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Livro: Uma Síntese a Filosofia Medieval

  Olá pessoal! Depois de um tempo, estou retomando as atividades por aqui. Uma das razões que contribui para esse hiato foi a falta de tempo...


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quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Pedro Abelardo - Conceitualismo


Resultado de imagem para pedro abelardoPedro Abelardo ou Pierre Abélard (1079-1142) foi um filósofo, teólogo e lógico francês, considerado uma das grandes figuras da filosofia escolástica e um dos maiores pensadores do século XII.
Pedro Abelardo (1097-1142) nasceu na aldeia de La Pallet, próximo de Nantes, na Bretanha, França, no ano de 1079. De família nobre, seu pai, cavaleiro e amante das letras era o senhor da aldeia. Sua vida estava destinada aos exercícios militares, mas antes teria que ser instruído nas letras. Com 11 anos ingressou na École de Chartes onde aprendeu o Trivium – conjunto das disciplinas: lógica, gramática e retórica.
Ainda muito jovem, desistiu da profissão das armas e deixou o castelo de seu pai visando aprofundar sua formação e viajou por várias cidades, como estudante, a procura dos mestres mais renomados da época. Com seu espírito inquieto, curioso e investigador, enfrentou vários problemas e disputas com seus colegas e mestres. Um dos primeiros mestres que enfrentou foi Roscelino, o nominalista, que ensinava em Compiègne, Loches, quando passou um tempo em sua escola.
Com 20 anos seguiu para Paris, onde havia grande efervescência cultural e intelectual. Na Escola da Catedral, estudou dialética com Guilherme de Champeaux, defensor do realismo, mas não se intimidava e questionava seus ensinamentos. Tentou se estabelecer como mestre em Paris, mas por discordar das ideias de Guilherme, foi perseguido. Conseguiu abrir uma escola em Melun e depois em Corbeil, mas ambas fecharam, o que fez retornar para sua cidade natal.
De volta à Paris, é novamente aluno de Guilherme de Champeaux. Em 1108 estabeleceu-se na escola de Monte de Santa Genoveva e tornou-se respeitado. Em 1113 ocupou a cátedra de dialética na Escola da Catedral, adquirindo grande renome de mestre de dialética e retórica. Foi estudar Teologia com o mestre Anselmo, na cidade de Leon, para tornar-se mestre em Teologia.
Com 36 anos, Pedro Abelardo era um brilhante mestre de Teologia na Catedral de Notre Dame de Paris. O cônego Fulbert lhe confiou a educação de sua sobrinha Heloísa de 17 anos. Entre 1117 e 1119, o casal manteve uma relação secreta. Ao descobrir a gravidez da sobrinha e exigir o casamento, Abelardo sequestra Heloísa e casam secretamente. Como vingança, Fulbert suborna os empregados e ordena a castração de Abelardo. Humilhado, se retira para a Abadia de Saint Denis, onde se torna monge e se dedica aos estudos filosóficos. Heloísa se ordena freira no mosteiro de Paraclet. Trocaram cartas para o resto da vida. Em seu livro “História de Minhas Calamidades”, onde narra suas desventuras amorosas com Heloísa.
Uma das contribuições filosóficas de Abelardo foi o seu método escolástico que consistia em colocar o estudante em situações nas quais se apresentavam seus prós e contras sobre questões teológicas o que causou grande polêmica entre os membros da Igreja. Viu seu livro “Introdução à Teologia” ser condenado pelo Concílio de Soissons. Em 1140, viu suas ideias novamente condenadas no Concílio de Sens.
Pedro Abelardo faleceu no Priorado de Saint-Marcel, próximo Chalons-sur-Saône, França, no dia 21 de abril de 1142.


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Roscelino - Nominalismo


Roscelino (1050-1120).

