Zenão de Cítio (340 - 264 a.C.)
Zenão foi o fundador da escola Estoica que rejeitava a metafísica
e todo tipo
de transcendência. Para essa escola a filosofia é a arte
de bem viver que ele separa em três partes, a lógica e física e a ética. Em uma
comparação clássica, os estoicos viam a filosofia como um pomar, a
cerca em volta do pomar é a lógica que serve para defender e filtrar o que vai
entrar no pomar, a física é representada pelas árvores que são a estrutura da
filosofia e os frutos das árvores é a ética que é o objetivo da existência do
pomar. A lógica produz um critério de verdade. A física é monista e panteísta e
a ética é que vai dirigir o modo de proceder dos homens. O fim desse caminho é
conquistar a felicidade.
A natureza leva o homem a amar e conservar a si próprio e esse instinto
é muito mais que um impulso individual ou egoísta pois além de querer conservar
a si o homem através desse instinto natural quer também conservar as pessoas
que gera, seus filhos, e as pessoas que o geraram, pais e parentes. Esse
instinto natural se expande a vários dos seus semelhantes. A natureza além de
levar os indivíduos a amar a si mesmo também os leva a unir-se a amar e a ser
útil também a outros indivíduos.
O homem é também um animal que vive em comunidade e essa comunidade
amplia-se para todos os homens. Os estoicos dessa forma descartaram a
diferenciação entre os homens por causa de instituições como nobreza, sangue ou
superioridade de alguma raça sobre a outra. Todos os homens são capazes de
alcançar a virtude, todos são livres e ninguém é naturalmente escravo. O
conceito de liberdade e escravidão liga-se ao conhecimento e à sabedoria. O
homem sábio é um homem livre e o tolo tende a ser um escravo.
A
base dos nossos conhecimentos nós adquirimos através das sensações que temos
dos objetos que imprimem em nós o que vai ser conduzido para a nossa alma, que
vai fazer uma representação do objeto. Nós não temos ideias inatas. Os objetos
é que imprimem em nós as sensações, mas nós temos a liberdade para nos
posicionarmos diante dessa impressão. Nós é que vamos consentir ou não a
ocorrência da representação. Se nós consentirmos nós vamos apreender o objeto,
ou seja, nós vamos captar intelectualmente a ideia desse objeto.
Para
Zenão os homens alcançam a plena felicidade no momento que renunciam as
paixões, as contrariedades e os aborrecimentos. Para alcançarmos essa renúncia
devemos viver na apatia, nos conduzindo pelo destino, sem temer nada e sem
esperar nada.
Releu os antigos Físicos e fez seus principalmente
alguns conceitos de Heráclito, como veremos. Mas o acontecimento que mais o
influenciou talvez tenha sido a fundação do “Jardim”. Como Epicuro, ele
renegava a metafísica e toda forma de transcendência. Como Epicuro, concebia a
filosofia no sentido de “arte de viver”, ignorada pelas outras escolas ou então
só imperfeitamente realizada por elas. Mas, embora compartilhasse o conceito
epicurista de filosofia, bem como seu modo de propor os problemas, Zenão não
aceitava sua solução para esses problemas, tornando-se severo adversário dos
dogmas do “Jardim”. Repugnavam-lhe profundamente as duas ideias básicas do
sistema, quer dizer, a redução do mundo e do homem a mero agrupamento de átomos
e a identificação do bem do homem com o prazer, bem como suas consequências e
corolários. Não é de surpreender, portanto, que encontremos em Zenão e em seus
seguidores a clara inversão de uma série de teses epicuristas. Todavia, não
devemos esquecer que as duas Escolas tinham os mesmos objetivos e a mesma fé
materialista e que, portanto, trata-se de duas filosofias que se movem no mesmo
plano de negação da transcendência e não de duas filosofias que se movem em
planos opostos.
Zenão não era cidadão ateniense e, como tal, não tinha
direito de adquirir um edifício; por isso, ministrava suas aulas em um pórtico,
que fora pintado pelo pintor Polignoto. Em grego, “pórtico” diz-se stoá. Por
essa razão, a nova Escola teve o nome de “Estoá” ou “Pórtico” e seus seguidores
foram chamados “os da Estoá”, “os do Pórtico”, ou simplesmente “Estóicos”.
