HISTÓRIA
DA FILOSOFIA PARTE XIII - Introdução às obras Aristotélica: POLÍTICA
A política aristotélica é essencialmente unida à moral, porque o
fim último do estado é a virtude, isto é, a formação moral dos cidadãos e o
conjunto dos meios necessários para isso. O estado é um organismo moral,
condição e complemento da atividade moral individual, e fundamento primeiro da
suprema atividade contemplativa. A política, contudo, é distinta da moral,
porquanto esta tem como objetivo o indivíduo, aquela a coletividade. A ética é
a doutrina moral individual, a política é a doutrina moral social. Desta
ciência trata Aristóteles precisamente na Política, de que acima se falou.
O estado, então, é
superior ao indivíduo, porquanto a coletividade é superior ao indivíduo, o bem
comum superior ao bem particular. Unicamente no estado efetua-se a satisfação
de todas as necessidades, pois o homem, sendo naturalmente animal social, político,
não pode realizar a sua perfeição sem a sociedade do estado.
Visto que o estado
se compõe de uma comunidade de famílias, assim como estas se compõem de muitos
indivíduos, antes de tratar propriamente do estado será mister falar da
família, que precede cronologicamente o estado, como as partes precedem o todo.
Segundo Aristóteles, a família compõe-se de quatro elementos: os filhos, a
mulher, os bens, os escravos; além, naturalmente, do chefe a que pertence a
direção da família. Deve ele guiar os filhos e as mulheres, em razão da
imperfeição destes. Deve fazer frutificar seus bens, porquanto a família, além
de um fim educativo, tem também um fim econômico. E, como ao estado, é-lhe
essencial a propriedade, pois os homens têm necessidades materiais. No entanto,
para que a propriedade seja produtora, são necessários instrumentos inanimados
e animados; estes últimos seriam os escravos.
Aristóteles não nega
a natureza humana ao escravo; mas constata que na sociedade são necessários
também os trabalhos materiais, que exigem indivíduos particulares, a que fica
assim tirada fatalmente a possibilidade de providenciar a cultura da alma, visto
ser necessário, para tanto, tempo e liberdade, bem como aptas qualidades
espirituais, excluídas pelas próprias características qualidades materiais de
tais indivíduos. Daí a escravidão.
Vejamos, agora, o estado em particular. O estado surge, pelo fato de ser o homem um animal naturalmente social, político. O estado provê, inicialmente, a satisfação daquelas necessidades materiais, negativas e positivas, defesa e segurança, conservação e engrandecimento, de outro modo irrealizáveis. Mas o seu fim essencial é espiritual, isto é, deve promover a virtude e, consequentemente, a felicidade dos súditos mediante a ciência.
Vejamos, agora, o estado em particular. O estado surge, pelo fato de ser o homem um animal naturalmente social, político. O estado provê, inicialmente, a satisfação daquelas necessidades materiais, negativas e positivas, defesa e segurança, conservação e engrandecimento, de outro modo irrealizáveis. Mas o seu fim essencial é espiritual, isto é, deve promover a virtude e, consequentemente, a felicidade dos súditos mediante a ciência.
Compreende-se,
então, como seja tarefa essencial do estado a educação, que deve desenvolver
harmônica e hierarquicamente todas as faculdades: antes de tudo as espirituais,
intelectuais e, subordinadamente, as materiais, físicas. O fim da educação é
formar homens mediante as artes liberais, importantíssimas a poesia e a música,
e não máquinas, mediante um treinamento profissional. Eis porque Aristóteles,
como Platão, condena o estado que, ao invés de se preocupar com uma pacífica
educação científica e moral, visa a conquista e a guerra. E critica, dessa
forma, a educação militar de Esparta, que faz da guerra a tarefa precípua do
estado, e põe a conquista acima da virtude, enquanto a guerra, como o trabalho,
são apenas meios para a paz e o lazer sapiente.
