Podemos até especular quais seriam suas preferências hoje em dia, mas qual foi o ídeal político, se é que houve um, que Ele apoiou durante sua vida terrena? Quais foram os líderes que receberam o seu apoio, se é que houve um? O que levou a apoiá-los? Será que fazer uma escolha política era importante para Ele? A política era mesmo importante?
Seria muito difícil, ou mesmo impossível, determinar qual seria a melhor resposta a essas perguntas.
Entretanto, Jesus parecia preocupar-se, e muito, com os poderes falidos de nossa sociedade e demostrava ter muita habilidade para lidar com eles quando necessário. Contudo, jamais falou de política ou se envolveu com ela num sentido comum. Mas é claro que Ele viveu num sistema totalmente difrente do nosso.
Apesar de não termos como saber exatament se Jesus era simpatizante de algum partido, pelo menos podemos entender algo sobre o sistema político da palestina da primeira metade do primeiro século
Por exemplo, sabemos que havia pelo menos cinco grandes partidos políticos entre os judeus naqueles dias.
Os Saduceus
A derivação e o possível significado do nome são muito debatidos. A ideia mais provável é a de que o nome se referia a qualquer um que simpatizasse com os zadoquitas, descendente sacerdotes de zadoque, o sumo sacerdote nos dias de Davi e Salomão. (1º Reis 4.4; 1º Crô 29.22).
Os saduceus compunham uma das mais importantes e influentes seitas judaicas, muitas vezes em oposição tanto politica quanto teológica com os fariseus. Esta seita era amplamente constituída pelos elementos mais ricos da população, em contraste com os mais pobres e mais populares fariseus. Entre seus componentes se encontravam os sacerdotes mais poderosos, mercadores prósperos e a classe aristocrática da sociedade. Eles aderiam apenas a lei mosaica (fundamentalistas originais), rejeitando os profetas e a lei oral como espúrios, não criam na vinda do Messias, nem na ressurreição dos mortos, nem em anjos ou demônios. Os saduceus aceitavam como canônicos os primeiros cinco livros ou pentateuco, ainda que, provavelmente, houvessem divergências pessoais, entre os saduceus, a cerca desse particular. Seu partido manteve o controle politico por muito tempo, enquanto um ramo da casta de sacerdotes controlou o ofício de sumo sacerdotes por vários séculos. No novo testamento encontramos várias referências as disputas deles com Jesus (Mar. 12.18; Mat. 16.1,6) e até mesmo a estranha com os fariseus para livrar-se de Jesus. Eles também se opuseram fortemente a igreja primitiva (Atos 4.1; 5.17).
No Novo Testamento penas os evangelhos sinópticos e o livro de atos fazem referencias aos saduceus : Mat. 3.7; 16.1, 6, 11, 12; 22.23; Mar. 12.18; Atos 4.1; 5.17; 23.6-8. São sempre relatórios negativos sobre esta seita, seja por sua oposição e perseguição a Jesus, seja por sua cosmo visão materialista. Eles também se opunham aos apóstolos, efetuando perseguições (Atos 4.1 ss.). A referência final aos saduceus ocorre em Atos 23.6 ss. , por ocasião do julgamento de Paulo pelo sinédrio. Nesse julgamento Paulo conseguiu que os fariseus e saduceus entrassem em choque e debate, pondo em fim à reunião.
Com a queda de Jerusalém em 70 d.C., quando os exércitos romanos destruíram aquela e muitas outras cidades em Judá, os saduceus desapareceram como partido politico e religioso.
2. Herodianos
Eram do partido do Rei Herodes e talvez, altos funcionários de sua casa. Eram conservadores e favoráveis à presença dos romanos. Os Herodianos eram os apoiadores dos Herodes, instituída por motivo de interesses nacionalistas, a fim de impedir o governo romano direto, que era desprezado quase universalmente pelos judeus. Ordinariamente os herodianos reputavam (ou assim diziam) o sucessor dos herodescomo se fora o Messias. Procuravam conservar a politica judaica (isso em acordo com os fariseus). Não eram originariamente ortodoxos em suas crenças religiosas (e nisso concordavam com os saduceus). Os herodianos são mencionados como inimigos de Jesus, por uma vez, na Galiléia; e por mais uma vez em Jerusalém. (Mar. 3:6; 12:13 e Mat. 22:16). Uniam-se aos fariseus no tocante a questão do pagamento de impostos a um governo estrangeiro, pagamento esse que, segundo a mentalidade judaica era consideradoilegal. Eram opositores fortes dos zelotes e perseguiam “agitadores políticos” na Galiléia. Foram os responsáveis pelo assassinato de João Batista.
A identificação desse partido com o partido religioso que, na literatura rabínica, é chamado de os Boethusianos, isto é, aderentes da família de Boethus, cuja a filha, mariamme, foi uma das esposas de Herodes, o Grande e cujos filhos foram criados por ele visando o sumo sacerdócio, atualmente não é bem aceita entre os eruditos.