Resultado de imagem para roscelinoFilósofo e teólogo francês, nascido em Compiègne. Não sabemos exatamente a data de seu nascimento ou morte. Roscelino (ou Roscellino), cujo nome original era Jean Roscelin, é considerado o fundador do nominalismo. Os únicos escritos dele que chegaram até nós são uma carta a Abelardo, que era seu discípulo. Conhecemos seus pensamentos através dos julgamentos de seus adversários, Santo Anselmo, Abelardo e Juan de Salisbury. Segundo Roscelino, apenas indivíduos realmente existem e conceitos universais não têm correlação com a realidade, são nomes simples no sentido de meros sons (flatus vocis) Aplicando essa teoria à Trindade, Roscelino afirmou que a divindade não é algo comum às três pessoas divinas, mas que cada uma delas é uma coisa única e singular e, portanto, existem três deuses. Condenado pelo conselho de Soissons, ele teve que se retirar.
Em sua opinião, os universais ou conceitos universais não tem nenhum valor, nem semântico nem predicativo, não podendo se referir a nenhuma res, dado que todas as coisas existentes são singulares ou separadas (discretae), e nada existe além da individualidade (nihil est praeter individuum).
Nominalismo
Uma das principais tendências filosóficas da Idade Média, o nominalismo, contrário ao realismo e ao conceitualismo, rejeitou o pensamento alcançado por abstrações e abriu caminho para o espírito de observação e a vulgarização da pesquisa indutiva.
O nominalismo é uma doutrina segundo a qual as ideias gerais, como gêneros ou espécies, não passam de simples nomes, sem realidade fora do espírito ou da mente. A única realidade são os indivíduos e os objetos individualmente considerados. Desse modo, o universal não existe por si: é mero nome, vocábulo com significado geral, mas sem conteúdo concreto, que só reside no individual e no particular. Em seu retrospecto histórico da doutrina nominalista, Leibniz afirmava que, para os partidários do nominalismo, só existem, além das substâncias singulares, os nomes puros e, desse modo, a realidade das coisas abstratas e universais é eliminada.
Questão dos Universais
A controvérsia em torno da natureza das ideias dominou, de certo modo, a reflexão filosófica medieval. Principiou no século VII, quando Boécio traduziu para o latim o livro de Porfírio Eisagoge eistàs Aristotélis kategorías (Introdução às categorias de Aristóteles), em que se fixaram as bases da polêmica futura: "Não procurarei enunciar se os gêneros e as espécies existem por si mesmos ou na pura inteligência, nem, no caso de subsistir, se são corpóreos ou incorpóreos, nem se existem separados dos objetos sensíveis ou nestes objetos, formando parte deles."
Firmaram-se, a respeito do problema, três posições fundamentais: nominalismo, realismo e conceitualismo. Os realistas sustentavam que as ideias - ou os "universais", como as chamavam - possuem existência independente: existem ante res ("antes das coisas reais"), na mente divina ou em qualquer outro lugar. O realismo revelava-se, assim, de tradição claramente platônica. Os nominalistas, ao contrário, não atribuíam nenhuma existência às ideias: estas resumir-se-iam a seus símbolos, seus nomes ou palavras. Entre essas duas posições extremas situava-se a teoria conceitualista, para a qual as ideias teriam uma existência simbólica na mente, e outra, concreta, nas coisas.
As célebres discussões a respeito do problema, embora com aparência de sutileza inútil, ocultavam orientações mais profundas. O realismo representava uma visão do mundo mais espiritual, enquanto que o nominalismo nascia de uma visão mais concreta e antiespiritual das coisas. Por isso, o nominalismo, em toda a Idade Média, se apresentava como uma suspeita doutrina de céticos.
No segundo período da filosofia escolástica medieval, que começou no século XIII com santo Alberto Magno e santo Tomás de Aquino, prevaleceu a posição do realismo moderado. O nominalismo reviveu mais tarde, no século XIV, com o filósofo inglês Guilherme de Occam. Para este, todo conhecimento se baseia na experiência sensível, de que, por abstração, extraímos as ideias gerais, de que se servirá a ciência, sem necessidade alguma das antigas species dos realistas.
Occam também é chamado terminista. Ensinava que qualquer ciência é ciência só de proposições e de proposições enquanto são conhecidas. Todos os termos dessas proposições são só conceitos e não substâncias externas. O nominalismo dos séculos XIV e XV não é ortodoxo em relação à teoria escolástica mas, em compensação, favorece o estudo das ciências naturais.
Nominalismo Atual
Na filosofia moderna, são declaradamente nominalistas Thomas Hobbes, no século XVII, e, no século XVIII, Étienne Bonnot de Condillac, defensor da teoria sensualista do conhecimento. Já no século XX, Nelson Goodman e Willard van Orman Quine são defensores do que chamam "nominalismo construtivo". O primeiro não nega as entidades abstratas, mas somente as admite consideradas como indivíduos, pois o mundo é um mundo de indivíduos. Nega, assim, qualquer possibilidade de classes, nas quais se incluem indivíduos diversos.
Quine generaliza um argumento já proposto por Bertrand Russell sobre as chamadas descrições singulares. Ao estudar os possíveis usos ontológicos da linguagem, inclina-se para o nominalismo e contra o platonismo. Procura construir uma linguagem capaz de reduzir qualquer enunciado sobre entidades abstratas a um enunciado sobre entidades concretas. Só será possível admitir variáveis individuais, isto é, as que se referem a objetos concretos espaço-temporais, ou, pelo menos, temporais. São de resto nominalistas, ou apresentam afinidades com essa posição, nos tempos atuais, os neo-espinozistas, os neokantianos, os neopositivistas, os idealistas e pragmatistas.