Não obstante a sua
concepção ética do estado, Aristóteles, diversamente de Platão, salva o direito
privado, a propriedade particular e a família. O comunismo como resolução total
dos indivíduos e dos valores no estado é fantástico e irrealizável. O estado
não é uma unidade substancial, e sim uma síntese de indivíduos substancialmente
distintos. Se se quiser a unidade absoluta, será mister reduzir o estado à
família e a família ao indivíduo; só este último possui aquela unidade
substancial que falta aos dois precedentes. Reconhece Aristóteles a divisão
platônica das castas, e, precisamente, duas classes reconhece: a dos homens
livres, possuidores, isto é, a dos cidadãos e a dos escravos, dos
trabalhadores, sem direitos políticos.
Quanto à forma
exterior do estado, Aristóteles distingue três principais: a monarquia, que é o
governo de um só, cujo caráter e valor estão na unidade, e cuja degeneração é a
tirania; a aristocracia, que é o governo de poucos, cujo caráter e valor estão
na qualidade, e cuja degeneração é a oligarquia; a democracia, que é o governo
de muitos, cujo caráter e valor estão na liberdade, e cuja degeneração é a
demagogia. As preferências de Aristóteles vão para uma forma de república
democrático-intelectual, a forma de governo clássica da Grécia, particularmente
de Atenas. No entanto, com o seu profundo realismo, reconhece Aristóteles que a
melhor forma de governo não é abstrata, e sim concreta: deve ser relativa,
acomodada às situações históricas, às circunstâncias de um determinado povo. De
qualquer maneira a condição indispensável para uma boa constituição, é que o
fim da atividade estatal deve ser o bem comum e não a vantagem de quem governa
despoticamente.
FAMILIA E EDUCAÇÃO
O Estado deve
promover a família e a educação, legislando sobre as mesmas.
"Convém fixar o
casamento das mulheres nos dezoito anos, e o dos homens nos trinta e sete, ou
pouco menos. Assim a união será feita no momento do máximo vigor e os dois
esposos terão um tempo pouco mais ou menos igual para educar a família, até que
cessem a ser próprios à procriação" (Política, 4,c.14, § 6).
Com vistas à depuração social defende ainda:
"Quanto a saber quais os filhos que se devem abandonar ou educar, deve haver uma lei que proíba alimentar toda a criança disforme. Sobre o número dos filhos (porque o número dos nascimentos deve sempre ser limitado), se os costumes não permitem que os abandonem e se alguns casamentos são tão fecundos que ultrapassem o limite fixado de nascimentos, é preciso provocar o aborto, antes que o feto receba animação e a vida; com efeito, só pela animação e vida se poderá determinar se existe crime" (Política, 4,c.14, § 10).
Só modernamente se veio a saber melhor sobre a vida. Enquanto isto demorou, até moralistas cristãos admitiram o aborto antes da referida animação de que fala Aristóteles, como acontecida apenas em um estágio adiantado da gestação.
Com vistas à depuração social defende ainda:
"Quanto a saber quais os filhos que se devem abandonar ou educar, deve haver uma lei que proíba alimentar toda a criança disforme. Sobre o número dos filhos (porque o número dos nascimentos deve sempre ser limitado), se os costumes não permitem que os abandonem e se alguns casamentos são tão fecundos que ultrapassem o limite fixado de nascimentos, é preciso provocar o aborto, antes que o feto receba animação e a vida; com efeito, só pela animação e vida se poderá determinar se existe crime" (Política, 4,c.14, § 10).
Só modernamente se veio a saber melhor sobre a vida. Enquanto isto demorou, até moralistas cristãos admitiram o aborto antes da referida animação de que fala Aristóteles, como acontecida apenas em um estágio adiantado da gestação.
O grande
Aristóteles, apesar de sua vida relativamente curta (62 anos) e da perda de
seus livros mais literários e brilhantes, continua sempre grande.
Não se sabendo dizer
se foi mesmo o maior filósofo dentre os até agora nascidos, certamente é
Aristóteles ainda uma das cordilheiras mestras do pensamento humano.
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