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quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

John Duns Scot


Duns Scot, John (1266-1308)
Resultado de imagem para John Duns ScotNasceu na Escócia e morreu em Colônia. Co­nhecido como Doctor Subtilis por sua sutileza e sagacidade. Estudou as primeiras letras nos franciscanos, onde entrou aos quinze anos. Fez estudos de filosofia e teologia em Oxford e Paris. Em 1304, foi nomeado mestre em teolo­gia desta última universidade. Em 1305-1306 voltou a Oxford como professor de língua es­trangeira, onde escreveu sua obra principal o Comentário às sentenças, conhecido como Opus Oxoniense. Em 1308 foi chamado a Colônia, onde morreu.
A breve vida de Duns Scot é ocupada toda ela por sua atividade docente e científica. Entre suas obras destacam-se o Tractatus de primo princi­pio; as Quaestiones in Metaphysicam; o Opus Oxoniense ou Comentário às Sentenças; as Reportata parisiensia e um Quodlibet. As três primeiras pertencem à época de sua estada em Oxford; as outras duas são resultantes de seu magistério em Paris. O catálogo definitivo das obras autênticas somente se terá no término da edição crítica iniciada em 1950. A pesquisa mo­derna prossegue em busca de novas obras. Hoje a crítica considera apócrifas algumas delas.
Convém afirmar que Scot é fundamentalmen­te agostiniano, como inglês e franciscano. Seu pensamento sente o peso da tradição de Oxford e de sua ordem franciscana, particularmente a dos grandes mestres como São *Boaventura.
Seus pontos básicos de repercussão são os se­guintes:
— O ponto de partida básico, que o separa de Santo Tomás é: a) O contraste entre a verdade racional da metafísica — própria da razão huma­na e válida, portanto, para todos os homens — e a verdade da fé à qual a razão pode somente se submeter e que tem uma certeza bem sólida para os católicos. b) A fé não tem nada a ver com a ciência. A fé pertence ao domínio prático. “A fé não é um hábito especulativo, nem o crer é um
ato especulativo, nem a visão que segue ao crer é uma visão especulativa, mas prática” (Opus Ox., pról. c. 3).
— Tudo o que ultrapassa os limites da razão humana já não é ciência, mas ação ou conheci­mento prático. Daí: a) A separação e a antítese na doutrina de Scot entre o teórico e o prático. b) O teórico é o domínio da necessidade, da demons­tração racional e da ciência. O prático, o domínio da liberdade e, por conseguinte, da falta e impos­sibilidade da demonstração e da fé. c) Em conse­quência, o fim da teologia não é teórico, mas educativo e prático. A teologia não pode ser cha­mada ciência propriamente dita.
— De acordo com esse conceito de ciência, Scot considera impossível demonstrar por meio da razão todos os atributos de Deus e, inclusive, a imortalidade da alma. Derruba a tentativa da escolástica, principalmente tomista, de experi­mentar racionalmente a existência de Deus. “Não se pode provar, demonstrar que Deus vive, que é sábio e inteligente, que é dotado de vontade, que é a primeira causa eficiente etc” (Theoremata, c. XIV, XV, XVI etc.).
— A univocidade, em aberta oposição a San­to Tomás, é característica de Scot. O ser, concei­to fundamental e primeiro, não entra em nenhu­ma categoria: é transcendente. É uma noção unívoca, não análoga, e é comum a todas as coi­sas existentes: às criaturas e a Deus.

Desse princípio nascem os caracteres peculia­res da teodicéia escotista, particularmente de cara as afirmações sobre o problema da cognoscibilidade de Deus, que podemos resumir nestes pontos: a) Os conceitos que a nossa mente forma de Deus não são unicamente negativos nem são apenas análogos, mas positivos, conotativos da essência divina e, em parte pelo menos, unívocos. b) O conceito mais simples e, por isso, o mais perfeito, que a nossa mente pode formar sobre Deus é o de ser infinito. c) Partindo de que o ser infinito é sem causa e necessário, Scot assu­me o argumento ontológico de Santo *Anselmo.

“Se um ser sem causa é possível, devemos con­cluir, de acordo com o princípio de contradição, que esse ser existe de fato.” Afasta-se assim das vias de Santo *Tomás: os feitos a posteriori de evidência sensível empregados por este são su­bstituídos por uma verdade de evidência inte­lectual.                 Da mesma forma, a doutrina escotista res­salta o primado da vontade sobre o entendimen­to. E isto em todas os sentidos, para Scot, a von­tade: a) não é passiva mas ativa; b) não se deter­mina por uma necessidade; c) sua importância moral é superior à do entendimento. Daí que para ele o amor seja superior à própria fé. “Vale mais amar a Deus do que conhecê-lo. E vice-versa: a perversão da vontade é mais grave do que a do entendimento”.
Não acaba aqui a doutrina de Scot. Interes­sante é sua doutrina sobre o conhecimento do sin­gular, os universais, a união da alma e do corpo, o princípio de individualização, o conceito de lei natural, a estrutura do ato moral etc.
— “Sua tentativa de enriquecer a tradição agostiniana com as doutrinas do aristotelismo mereceu-lhe a honra de ser considerado o doutor mais representativo da escola franciscana. No entanto, os pontos fracos e as conciliações super­ficiais, que frequentemente o fazem oscilar entre Aristóteles e Santo *Agostinho, infundem a mui­tos estudiosos sérias dúvidas sobre a coerência e a solidez intrínsecas de seu pensamento: Aqui reside, mais do que no restante, seu significado histórico e seu valor teórico” (E. Bretton, Diccionario de filósofos).

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