No Pórtico de Zenão, diversamente do Jardim de
Epicuro, admitia-se a discussão crítica em torno dos dogmas do fundador da
Escola, fazendo com que tais dogmas ficassem sujeitos a aprofundamento,
revisões e reformulação.
Em consequência, enquanto a filosofia de Epicuro não sofria
modificações relevantes, sendo na prática somente ou preponderantemente
repetida e glosada, e permanecendo assim substancialmente imutável, a filosofia
de Zenão sofreu inovações até notáveis, apresentando uma evolução bastante
considerável.
Os estudiosos hoje têm bem claro que é necessário
distinguir três períodos na história da Estoá:
1) O período da “Antiga
Estoá”, que vai de fins do séc. IV a todo o séc. III a.C., no qual a
filosofia do Pórtico foi pouco a pouco desenvolvida e sistematizada na obra da
tríade da Escola: o próprio Zenão, Cleanto de Assos (que dirigiu a Escola de
262 a 232 a.C., aproximadamente) e, principalmente, Crisipo de Sôli (que
dirigiu a Escola de 232 a.C. até o último lustro do séc. III a.C.). Foi
principalmente este último, talvez de origem semítica que, com mais de
setecentos livros (infelizmente perdidos), fixou de modo definitivo a doutrina
do primeiro estágio da Escola.
2) O período assim chamado da “Média Estoá”, que se desenvolve entre o II e o I séc. a.C. e que
se caracteriza por infiltrações ecléticas na doutrina originária.
3) O período da Estoá romana ou da “Nova Estoá”, que se situa já na era
cristã, no qual a doutrina faz-se essencialmente meditação moral e assume
fortes tons religiosos, em conformidade com o espírito e as aspirações dos
novos tempos.
O pensamento dos primeiros representantes da velha
Estoá é dificilmente diferen ciável, porque todos os textos se perderam e, além
disso, aqueles que recuperavam as doutrinas estóicas através de testemunhos
indiretos atinham-se às inumeráveis obras de Crisipo, que, elaboradas com
dialética e habilidade refinadas, obscureceram toda a produção dos outros
pensadores da Estoá, até fazê-la quase desaparecer. Além disso, foi Crisipo
quem derrotou as tendências heterodoxas da Escola, que se haviam verificado com
Aristão de Quios e com Erilo de Cartago, desencadeando verdadeiros cismas. Por
isso, a exposição da doutrina da velha Estoá é sobretudo uma exposição da
doutrina na formulação que recebeu de Crisipo. Também são escassos os
testemunhos precisos sobre os pensadores da Média Estoá Panécio e Possidônio,
mas os dois pensadores são nitidamente diferenciáveis. Já no que se refere ao
estoicismo romano, possuímos obras completas, numerosas e ricas.
Vamos começar ilustrando as teses capitais da doutrina da Estoá
antiga.
A Estoá, aceitando a tripartição da filosofia em lógica, física e ética,
atribui à lógica a tarefa de fornecer o critério de verdade sobre o qual fundar
a ética. Como os Epicuristas, os Estóicos tomaram os movimentos da sensação,
entendida como impressão dos objetos externos sobre os sentidos. Nos confrontos
de cada representação a razão (logos) do homem exprime seu acordo ou sua
rejeição. Apenas quando recebeu nosso acordo a representação se torna "compreensiva"
ou "cataléptica". Se uma representação recebe a aprovação — isto é,
supera o exame do logos — torna-se "representação
cataléptica", e pode entrar de fato no processo do conhecimento. Se não
recebe a aprovação, deve ser descartada.
• A
seguir, a representação cataléptica torna-se intelecção e conceito, ou seja,
torna-se universal, e sobre os universais se fundamenta o raciocínio verdadeiro
e próprio, que para os Estóicos — como para Aristóteles, embora de modos
diversos — encontra no silogismo sua forma perfeita, Os Estóicos admitiram
também a existência de "prolepses", ou seja, de noções inatas, inerentes à
natureza do homem. Por conseguinte,
tiveram de enfrentar o problema do universal.
Sentenças:
- O sentido da vida consiste estar de acordo com a natureza.
- Nenhum homem é por natureza escravo.
- O sábio não se comove por ninguém e não condena ninguém por um erro
cometido.
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