No deserto da crise precisamos saber que a tentação vem depois de uma
grande benção
Os grandes homens têm também os pés de barro. Uma
grande vitória hoje não é garantia de sucesso amanhã. Não há um tempo mais
perigoso e vulnerável na vida de uma pessoa do que depois de uma grande
vitória. A tendência é o relaxamento depois de uma grande luta. O triunfo em
uma luta pode fazer-nos baixar a guarda e ensarilhar as armas.
A tentação tem diversos ângulos. Às vezes a pessoa é
cuidadosa em uma área, mas não vigia em outra. Muitas pessoas são honestas no
trato com o dinheiro, mas são vulneráveis na área do sexo. Outras são zelosas
quando se trata de sexo, mas são relapsas quando se trata de lidar com
dinheiro. Há aqueles cujo ponto vulnerável é a sede de poder. Há pessoas
confiáveis nos negócios, mas pervertidas moralmente.
Ouvi certa vez a história de um homem que saiu com uma
mulher para fazer um lanche. Pediram o lanche ao atendente e foram a um parque
onde pretendiam degustar o delicioso cardápio. Logo que desembrulharam o
pacote, descobriram que era um maço de dinheiro. O dono da lanchonete equivocou-se.
Entregou o dinheiro que deveria ir para o banco pensando ser o lanche. Ao perceber
o engano, o homem imediatamente voltou à lanchonete para devolver o dinheiro.
O dono do estabelecimento já estava aflito, angustiado com o seu engano.
Quando recebeu o dinheiro, exultou de alegria e disse: "Esse fato precisa
ser registrado. Ainda existem homens honestos. A nossa cidade precisa tomar
conhecimento da sua honestidade. Chamarei um repórter. Tiraremos uma fotografia
do casal e contaremos essa história de honestidade para todos". O homem,
porém, recusou terminantemente a proposta, dizendo que a mulher que o
acompanhava não era a sua esposa, e que ninguém deveria saber desse fato. O
homem era confiável em uma área, mas vulnerável e falho na outra.
O mesmo Isaque, que já tinha uma longa caminhada com
Deus, que já ouvira Deus falar com ele e que estava pronto a obedecer a Deus,
comete agora um sério deslize moral. Ele, que já passara por provas mais
difíceis, agora naufraga em uma prova menor. Depois de triunfar sobre a
inexpugnável cidade de Jerico, Israel foi derrotado pela pequena cidade de Ai.
Davi venceu um leão, matou um urso e derrubou um gigante, mas caiu na teia da
impureza. Sansão foi capaz de matar mil filisteus com uma queixada de jumento,
mas se deixou derrotar no colo de uma mulher filistéia. O grande intérprete do
Cristianismo, o apóstolo Paulo, chegou mesmo a afirmar que, quando somos
fortes, somos fracos. Quando, porém, reconhecemos nossas limitações e passamos
a confiar em Deus e a vigiar com mais cuidado, somos fortes.
Isaque tem medo de apresentar sua mulher como esposa.
Pensando em se proteger, ele a expõe. Para salvar sua pele, ele coloca a sua
mulher em perigo. Isaque cometeu três delitos graves.
1. Mentira
Isaque afirma que Rebeca é sua irmã. Ele nega o mais
estreito dos vínculos entre duas pessoas, o casamento. E assim coloca sua
mulher em uma situação extremamente complicada.
Isaque desrespeitou sua esposa. Agiu insensatamente.
Jogou a sua mulher na arena da cobiça. Ele a empurrou para o campo da sedução e
a expôs na vitrine do desejo. Rebeca era bonita e poderia ser desejada. Em
momento algum pensou nos sentimentos da esposa, no caráter dela, na aliança que
um dia firmara para amá-la e protegê-la. Só pensou em si. Agiu egoisticamente.
2. Egoísmo
A maioria dos fracassos na área sexual é fruto do
egoísmo. O egoísmo é responsável em grande parte pelos casamentos desfeitos.
Egoísmo é pensar só em si, no seu próprio bem-estar, no seu conforto, no seu
prazer, sem levar o outro em conta. Egoísmo é entrar numa relação apenas com
uma perspectiva utilitarista. É fazer do outro um meio, um objeto, um
instrumento para satisfazer seus caprichos. É usar e abusar do outro sem se
importar com a sua dignidade. O amor não é centralizado no eu. Não busca os seus próprios
interesses.
3. Medo
O medo é o órfão do amor. O amor lança fora todo o
medo. O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais
acaba. O amor é guerreiro. É mais forte do que a morte. As muitas águas não podem
afogá-lo.
Isaque temeu porque não amou. O amor corre riscos. O
amor não transige com o erro. O medo de Isaque foi desamor à esposa e descrença
em Deus. Ele temeu ser morto por causa da esposa, porque deixou de
confiai" no livramento de Deus. Ele quis tomar os cuidados da sua vida em
suas próprias mãos.
A vida é cercada de perigos. Viver é lutar. Só os
covardes se escondem. Só os medrosos se cercam de mentiras para se protegerem.
A couraça da mentira, porém, é falsa. A proteção do engano é falaz. Quem nos guarda é o Senhor.
Muitas pessoas, como Isaque, conseguem grandes
vitórias na vida profissional e fracassam no casamento. Outros alcançam o
apogeu da glória humana e perdem os filhos. Isaque falhou como marido e fracassou como
pai. Foi um grande homem, teve grandes virtudes, demonstrou ousadia em alguns
momentos da vida e era profundamente paciente, mas não teve muito tato no trato com a esposa e com os
filhos. Isaque perdeu o diálogo com Rebeca. Sua esposa já não compartilhava com
ele as tensões do seu coração. Ela incentivou Jacó a enganar Isaque para
receber sua bênção. Encorajou o filho a mentir e dispôs-se a assumir a culpa
no lugar dele. O mau exemplo de Isaque foi assimilado pela esposa.
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