Johann
Gottlieb Fichte (1762 - 1814)
Johann Gottlieb
Fichte, nasceu Rammenau, Saxônia, 19 de maio de 1762 — Berlim, 27 de janeiro de
1814) foi um filósofo alemão pós-kantiano e o primeiro dos grandes idealistas
alemães.
Cursou o Colégio de Pforta e as universidades de Jena, Wittenberg e
Leipzig. Em Königsberg encontrou-se com Kant. Denunciado como ateu e demitido
da Universidade de Jena, vai para Berlim, onde permanece até assumir a cátedra
de filosofia na Universidade de Erlangen. Na guerra da França contra a Prússia,
participou da resistência nacional. Em 1809 foi nomeado reitor da Universidade
de Berlim, onde liderou o movimento nacionalista dos estudantes.
Sua obra é
considerada como uma ponte entre as ideias de Kant e as de Hegel. Assim como
Descartes e Kant, Fichte interessou-se pelo problema da subjetividade e da
consciência.
Fichte é
considerado o fundador do idealismo moderno, para escrever sua filosofia ele
toma a filosofia de Kant como ponto de partida e tenta chegar a algumas
propostas que, segundo ele, Kant não tinha demonstrado ou exposto de forma
clara.
Foi em Kant que
Fichte encontrou inspiração para sua vida pessoal e para sua filosofia, em
especial sobre as questões da liberdade, que para ele não é um fim em si mesmo,
mas uma constante busca e um mérito a ser alcançado. A partir do conceito de
liberdade Fichte fundamenta o dever, a virtude e a moral em geral.
Fichte busca
construir um sistema para tornar a filosofia uma ciência precisa e que surgisse
de um princípio único e superior, esse sistema o autor chama de doutrina da
ciência, onde ele tenta unificar as três Críticas de Kant.
A principal
inovação na filosofia de Fichte consiste em modificar o Eu Penso de Kant em seu
Eu Puro, que é pura intuição, que se autocria, se autopõe, e se autocriando
cria toda a realidade. Outra novidade no filósofo é identificar a essência
desse eu que se autocria com a liberdade.
Esse Eu Puro de
Fichte é uma intuição intelectual, o eu entende a si mesmo e se autodeclara,
dessa forma esse Eu provê o fundamento das coisas em si e dos fenômenos do
mundo, assegurando a união entre o intelectual e o sensorial. Assim o Eu Puro
torna-se a origem única e que está acima de todos os outros princípios. Esse Eu
Puro elimina o ceticismo e fundamenta a filosofia como ciência. Quando o Eu
Puro se divide dá origem ao Eu Prático que acaba por fundamentar o Eu Teórico.
O Eu fundamenta a
ciência pelo fato de que é o Eu que pensa e pensando dá sentido a todas as
ligações lógicas que estão na base da ciência. O eu é condição de si mesmo, ele
compõe a si mesmo, o eu é da forma que ele se fez a si mesmo. O eu é
autocriação.
Para Fichte até o
Ser é algo derivado da ação do Eu, ou seja, não é a ação que vem do Ser, mas ao
contrário, é o agir do Eu que define e cria o Ser. O Ser é o resultado do agir,
e quem age inicialmente é o Eu.
O Eu Puro, a
inteligência, é algo ativo e sem restrições e não algo passivo e restrito ou
dependente. E ela é ativa por ser o princípio primeiro e absoluto do qual
derivam todas as outras coisas.
Esse Eu Puro, essa
inteligência, não é o eu e a inteligência do homem prático, mas o Eu e a
inteligência absoluta.
Mas o Eu não pode
ficar isolado no mundo, ele precisa de um contraponto, de uma antítese, e como
ele se pôs, ele vai criar um não eu para se contrapor à sua posição. Tanto o Eu
como o não eu são ações do Eu, o não eu é uma necessidade para que o Eu possa
se identificar como tal. O não eu não está fora do Eu, ele faz parte do Eu pois
nada pode ser pensado fora do Eu.
Fichte já
desenvolveu a tese – o Eu cria a si próprio. Desenvolveu a antítese – o não eu.
O terceiro passo é desenvolver a síntese, que para ele se caracteriza na
delimitação, ou seja, nem o Eu nem o não eu podem eliminar-se reciprocamente,
mas um delimita o outro.
O Eu e o não eu
estão em antítese e se limitam reciprocamente, quando o não eu determina o Eu
ocorre o conhecimento, quando o Eu determina o não eu ocorre a atividade
prática e moral. Esse processo é uma relação dinâmica e infinita. E nessa
relação o Eu pode desenvolver a liberdade, que será sempre um processo
ilimitado, a liberdade é uma construção constante e infinita.
Moralmente o homem
só será completo ao se relacionar com outras pessoas e como são diversos os
homens, diversas são também as aspirações e elas podem entrar em oposição. Para
gerir as diversas oposições de aspirações humanas é que surge o Estado e o
Direito. O eu é livre, mas na convivência como outros seres livres ele deve
limitar sua liberdade, ou seja, cada ser livre deve demarcar sua liberdade para
que cada um possa praticar a sua.
Fichte acreditava
ainda que quando uma pessoa escolhe uma determinada forma de filosofar ele
também está dizendo que aquela é a sua forma de ser como homem, pois a
filosofia não é inativa, não é uma ferramenta inerte, mas é viva e animada pelo
espírito do filósofo.
O filósofo se
preocupa ainda com a educação, e em especial com a educação pública. A educação
tem que ser pública e nesse sentido encontrar fundamentação em um estado de
direito e encontrar sua normatividade em uma ordenação jurídica. Por outro lado
a educação tem um caráter humano e pessoal, ou seja, ela deve ser guiada por
uma vontade humana de autorrealizar sua liberdade. Essa educação para a
liberdade exige a instauração das condições materiais necessárias para sua
realização, mas ela é também um projeto social e exige também uma realização
enquanto coletividade.
Sentenças:
- Não existe forma
para tornar alguém filósofo.
- Não nos tornamos
filósofos, nascemos filósofos.
- O saber não é o
absoluto, mas é absoluto como saber.
- Teus atos, e não
os teus conhecimentos, é que determinam o teu valor.
- O fim da
humanidade é a unidade de todos seus membros.
- A escolha de uma
filosofia depende do que se é como homem.
- O homem pode o
que ele deve, e se diz Eu não posso, é porque não quer.
- Nós agimos
porque conhecemos, mas conhecemos porque precisamos agir.
- A razão prática
é a raiz de todas as razões.
- A essência de
Deus é a beleza.
- Viver de verdade
significa pensar verdadeiramente.
- Age de modo a
poder conceber a máxima da tua vontade como lei eterna para você.
- O que te deixa
feliz pode não ser bom, mas o que é bom te deixa feliz.
- Sociedade é a
realização recíproca de seres racionais.
- Livre é quem
tenta fazer livre todos que o circundam
- A utilidade
estimula o homem.
- O progresso da
humanidade depende do progresso da ciência.
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