Thomas Hobbes (1588-1679) foi um filósofo e teórico político cujo trabalho
abordou as áreas da política, psicologia, matemática e física. Entre as suas
maiores contribuições, está a obra Leviatã (1651), na
qual o pensador propõe uma linha de pensamento que rompe com os ideais
medievais e lança luz sobre os paradigmas do Estado, explorando qual seria a
sua verdadeira função social. Que tal conhecer um pouco sobre a sua trajetória
e relembrar os fundamentos que originaram a famosa expressão “o homem é o lobo
do homem”? Confira!
Thomas Hobbes: breve biografia
Nascido na aldeia de Westport, em Wiltshire, na Inglaterra, em 5 de
abril de 1588, desde cedo Thommas Hobbes foi educado por um tio, que o auxiliou
no estudo dos clássicos. Pouco depois, foi à Universidade de Oxford, onde
estudou lógica e filosofia - principalmente aristotélica. Aos 20 anos,
formou-se em arte no Magdalen Hall.
Em 1608, torna-se tutor da poderosa família Cavendish, com quem
pôde fazer diversas viagens e aprimorar seus conhecimentos culturais. Em 1610,
visita a França e a Itália, onde estuda literatura e filosofia por meio
das obras de Galileu, Kepler e Euclides. Na Itália, conhece pessoalmente
Galileu, que influencia diretamente a formação de suas ideias filosóficas e sua
relação com problemas sociais e políticos.
Entre 1621 e 1626, trabalha como secretário de Francis Bacon,
filósofo e político inglês, retornando à Inglaterra apenas em 1637. Na ocasião,
sustenta suas ideias de maneira impetuosa, apesar da situação política delicada
e do prenúncio de uma guerra civil. Por defender argumentos ligados à realeza,
Hobbes vai para a França em 1640, com medo de sofrer retaliações.
Em Paris, envolve-se em uma vasta produção intelectual: questiona ideias
propostas por Descartes e é tutor de Carlos II, futuro rei da Inglaterra,
que também exilava-se na França em busca de segurança. Porém, Hobbes decide
deixar o país devido à repercussão positiva de seus ideais, expressos em Leviatã, e
ao retornar à Inglaterra, declara seu apoio ao Ministro Oliver Cromwell. Em
seus últimos anos, mantém-se ocupado com a tradução dos textos Ilíada e Odisséia.
Morre em 1679, aos 91 anos, durante uma viagem à cidade de Hardwick.
A filosofia de Hobbes
Dentre o seu vasto trabalho intelectual, são consideradas as
contribuições mais relevantes de Hobbes aquelas para as ciências políticas,
frutos da sua principal obra literária. Acompanhe.
O contexto de Leviatã
A obra Leviatã foi escrita por
Hobbes em 1651 e é considerada um marco em sua carreira, sendo um dos primeiros
textos a defender a monarquia absolutista a partir de argumentos racionais. O
livro também figura entre um dos principais elementos para a ruptura com os
ideais da Idade Média, uma vez que se preocupa em descrever a realidade da
época de maneira fiel.
Hobbes proporciona uma reflexão sobre o papel do Estadoe a sua
verdadeira função social. Sua principal análise nasce do pensamento de que o
homem é um ser individualista, mas, em razão de sobrevivência, decide viver e
se organizar em sociedade, estabelecendo um contrato entre governantes e
governados.
No Livro de Jó, parte da Bíblia, Leviatã é descrito como um monstro
que governa o caos. Por isso, para o filósofo, o Estado seria o Grande Leviatã,
que se sobrepõe a todos os indivíduos.
Neste livro, assim como em suas obras De Cive (1642), De
Corpore (1655) e De Homine (1658),
Hobbes defende a existência de um constante estado de
guerra, conceito que resulta em um de seus pensamentos mais
populares: Bellum omnia contra omnes, homo homini
lupus - “o homem é o lobo do homem.” Ou seja, seu principal
predador.
O contrato social
Inicialmente, Hobbes parte do princípio de que o estado de
natureza seria um estado de violência. Isso porque o filósofo entende a figura
humana como egoísta, competitiva, vingativa e ambiciosa.
Dentro dessa guerra de comparações,
segundo ele inatas ao homem, o desejo de se preservar seria latente. Dessa
maneira, o ser humano estaria disposto a matar, subjugar e repelir o próximo
para garantir a sua própria sobrevivência. Portanto, dentro de uma sociedade
organizada nesse estado de natureza, a vida seria brutal, infeliz e
extremamente violenta, marcada pelo sentimento mais intenso que o homem seria
capaz de nutrir: o medo da morte.
É desta reflexão que nasce o seu conceito de contrato
social, um meio para promover o fim da guerra e do medo entre
os indivíduos. Esse seria um acordo feito entre todos os membros de uma
sociedade para reconhecer a autoridade de um soberano, que também seria dono de
direitos considerados iluminados - ou seja, divinos. Seria a obrigação desse
representante divino fazer valer o contrato social e, consequentemente,
garantir a ordem e a paz entre todos os indivíduos que governa.
Portanto, segundo as ideias de Hobbes, para a construção de uma
sociedade racional, os indivíduos nela presentes deveriam abrir mão de
determinados direitos, como a liberdade, com o objetivo de selar um acordo no
qual concordam em não ser violentos uns com os outros. Segundo essa visão, aqui
o medo da morte atuaria de maneira positiva, uma vez que ao abrir mão do papel
de criar leis ou escolher um novo representante com regularidade, os indivíduos
ganhariam a possibilidade de viver uma vida mais tranquila e sem maiores
incômodos.
Dessa forma, também é interessante perceber que Hobbes garante a legitimidade
do Estado Absolutista baseando-se na sua função de garantir segurança aos
membros da sociedade. No caso, esse é o ponto que levou outros defensores do
absolutismo a não concordarem com a suas ideias: para muitos pensadores, um
soberano deveria ter seu poder legitimado simplesmente pela tradição e por
Deus.
O trabalho de Thomas Hobbes foi, sem dúvida, uma grande
contribuição para o pensamento filosófico, sendo um dos primeiros a explorar o
papel do Estado e sua relação com o comportamento humano e propor análises
sobre o absolutismo, contribuindo para a discussão sobre a permanência ou não
deste sistema. Entender suas ideias é importante não apenas para a sua formação
acadêmica, mas também para a formação de um pensamento crítico e de um olhar
socialmente questionador. Filosofo contratualista
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