Antístenes
E o prelúdio do Cinismo
A figura de maior
relevo entre os Socráticos menores foi Antístenes, que viveu na passagem entre
os sécs. V e IV a.C., filho de pai ateniense e mãe trácia. Frequentou
inicialmente os Sofistas, tornando-se discípulo de Sócrates apenas em idade um
tanto avançada. Das numerosas obras que lhe são atribuídas, apenas alguns
fragmentos chegaram até nós.
Antístenes destacou
sobre tudo a extraordinária capacidade prático-moral de Sócrates, como a
capacidade de bastar-se a si mesmo, a capacidade de autodomínio, a força de
ânimo, a capacidade de suportar o cansaço. Limitou ao mínimo indispensável os
aspectos doutrinários, opondo-se duramente ao desenvolvimento lógico-metafísico
que Platão imprimira ao Socratismo.
A lógica de Antístenes,
portanto, revela-se um tanto redutiva. Segundo nosso filósofo, não existe uma
definição das coisas simples: nós as conhecemos com a percepção e as
descrevemos por meio de analogias. No que se refere às coisas complexas, sua
definição mais não é que a descrição dos elementos simples de que são
constituídas. A instrução deve concentrar-se na “busca dos nomes”, isto é, no
conhecimento linguístico. De cada coisa só é possível afirmar o nome que lhe é
próprio (por exemplo, o homem é “homem”) e, portanto, só se pode formular
juízos tautológicos (afirmar o idêntico pelo idêntico).
Antístenes fundou sua
Escola no ginásio de Cinosarge (= “cão ágil”), de onde talvez a Escola tenha
tomado o nome com que ficou conhecida. Outras fontes relatam que Antístenes era
denominado “cão puro”. Dió- genes de Sínope, ao qual o Cinismo deve o seu
florescimento máximo, denominou-se “Diógenes, o cão”. Mas a esse assunto
voltaremos adiante, quando daremos mais indicações sobre a natureza e o
significado do “Cinismo”
Em segundo lugar,
também pelas mesmas razões, Aristipo assumiu em relação ao dinheiro
posicionamento que, para um socrático, era absolutamente abusado: com efeito,
chegou a cobrar suas lições, exatamente como faziam os Sofistas, a ponto de os
antigos chamarem-no simplesmente de “Sofista”.
Com base nos
testemunhos que chegaram até nós, é difícil, para não dizer impossível,
distinguir o pensamento de Aristipo do de seus sucessores imediatos. Sua filha
Arete recebeu em Cirene a herança espiritual paterna e a
passou ao filho, a quem deu o mesmo nome do avô (o qual, assim, passou a ser
denominado Aristipo o Jovem). E provável que o núcleo essencial da doutrina
cirenaica tenha sido fixado justamente pela tríade Aristipo-Arete-Aristipo o
Jovem. Posteriormente a Escola dividiu- se em diversas correntes de escasso
relevo, chefiadas por Aniceris, Egésia (apelidado de “o persuasor de morte”) e
Teodoro (chamado o “ateu”).
Fundador da Escola Cínica, Antístenes
foi discípulo de Sócrates e destacou das teorias deste em especial as práticas
morais como o autodomínio a auto-suficiência a força de ânimo e a
capacidade de superar as dificuldades como o cansaço.
Para ele não existe uma simples definição das coisas, o que acontece é
que nós conhecemos as coisas através da nossa percepção e vamos descrever essas
coisas através das relações de semelhança que elas tem com outras coisas.
Descrevemos os traços comuns entre as coisas através de analogias. Para
podermos fazer uma descrição mais complexa das coisas o que fazemos é descrever
cada um dos elementos de que são constituídas.
Antístenes levou ao extremo uma das ideias de Sócrates que é a da
auto-suficiência. O homem deve bastar-se a si mesmo, isso é, não depender dos
outros para nada ou para o mínimo possível, as pessoas em sua auto-suficiência
precisam não ter necessidade de nada de que venha de outras pessoas.
