Roscelino
(1050-1120).
Filósofo e teólogo francês, nascido em
Compiègne. Não sabemos exatamente a data de seu nascimento ou
morte. Roscelino (ou Roscellino), cujo nome original era Jean Roscelin, é
considerado o fundador do nominalismo. Os únicos escritos dele que
chegaram até nós são uma carta a Abelardo, que era seu
discípulo. Conhecemos seus pensamentos através dos julgamentos de seus
adversários, Santo Anselmo, Abelardo e Juan de Salisbury. Segundo
Roscelino, apenas indivíduos realmente existem e conceitos universais não têm
correlação com a realidade, são nomes simples no sentido de meros sons (flatus
vocis) Aplicando essa teoria à Trindade, Roscelino afirmou que a
divindade não é algo comum às três pessoas divinas, mas que cada uma delas é
uma coisa única e singular e, portanto, existem três deuses. Condenado
pelo conselho de Soissons, ele teve que se retirar.
Em sua opinião, os universais ou conceitos universais não tem
nenhum valor, nem semântico nem predicativo, não podendo se referir a nenhuma res,
dado que todas as coisas existentes são singulares ou separadas (discretae),
e nada existe além da individualidade (nihil est praeter individuum).
Nominalismo
Uma das principais
tendências filosóficas da Idade Média, o nominalismo,
contrário ao realismo e ao conceitualismo, rejeitou o pensamento
alcançado por abstrações e abriu caminho para o espírito de observação e a
vulgarização da pesquisa indutiva.
O nominalismo é uma
doutrina segundo a qual as ideias gerais, como gêneros ou espécies, não passam
de simples nomes, sem realidade fora do espírito ou da mente. A única realidade
são os indivíduos e os objetos individualmente considerados. Desse modo, o
universal não existe por si: é mero nome, vocábulo com significado geral, mas
sem conteúdo concreto, que só reside no individual e no particular. Em seu
retrospecto histórico da doutrina nominalista, Leibniz afirmava que, para os
partidários do nominalismo, só existem, além das substâncias singulares, os
nomes puros e, desse modo, a realidade das coisas abstratas e universais é
eliminada.
Questão dos Universais
A controvérsia em
torno da natureza das ideias dominou, de certo modo, a reflexão filosófica
medieval. Principiou no século VII, quando Boécio traduziu para o latim o livro
de Porfírio Eisagoge eistàs Aristotélis kategorías (Introdução às categorias de
Aristóteles), em que se fixaram as bases da polêmica futura: "Não
procurarei enunciar se os gêneros e as espécies existem por si mesmos ou na
pura inteligência, nem, no caso de subsistir, se são corpóreos ou incorpóreos,
nem se existem separados dos objetos sensíveis ou nestes objetos, formando
parte deles."
Firmaram-se, a
respeito do problema, três posições fundamentais: nominalismo, realismo e
conceitualismo. Os realistas sustentavam que as ideias - ou os
"universais", como as chamavam - possuem existência independente:
existem ante res ("antes das coisas reais"), na mente divina ou em
qualquer outro lugar. O realismo revelava-se, assim, de tradição claramente
platônica. Os nominalistas, ao contrário, não atribuíam nenhuma existência às
ideias: estas resumir-se-iam a seus símbolos, seus nomes ou palavras. Entre
essas duas posições extremas situava-se a teoria conceitualista, para a qual as
ideias teriam uma existência simbólica na mente, e outra, concreta, nas coisas.
As célebres
discussões a respeito do problema, embora com aparência de sutileza inútil,
ocultavam orientações mais profundas. O realismo representava uma visão do
mundo mais espiritual, enquanto que o nominalismo nascia de uma visão mais
concreta e antiespiritual das coisas. Por isso, o nominalismo, em toda a Idade
Média, se apresentava como uma suspeita doutrina de céticos.
No segundo período
da filosofia escolástica medieval, que começou no século XIII com santo Alberto
Magno e santo Tomás de Aquino, prevaleceu a posição do realismo moderado. O
nominalismo reviveu mais tarde, no século XIV, com o filósofo inglês Guilherme
de Occam. Para este, todo conhecimento se baseia na experiência sensível, de
que, por abstração, extraímos as ideias gerais, de que se servirá a ciência,
sem necessidade alguma das antigas species dos realistas.
Occam também é
chamado terminista. Ensinava que qualquer ciência é ciência só de proposições e
de proposições enquanto são conhecidas. Todos os termos dessas proposições são
só conceitos e não substâncias externas. O nominalismo dos séculos XIV e XV não
é ortodoxo em relação à teoria escolástica mas, em compensação, favorece o
estudo das ciências naturais.
Nominalismo Atual
Na filosofia
moderna, são declaradamente nominalistas Thomas Hobbes, no século XVII, e, no
século XVIII, Étienne Bonnot de Condillac, defensor da teoria sensualista do
conhecimento. Já no século XX, Nelson Goodman e Willard van Orman Quine são
defensores do que chamam "nominalismo construtivo". O primeiro não
nega as entidades abstratas, mas somente as admite consideradas como
indivíduos, pois o mundo é um mundo de indivíduos. Nega, assim, qualquer
possibilidade de classes, nas quais se incluem indivíduos diversos.
Quine generaliza um
argumento já proposto por Bertrand Russell sobre as chamadas descrições
singulares. Ao estudar os possíveis usos ontológicos da linguagem, inclina-se
para o nominalismo e contra o platonismo. Procura construir uma linguagem capaz
de reduzir qualquer enunciado sobre entidades abstratas a um enunciado sobre
entidades concretas. Só será possível admitir variáveis individuais, isto é, as
que se referem a objetos concretos espaço-temporais, ou, pelo menos, temporais.
São de resto nominalistas, ou apresentam afinidades com essa posição, nos
tempos atuais, os neo-espinozistas, os neokantianos, os neopositivistas, os
idealistas e pragmatistas.
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