Quem é o bode expiatório ou "emissário" de Levítico 16 ou o que representa?
Levítico 16 determina o procedimento a ser seguido no Dia da Expiação (Yom Kippur), o décimo de Tisri (em geral no fim de setembro), todos os anos.
Dois bodes deveriam ser separados para essa cerimônia, um que era a oferta pelo pecado (ḥaṭṭāth), e o outro, que deveria ser sacrificado e queimado em holocausto (‘ōlāh).
O primeiro deveria ser imolado no altar, de acordo com as exigências usuais para as ofertas pelo pecado. O segundo deveria ser escolhido, mediante sorteio, para ser sacrifício vivo e chamava-se ‘azā’zēl, palavra que talvez devesse ser vocalizada como‘ez ’āzēl ("um bode de partida").
(É preciso que se entenda que os documentos do AT eram escritos apenas com as consoantes; os pontos representativos das vogais só passaram a ser colocados no texto a partir de 800 d.C.
No caso de nomes próprios ou de termos técnicos obsoletos, sempre havia a possibilidade de alguma confusão na tradição oral em relação às vogais.) A LXX segue essa última forma de ler a palavra e
traduz o hebraico para o grego com o termo chimaros apopompaios ("o cabrito que será mandado embora").
O sumo sacerdote deveria colocar as mãos sobre a cabeça desse cabrito, confessar sobre ele os pecados da nação de Israel e enviar o animal embora, para o deserto, pois ele levaria sobre si, simbolicamente, toda a culpa da nação (Lv 16.21).
A tradição segundo a qual o bode emissário era o nome de um demônio do deserto originar-se-ia muito tempo depois e estaria totalmente em desacordo com os princípios da redenção ensinados na Torá. Portanto, é inteiramente errado imaginar que esse cabrito representava o próprio Satanás, visto que nem o Diabo nem seus demônios jamais são mencionados nas Escrituras desempenhando funções expiatórias em prol da humanidade — que é a implicação dessa interpretação.
Ao contrário, cada sacrifício de animais a que a lei de Moisés se refere simbolizava algum aspecto da obra expiatória de Cristo. O bode que representava a oferta pelo pecado significava a substituição que Jesus fez: sua vida sem culpa alguma substituiu a vida cheia de falhas do pecador condenado.
No caso do bode emissário, ele representa a remoção do pecado diante de Deus. Assim como o Pai
colocou as transgressões dos crentes sobre o Filho, na cruz (Is 53.6), para que fossem removidas eternamente, com o ‘ez’āzēl, sobre o qual todas as iniquidades de Israel foram simbolicamente atiradas por Arão, enviadas para o deserto, elas jamais seriam lembradas.
sexta-feira, 6 de outubro de 2017
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