Os herodianos, tanto quanto os fariseus, estariam ansiosos por se livrarem de Jesus, embora por motivos diferentes. Para eles, ele era um revolucionário politico em potencial, que queria perturbar seus planos de restaurar a monarquia judaica. Os falsos lideres não mais buscavam falsas acusações, mas agora planejavam a morte de Jesus, por meios legais ou ilegais. A opinião antiga de que os herodianos não queriam pagar impostos a Roma, ou se opunham a Jesus porque pensavam que Herodes, o Grande, fosse o Messias, provavelmente é incorreta. Eram simplesmente políticos, que que preferiam o governo romano indireto, através da dinastia herodiana, direto estando ansiosos por assumir algum poder dessa maneira. Jesus, pois, era obviamente perigoso para os planos deles.
3. Fariseus
O nome “fariseu”, no grego FARISAIOS, VEM, por sua vez, do adjetivo aramaico que significa “separado”,“segregado”, “dividido”. Talvez esse nome lhes fora dado pelos inimigos, em virtude do fariseu viver separado do povo temendo a imundície. Eles mesmos, gostavam de chamar-se “haberim”= companheiros, ou “quedosim” = santos.
Os fariseus formavam o partido do povo, tendo grande influência junto a ele. Era composto de trabalhadores rurais, artesãos e pequenos comerciantes. Gostavam do dinheiro embora afirmassem que a parte espiritual era mais importante. Esta minoria levantou-se no seio da comunidade de Israel, composta de homens do Hasidhim, poderosos guardiões da lei de Moises. Foi a frente de resistência ao helenismo pagão e idólatra. Este grupinho pertence aos “escribas”, homens que copiavam, e por tanto conheciam a “Lei”. Reconhecidos com o passar dos tempos como “separados”, os “puritanos”, os “zelotes”. Evoluíram até chegarem ao fariseu tradicionalista e exclusivista do Novo Testamento.
Nas sinagogas gostavam de ocupar os primeiros lugares e quando alguém não concordava com a doutrina deles, o expulsavam.
Foram os fariseus e os Doutores da Lei (escribas) que começaram a organizar o povo depois que voltaram do cativeiro da Babilônia. O templo tinha sido destruído e o grupo que voltava do cativeiro estava muito empobrecido.
Quando chegaram a Palestina encontraram novas ideias e costumes trazidos pelos gregos e romanos (exemplo: moços casavam com moças de outra nação). Combateram esses costumes como forma de unir o povo, em torno da observância mais rigorosa da Lei de Moisés.
Com o tempo viraram fanáticos. Insistiam muito em coisas exteriores, visíveis (exemplo: a observância do Sábado, do jejum, da esmola, circuncisão, etc.). faziam tudo isso para mostrar que eram judeus observantes da lei de Moisés e de outras prescrições impostas pela tradição. Eram rígidos em suas posições. Oprimiam a quem não seguisse seu fanatismo.
Eram zelosos pela lei de Moisés, mas valorizavam sobretudo os ritos e tradições religiosas. Desta forma, conforme se constata em seus embates com Jesus registrados nos evangelhos, o valor da tradição se sobrepunha ao sentido da Lei de Moisés. Criam na vinda do Messias, na ressurreição dos mortos, bem como em anjos e demônios.
As denuncias de Jesus contra os exageros dos fariseus encontraram-se em Mateus 23:13-30 e Marcos 7:9. Naturalmente o Novo Testamento também elogia a vários fariseus, como Nicodemos (João 3:1), que com retidão em defesa de jesusu (João 7:50), mesmo depois que os próprios discípulos haviam fugido (João 19:50). José de Arimatéia também fora fariseu (Mar. 15:43), sendo altamente elogiado no Novo Testamento. Outros avisaram a Jesus de que queriam tirar-lhe a vida (Luc. 13:31), e alguns fariseus mostraram-se hospitaleiros para com ele (Luc. 7:36; 11:37; 14:1), Paulo havia sido fariseu antes de sua conversão (Fil. 3:5), não se tendo envergonhado de poder repetir: Eu sou fariseu, filho de fariseu.... (Atos 23:6).
A luta mais terrível do filho de Deus foi com os fariseus. Grandes batalhas foram travadas. De modo principal, foram os fariseus que preparam o terreno para Jesus ser crucificado. E o fizeram torcendo a verdadeira Lei de Moisés e baseando-se nos preceitos e doutrinas forjados pelos homens.
4. Zelotes
Em grego, zelotai = zelotas ou fanáticos, no hebraico qana, “ser zelotes”. Este partido revolucionário teve início no século I, sob a influência de Judas de Gamala, o Galileu. Representavam a ala mais radical dos fariseus.
Os dirigentes conservavam todo o entusiasmo dos movimentos de libertação anteriores, o mesmo fanatismo pela lei escrita e a tradição oral mais rigorosa. Eram excluídos radicalmente desse movimento os que colaborassem com o Império Romano. Eram os nacionalistas mais radicais entre os judeus.
Aspiravam pela instauração do Reino de Deus, que para eles se resumia numa libertação da dominação estrangeira. O Messias seria um Rei Ungido por Javé, que instauraria seu reino definitivo. Acreditavam que suas instituições (monarquias, templo, sacerdócio e sinagoga) eram válidas e permanentes. Era preciso apenas purificá-las.
