

Pelos escritos de um discípulo famoso de Plotino, Porfírio, sabemos que Amônio foi um jovem brilhante, educado no seio de uma família cristã. Mas depois que passou a se dedicar à filosofia, Amônio, por inclinação e vontade próprias, se voltou novamente ao paganismo (talvez por achar mais liberdade por buscar um caminho próprio de entendimento).
Pelo que sabemos, foi Amônio, professor de Plotino, provavelmente o primeiro a usar a palavra teosofia ao se reportar às formas de pensamento que buscam explicar a natureza divina, as relações com tudo o mais. Depois de abandonar a religião cristã, definiu as bases da filosofia neoplatônica, adotada por seus discípulos Longino e Plotino da escola de Alexandria.
Neoplatonismo é uma das últimas escolas filosóficas da antiguidade Greco-pagã, fundada por Amônio Sacas no século II da Era Cristã. Seu representante máximo é o filósofo egípcio Plotino que teve como discípulo Porfírio, outro neoplatônico, que intentava demonstrar a compatibilidade entre as filosofias de Platão e Aristóteles, além de difundir o neoplatonismo.
É importante frisar duas coisas: a primeira é que o prefixo “neo” só foi adicionado na posteridade para diferenciar o dualismo platônico do monismo neoplatônico, ou seja, Plotino e os demais seguidores do hoje chamado neoplatonismo se designavam apenas pela alcunha de platônicos. E a segunda é que o termo neoplatônico não faz referência a todo e qualquer seguidor das ideias de Platão, mas a escolas pontuais, com finalidades específicas.
O neoplatonismo visava, a partir de uma síntese do Platonismo, Aristotelismo, Estoicismo e Pitagorismo, legitimar verdades religiosas supostamente reveladas aos homens. Há, portanto, um profundo caráter místico e espiritualista intencional nas escolas neoplatônicas que servirá de base para a posterior fundamentação teórica de religiões monoteístas como por exemplo o Cristianismo. Desse modo, ideias de Plotino, Porfírio, Proclo estão diluídas na teologia e filosofia medieval cristã.
O neoplatonismo contrário ao ver perspectivo, que possibilita diversas interpretações de autores, propunha uma interpretação unitária do pensamento de Platão a partir de chaves de leitura que segundo os filósofos das escolas neoplatônicas seria a única   forma
de se acessar efetivamente aos textos platônicos sem subverter suas ideias.
Cícero foi um dos mais importantes filósofos da Roma antiga.
Nascido no dia 3 de janeiro do ano 106 antes de Cristo, Marco Túlio Cícero era proveniente de uma cidade ao sul de Roma de nome Arpino. O fato de Cícero não ser um romano tradicional foi incomodo durante toda a sua vida, o deixava envergonhado. Mas sua educação foi baseada nos grandes filósofos, poetas e historiadores gregos. Foi toda a sua proficiência na língua grega que o levou à condição de intelectual e o colocou entre a elite romana tradicional. A família de Cícero também o ajudou a crescer, seu pai era um rico equestre com importantes contatos em Roma.
Cícero era um estudante incansável e extremamente talentoso, características que despertaram a atenção de Roma. Desprovido de qualquer interesse pela vida militar, Cícero era um intelectual e começou sua carreira como advogado. Mais tarde, mudou-se para a Grécia e ampliou seus estudos de retórica. Através dessa estadia na Grécia teve contato e passou a admirar calorosamente a obra de Platão. Cícero tornou-se o responsável por introduzir a filosofia grega em Roma, criando um vocabulário filosófico em Latim.
Após morar na Grécia, Cícero voltou a Roma e ingressou na vida pública. Nesse momento, já era reconhecido como grande linguista, tradutor e filósofo e tinha em sua história pessoal o respeito por ser um eloquente orientador e bem sucedido advogado. Porém ele acreditava que a carreira política era a conquista de maior sucesso em sua vida. Cícero participou de grandes eventos da história política de Roma, como as guerras civis e a ditadura de Júlio César na primeira metade do século I a.C. Foi Cícero quem patrocinou o retorno ao governo republicano tradicional em Roma, era um homem descrito por seus biógrafos como de personalidade sensível e impressionável, que reagia de modo exagerado às mudanças políticas. Como estadista, era inconsistente em suas decisões e tinha a tendência de muda-las em função do clima político do momento. Marco Aurélio Antonino (121 d.C.-180 d.C.) foi imperador romano durante quase duas décadas. Considerado o mais sábio dos dirigentes políticos da antiguidade ocidental, ele governou de 161 a 180 e ficou conhecido como o imperador-filósofo.
Combinando a busca da sabedoria com um espírito prático, Marco Aurélio soube desenvolver o desapego enquanto cumpria os seus deveres perante o mundo. Taurino nascido a 26 de abril, o imperador tinha persistência. Influenciado pelo filósofo Epicteto, ele baseou sua filosofia de vida na aceitação da impermanência das coisas e na disciplina da indiferença em relação a dor e prazer.
A leitura de um bom livro pode ser um diálogo vivo, porque o leitor atento interage com os padrões de vibração mental do autor e sua consciência é guiada pelos ritmos da emoção e do pensamento presentes no texto que lê. Por isso, a presença espiritual do imperador-filósofo pode ser percebida como algo vivo por qualquer pessoa que seguir as ondas de pensamento registradas nos textos do volume intitulado Meditações. A obra reúne suas reflexões pessoais sobre o caminho da sabedoria. O texto não foi redigido para publicação, mas registra sua luta consigo mesmo na busca do auto aperfeiçoamento. Passados mais de 18 séculos, as Meditações de Marco Aurélio continuam inspirando milhões de leitores ao redor do planeta.
