Filolau de Crotona
Ao contrário de Pitágoras, sobre quem pesa
a possibilidade de não ter realmente existido, o pitagórico Filolau de Crotona
(gr. Φιλόλαος) é personagem indubitavelmente histórico. Parece ter sido o primeiro a divulgar as doutrinas pitagóricas e, graças a ele, dispomos de informações sobre os pitagóricos antigos.
Biografia
Praticamente nada se sabe de sua
biografia; nossa única fonte é Diógenes Laércio. Filolau nasceu em Crotona, ou
em Metaponto, ou em Tarento, em meados do século -V, e suas atividades parecem
ter se desenvolvido até o início do século -IV, pelo menos. Atribui-se,
tradicionalmente, o ano -470 ao seu nascimento e o ano -385 à sua morte.
É provável que tenha vivido algum tempo
em Tarento, na Magna Grécia, e que visitou Tebas. Possivelmente, escreveu um livro
a respeito da doutrina pitagórica, denominado Da Natureza, o primeiro escrito
por um dos pitagóricos. Parece que, anos depois de sua morte, o livro foi
adquirido por Platão.
Seus principais discípulos foram
Arquitas de Tarento (-428/-347), Cebes e Símias; os dois últimos são
personagens de importantes diálogos platônicos, Fedo e Críton, respectivamente.
Pensamento e obra
Do livro de Filolau de Crotona, escrito
em dialeto dórico, restam alguns poucos fragmentos e os testemunhos de vários
eruditos que o leram ou conviveram com ele e outros pitagóricos, e receberam
informações orais.
Na cosmologia de Filolau, os componentes
do Universo pertencem a dois grupos, apenas, o dos limitadores e o dos
ilimitados. Ignora-se o que eram, exatamente, esses limitadores e ilimitados,
mas certamente aplicavam-se a coisas como terra, água, ar, fogo, espaço e
tempo. Esses dois componentes básicos eram sujeitos à "harmonia", um
processo de mútuo ajustamento entre "coisas dessemelhantes, de diferente
espécie e de ordem desigual" (Philol. Fr. 4). O exemplo dado por Filolau
sobre a harmonia de limitadores e ilimitados é o da escala musical, que define
os sons de acordo com um certo número de proporções: a oitava, a quinta e a
quarta correspondem a 2:1, 4:3 e 3:2, respectivamente. O Universo estaria
portanto estruturado por relações numéricas, e para conhecê-lo é preciso
conhecê-las (Philol. Fr. 4).
O conceito dos opostos e o da harmonia
foram também usados por Filolau na tentativa de explicar a natureza da alma
(Arist. de An. 407b), que ele situava no coração (Philol. Fr. 13).
Contribuição à Astronomia
Filolau acreditava que, no centro do
universo, encontrava-se fogo e que a Terra era apenas um de seus astros; a
Terra, ao fazer um movimento circular em volta do fogo central, dava origem ao
dia e à noite.
Imaginava também que, além dos outros
quatro planetas conhecidos[1], existia uma Terra em oposição à nossa, a
Anti-Terra. Além dela, havia nove corpos celestes que se moviam no céu: a
Terra, o Sol, a Lua, os cinco planetas e, acima de todos, uma esfera de estrelas
fixas. Ele parece ter sido o primeiro filósofo a deslocar a Terra do centro do
Universo.
Fragmentos, edições e traduções
Cerca de 20 fragmentos de sua obra
chegaram até nós, dentre os quais onze são provavelmente genuínos — assim como
ocorreu com Pitágoras, muitos textos atribuídos a ele foram escritos muito
depois de sua morte. Extensas passagens sobre suas idéias, no entanto, foram
conservadas e comentadas por Aristóteles e por Estobeu.
As coletâneas mais importantes são a de
Boeckh (1819) e Diels e Kranz (61952). O trabalho de Kirk, Raven e Schofield
(41994), que existe em tradução portuguesa, contém vários fragmentos traduzidos
e comentados.
A doxografia e os fragmentos foram
reunidos e traduzidos para o português por Gerd Bornheim, em 1967.
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