Sonhavam com a reorganização da propriedade segundo a vontade de Deus, como redistribuição dos latifúndios, libertação dos escravos e supressão de dívidas. Para eles, a vinda do reino dependia da ação revolucionária. Não aceitavam a passividade. Se organizavam clandestinamente em regiões montanhosas e se preparavam para a luta armada contra os romanos.
Não pagavam impostos a Roma. Eram contrários ao recenseamento. Mobilizaram o povo com promessas de libertação. Conseguiram adesões de muitos rabinos, sacerdotes e da massa popular. Recrutavam militares entre os jovens camponeses empobrecidos pelos romanos. Praticavam os assassinatos, sequestros de personagens importantes, roubavam os ricos.
Eram chamados: zelotes, ladrões ou bandidos (criminosos políticos), sicários (terroristas), galileus (por atuarem na Galiléia). Entre os discípulos de Jesus havia zelotes, Simão, o zelote (Mc 3, 18).
Representavam o partido de extrema esquerda dos fariseus. Estavam mais interessados na política do que na religião, buscando a independência e autonomia da nação mais do que qualquer outra coisa. Segundo Josefo (Antiguidades 18:1), seu fundador foi Judas de Gamala (Judas, o galileu - At 5:37), que incitou os judeus a rebelar-se contra o império quando do censo para fins tributários em 6 a.C. (feito por Quirino, governador da Síria). Foram eles, até certo ponto, que precipitaram a guerra civil de 66 d.C., que resultou na destruição de Jerusalém. Eram fanáticos e sua facção mais extrema eram os sicários. O NT os menciona em Lc 6.15; At 1.13.
5. Os Essênios
Não são mencionados no NT. Sua existência ficou comprovada com a descoberta em 1947 dos Manuscritos do Mar Morto. O nome “essênio” vem de uma palavra hebraica que significa “pio”, “santo”. Praticavam um ascetismo e isolamento rigorosos, e se dedicavam a reproduzir os escritos do Velho Testamento e a fazer seus próprios comentários dos mesmos. Sua origem é do século II antes de Cristo. Separaram-se dos fariseus na época dos Macabeus. Em 1947, ficamos sabendo de sua existência, através da descoberta dos livros e dos pergaminhos do Antigo Testamento, nas cavernas de Qumram. Os essênios conservaram vários escritos extra bíblicos. Assemelhavam-se a uma comunidade de monges com disciplina rígida. Tinham os seus bens em comum, não usavam armas. Praticavam a pobreza, o celibato e a obediência a um superior. Estudavam as Escrituras.
Eram fiéis à Lei de Moisés. Não frequentavam o Templo. Fervorosos, separam-se dos “maus”, dos impuros e dos pagãos. Sua espiritualidade era apocalíptica. Esperavam a intervenção dos “exércitos celestes” para a volta da teocracia (governo de acordo com a ordem religiosa).
Deixaram Jerusalém e foram morar em grutas. Eram camponeses e viviam do produto de seu trabalho. Tinham pouca influência sobre o povo.
Foram destruídos pelos romanos no ano de 68 depois de Cristo. Talvez João Batista tenha pertencido a esse grupo, pelas características de sua pregação. Eles também pregavam a conversão (Mc 1, 14-15).
Jesus não pertenceu a nenhum partido: nem da classe dominante, nem da oposição. A proposta de Jesus é o Reino de Deus. O poder que ele deseja é o poder não para dominar, sim para servir.
A liderança não foi populista. Ele foi ao povo por que o amou, e sendo pobre, sentiu na carne a mesma opressão do povo. A política de Jesus foi em favor dos oprimidos. Os cristãos não devem “fazer média” quando se trata dos injustiçados. Devem tomar posição!
Os essênios se consideravam os únicos e verdadeiros sadoquitas, continuadores da ordem sacerdotal de Sadoque, e desta forma rejeitavam a classe religiosa responsável pelo culto no Templo.
A tradição cristã reputa que João Batista era essênio, não só pela semelhança entre a doutrina de justiça social desta seita e seus ensinamentos, bem como pelos costumes praticados por João, conforme os evangelhos. Há semelhanças de fato, mas dificilmente se pode aceitar isto como certo.
Os essênios eram estudiosos dos profetas, bem como acreditavam na vinda do Messias e na proximidade do fim dos tempos, quando seria executado o julgamento de Deus sobre os homens. Viviam uma vida de rigores, privilegiando o bem comum ao invés da posse privada de bens.
Não habitavam, porém somente reclusos a comunidades afastadas, havendo essênios que viviam nas cidades, procurando, contudo exercer um modo de vida austero. Eram desta forma uma alternativa mais próxima à Lei de Moisés, o que fez com que muitos hassidins adotassem a seita como prática religiosa.
Entre as três principais correntes religiosas, pode-se dizer que os essênios eram ao mesmo tempo a mais respeitada, pela sinceridade de seu comportamento, e a segunda maior em termos numéricos.
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