1) Uma base essencial da sua filosofia e sua ética é a constatação da unidade de todas as coisas. Nada existe separado, nada fica escondido muito tempo, e por isso é aconselhável agir sempre corretamente. Mas como colocar esses princípios em prática? 
R: O importante é estabelecer primeiramente que sou parte de um Todo regido por uma natureza e, posteriormente, que, de algum modo, sou parente das outras partes que a mim se assemelham. Certamente, observando estes princípios, como parte que sou, não me revoltarei contra nenhuma das vicissitudes que o Todo me reservar, pois nada incomoda a parte quando é útil ao Todo, e nada há no Todo que não lhe seja útil. Não me esquecendo de que sou parte do Todo, acolherei de boa vontade todos os acontecimentos. Sendo, de alguma forma, parente das partes semelhantes a mim, procurarei nada fazer que possa prejudicar a sociedade. Antes pelo contrário, tendo sempre em vista o meu próximo, consagrarei minha atividade ao bem comum e me absterei de tudo que provoque dano para o próximo. Procedendo dessa forma, minha vida será obviamente feliz. 
2) Correto. A percepção da unidade dinâmica que existe entre todos os seres é a fonte mais eficaz dos sentimentos éticos. No entanto, nem todos percebem as vantagens de agir com sabedoria, e  ainda há muita violência e crueldade no mundo.  Como funciona o círculo vicioso do egocentrismo? 
R: A aranha orgulha-se de apanhar moscas. Um homem, de apanhar lebres, tal outro, sardinhas na rede, este, um javali, esse, um urso, aquele, alguns sármatas [guerreiros germânicos, contra os quais os soldados de Marco Aurélio combateram várias vezes]. Estudados os princípios que os norteiam, não poderiam, todos eles, ser qualificados como assassinos?
3) E como podemos viver corretamente em meio a esse mundo?
R: Cria um método para entender como todas as coisas se transformam umas nas outras. Com muita constância, dedica-te a essa parte da filosofia, especializa-te nela, já que nenhuma outra eleva tanto a alma. Para aquele que se dedica a ela, é como se ele se libertasse do corpo. E, considerando que em breve terá de deixar tudo e sair de entre os homens, ele não deve preocupar-se com nada, exceto submeter-se à justiça e à natureza do Todo, em tudo quanto faz e recebe. O que dele disserem e supuserem, e o que lhe fizerem, não lhe preocupa o espírito, ao qual só importa o seguinte: realizar com justiça o que agora lhe compete fazer, e amar o que agora lhe acontece. 
4) A filosofia estoica ensina a ser imperturbável diante das oscilações da vida. Mas há obstáculos enormes para isso. Estamos sujeitos a inúmeras pressões externas. Nossos parentes, colegas de trabalho, amigos e conhecidos fazem exigências e nos influenciam o tempo todo. 
R: De manhã cedo, dize logo a ti mesmo: Encontrarei um indiscreto, um ingrato, um arrogante, um trapaceiro, um invejoso, um egoísta. Tudo isso lhes advém da ignorância do bem e do mal. Mas eu, tendo reconhecido que a natureza do bem é a virtude e a do mal é o vício, e que o pecador é por natureza meu parente – não do mesmo sangue ou semente, mas pela inteligência e por participar de uma parcela da divindade – não posso considerar-me ultrajado por qualquer um deles. Nenhum deles me contaminaria com o vício. Não posso tampouco irritar-me contra meu parente nem odiá-lo; pois fomos feitos para cooperar, assim como os pés, como as mãos, como as pálpebras, como as fileiras superior e inferior dos dentes. Agir como adversário é, então, contra a natureza. E é ser adversário irritar-se com os outros e evitá-los.
5) Ser feliz parece ser um objetivo natural, não só dos seres humanos,  mas de todo ser vivo.  Plotino, o filósofo neoplatônico, escreveu que até mesmo as plantas buscam a felicidade.  De que modo alguém pode alcançá-la, na prática? 
Se concentras teus esforços no presente, seguindo a reta razão seriamente, vigorosamente, calmamente, sem permitir que nada mais te distraia e mantendo puro teu Gênio interior, como se tivesses de devolvê-lo imediatamente; se te aplicares a isso, nada esperando, nada temendo e satisfeito com tua atividade presente conforme a natureza e com uma verdade heroica em cada verdade e manifestação, viverás feliz. E ninguém será capaz de impedir isso.
Época imperial romana. — Com o surgimento dos imperadores romanos o curso dos tempos se torna
ainda mais tormentoso e os homens interiormente ainda mais inquietos e angustiados.
No império romano ainda sobrevivem as antigas escolas filosóficas; mas já se esgotam e caem em ruína umas depois das outras. Aqui e acolá, heroicos esforços se desenvolvem, a fim de ainda despertar, para nova vida, o espírito da cultura antiga, antes de tudo no neoplatonismo. Mas a evolução não é já possível ser contida. Quando Justiniano, em 529 d.C. mandou fechar a Academia, o último reduto da Filosofia antiga, e proibiu se continuasse a ensinar Filosofia em Atenas, foi isso, exteriormente, um ato de violência, na realidade, porém, apenas a documentação de uma situação preexistente.







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