Além da auto-suficiência Antístenes radicaliza também o conceito de
autodomínio proposto por Sócrates. O ser humano tem que dominar além dos
prazeres as dores. Antístenes vê o prazer como um mal e dele temos que nos
separar sempre e de qualquer forma. A busca pelo prazer e o prazer em si tira
das pessoas o controle que elas tem delas mesmas. O homem deve portanto
combater os impulsos que o levem a buscar prazer e se separar das riquezas que
o acomodam a uma vida fácil.
A glória e a fama são para Antístenes ilusões criadas pela sociedade
e que destroem a liberdade das pessoas fazendo com que se tornem escravas
dessas ilusões. Para ele a pessoa sábia deve viver segundo as regras da virtude
e não segundo as regras da sociedade. O homem para libertar-se dessas ilusões
deve afastar-se das relações sociais e buscar em si mesmo algo que lhe baste, a
virtude.
É creditada também a Antístenes uma grande valorização do
trabalho o que em sua época vai contra o senso comum de que o trabalho é
algo negativo e que inferioriza o homem. O homem digno encontra sua dignidade
no trabalho que está diretamente ligado a busca da virtude. O modelo era
Hércules que em seus trabalhos superou grandes fadigas e venceu monstros
tornando-se símbolo da sabedoria cínica por superar os prazeres e vencer as
dores demonstrando sua auto-suficiência e a força do seu ânimo.
O fim do homem é a felicidade e o homem alcança a felicidade vivendo na
virtude que é suficiente em si mesma. A virtude é o bem maior e os prazeres só
fazem afastar os homens da virtude fazendo com que se distanciem da felicidade.
Ética
Antístenes foi um pupilo de Sócrates, de quem
ele aprendeu o preceito ético fundamental de que a virtude,
e não o prazer, é a meta da existência. Tudo o que um sábio faz, disse
Antístenes, está em conformidade com a virtude perfeita,e
o prazer não apenas é desnecessário, como é mesmo um mal positivo. Relatou-se
que teria acreditado que a dor e
até mesmo a má reputação (em grego: ἀδοξία) seriam
bençãos, e que teria afirmado: "prefiro enlouquecer a sentir prazer." Parece,
provável, no entanto, que ele não considerasse todo tipo de prazer desprezível,
mas apenas aquele que resulta da gratificação dos desejos sensuais ou
artificiais, pois é possível encontrar palavras suas louvando os prazeres que
brotam "de dentro da alma de alguém", e
o gozo de uma amizade escolhida com sabedoria. Antístenes
colocava o bem supremo numa vida vivida de acordo com a virtude -
virtude esta que consistia da ação, que quando obtida nunca é perdida, e exime
o sábio do erro. Está
fortemente ligada à razão, porém para que ela possa se desenvolver na ação, e
para ser suficiente para a felicidade, precisa do auxílio da força
socrática (em grego: Σωκρατικὴ ἱσχύς).
Sua obra sobre a filosofia natural (Physicus)
continha uma teoria sobre a natureza dos deuses, onde Antístenes
argumentava que existiam diversos deuses nos quais as pessoas acreditavam,
porém apenas um Deus natural. Também
afirmou que Deus não lembrava em nada qualquer coisa existente na Terra, e que
portanto não poderia ser compreendido a partir de qualquer representação sua.
Na lógica, Antístenes foi atormentado pelo
problema do Um e dos Muitos. Como um nominalista de fato, acreditava que a
definição e o predicado são ou falsos ou tautológicos, já que só se pode
afirmar que cada indivíduo é o que ele é, e não pode fornecer mais do que uma
mera descrição de suas qualidades. Desacreditava,
assim, o sistema platônico das Ideias. "Um cavalo", segundo Antístenes,
"eu vejo, porém a qualidade inerente a todos os cavalos eu não vejo." A
definição seria um mero método circular de declarar uma identidade: "uma
árvore é um vegetal que cresceu" não faria mais sentido, portanto, em
termos de lógica, do que "uma árvore é uma árvore".
O Cinismo (em
grego antigo: κυνισμός kynikós, em latim cinicus) foi uma corrente filosófica
(Filosofia Cínica) fundada por Antístenes, discípulo de Sócrates e como tal
praticada pelos cínicos (em grego antigo: Κυνικοί, latim: Cynici). Para os
cínicos, o propósito da vida era viver na virtude, de acordo com a natureza.
Como criaturas racionais, as pessoas podem alcançar a felicidade através de um
treinamento rigoroso e ao viver de modo natural para os seres humanos,
rejeitando todos os desejos convencionais de riqueza, poder, sexo e fama. Em
vez disso, eles estavam a levar uma vida simples livre de todas as posses.
O
primeiro filósofo a delinear estes temas foi Antístenes, que tinha sido aluno
de Sócrates no final do século 5 a.C. Ele foi seguido por Diógenes
de Sinope, que vivia em uma banheira de água nas ruas de Atenas.
Diógenes levou o cinismo aos seus extremos lógicos, e passou a ser visto como o
arquétipo de filósofo cínico, sua autarkeia (auto-suficiência) e a apatheia
perante as vicissitudes da vida eram os ideais do cinismo. Ele foi seguido por Crates
de Tebas que abriu mão de toda sua fortuna para que pudesse viver
uma vida de pobreza cínica em Atenas. O cinismo se espalhou durante a ascensão
do Império Romano no século quase se tornando um movimento de massa e assim
eram encontrados pedindo e pregando ao longo das cidades do Império. A doutrina
desapareceu no final do século 5, embora alguns afirmam que o cristianismo
primitivo adotou muitas de suas idéias ascéticas e retóricas.
Por
volta do século 19, a ênfase sobre os aspectos negativos da filosofia cínica
levou ao entendimento moderno de cinismo a significar uma disposição de
descrença na sinceridade ou bondade das motivações e ações humanas e como
caraterização de pessoas que desprezam as convenções sociais. Para os Cínicos,
a vida virtuosa consistia na independência, obtida através do domínio de
desejos e necessidades; para encorajar as pessoas a renunciarem aos desejos
criados pela civilização e pelas convenções, os cínicos empreenderam uma
cruzada de escárnio anti-social, na esperança de mostrar, pelo seu próprio
exemplo, as frivolidades da vida social.
Origem
do termo
O nome
“cínico” (em grego antigo: κυνικός kynikos, igual a um cão, κύων (kyôn)|cão}}
(genitivo: kynos).5 Uma explicação existente em tempos antigos de porque os
cínicos eram chamados de cães era porque o primeiro cínico, Antístenes,
ensinava no ginásio Cinosargo em Atenas. A palavra Cynosarges significa pode
significar “alimento de cão”, “cão branco”, ou “cão rápido”. Parece certo,
contudo, que a palavra “cão” também foi lançada aos primeiros cínicos como um
insulto por sua rejeição descarada quanto às convenções sociais e sua decisão
de viver nas ruas.
Origem
Supostamente,
o pensamento cínico teve origem numa passagem da vida de Sócrates: estando este
a passar pelo mercado de Atenas, teria exarado o comentário:
Vejam de quantas coisas precisa o ateniense para viver
Ao
mesmo tempo demonstrava que de nada daquilo dependia. De fato, o que o filósofo
propunha era a busca interna da felicidade, que não tem causas externas —
aspecto o qual os cínicos passaram a defender, não somente com palavras, mas pelo
modo de vida adotado.
Frases
- Observe o
teu inimigo porque é ele que primeiro vê teus defeitos.
- Eu prefiro
enlouquecer a sentir prazer.
- Os corvos
devoram os mortos e os aduladores devoram os vivos.
- As paixões
têm causas mas não tem princípios.
- Não imagine
que os outros tem tanto desejo de te escutar como você tem de falar.
- A gratidão
é a memória do coração.
- Devemos
converter nossa alma em uma fortaleza inexpugnável.
- A virtude é mesquinha nas palavras; o vício
fala sem parar.
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