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Anselmo de Cantuária


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Anselmo de Cantuária (Aosta, 1033/1034 - Cantuária, 21 de abril de 1109), nascido Anselmo de Aosta (por ser natural de Aosta, hoje na Itália), e também conhecido como Santo Anselmo, foi um influente teólogo e filósofo medieval italiano de origem normanda.
Foi Arcebispo de Cantuária entre 1093 e 1109 (sucedendo a Lanfranco de Cantuária, também um italiano), por nomeação deHenrique I de Inglaterra, de quem foi amigo e confessor, mas depois divergiu com ele na questão das investiduras. É considerado o fundador do escolasticismo e é famoso como o criador do argumento ontológico a favor da existência de Deus.
Viria mais tarde a ser canonizado pela Igreja Católica, e declarado Doutor da Igreja em 1720, pelo Papa Clemente XI.
Vida e obras
Santo Anselmo nasceu em Aosta, filho de um nobre, e de uma mãe rica, Ermenberga. Seguiu a carreira religiosa, estudou os clássicos e escreveu sempre em latim. Foi eleito prior em 1063, porque era considerado inteligente e piedoso. Sua biografia nos é contada pelo seu discípulo, Eadmer.
Foi comum na Idade Média que os religiosos buscassem o apoio da fé na razão. Anselmo escreveu uma obra sobre esse assunto. É considerado um dos iniciadores da tradição escolástica. "Não só a habilidade dialética fez de Anselmo o precursor da Escolástica, como também o princípio teológico fundamental que adotou: fides quarens intelectum "a fé em busca da inteligência". Foi ele também quem forjou uma nova orientação à teoria dos universais e que reverteu em grande proveito para os intuitos da Teologia racional".[1]
Anselmo buscava um argumento para provar a existência de Deus, e sua bondade suprema. Fala que a crença e a fé correspondem à verdade, e que existe verdadeiramente um ser do qual não é possível pensar nada maior. Ele não existe apenas na inteligência, mas também na realidade. Anselmo desenvolveu uma linha de pensamento sobre essas bases, chamados de argumento ontológico, que foi retomada por René Descartes e criticada por Immanuel Kant, e ela estava numa obra chamada Proslógio. Ele parte do fato de que o homem encontra no mundo muitas coisas, algumas boas, que procedem de um bem absoluto, que é necessariamente existente. Todas as coisas tem uma causa, menos o ser incriado, que é a causa de si mesmo e fundamenta todos os outros seres. Esse ser é Deus. Seus argumentos não foram totalmente aceitos.
Anselmo chegou a arcebispo da Cantuária em 1093. Escreveu outras obras importantes, Do gramático e Da verdade, ambos em latim. Recebeu doações de terras para a Igreja, mas brigou com Guilherme, o ruivo, rei da Inglaterra pois não queria fazer comércio com os bens da Igreja. Isso foi considerado um desrespeito ao poder real, e Guilherme impediu Anselmo de viajar para Roma, desafiando o poder da Igreja.
Num dos seus primeiros livros, Monológio, em que apresenta sua visão de Deus, Anselmo fala que a essência suprema existe em todas as coisas e tudo depende dela. Reconhece nela onipotência, onipresença, máxima sabedoria e bondade suprema. Ela criou tudo a partir do nada. Anselmo procurava desenvolver um raciocínio evolutivo sobre o que considerava ser a verdade, que estava contida na Bíblia. Para Anselmo, o pensamento tem algo de divino, e Deus tem uma razão. Sua palavra é sua essência, e Ele é pura essência (essa noção não é nova) infinita, sem começo nem fim, pois nada existiu antes da essência divina e nada existirá depois. Para ela o presente, o passado e o futuro são juntos ao tempo, são uma coisa só. E Ela é imutável, uma substância, embora seja diferente da substância das outras criaturas. Existe de uma maneira simples e não pode ser comparado com a consciência das criaturas, pois é perfeito e maravilhoso e tem todas as qualidades já citadas. O verbo e o espírito supremo são uma coisa só, pois este usa o verbo consubstancial para expressar-se. Mas a maneira intrínseca que o espírito supremo se expressa e conhece as coisas é incogniscível para nós. O verbo procede de Deus por nascimento, e o pai passa a sua essência para o filho. O espírito ama a si mesmo, e transmite esse amor.
Para Anselmo, a alma humana é imortal, e as criaturas seriam felizes e infelizes eternamente. Mas nenhuma alma é privada do bem do Ser supremo, e deve buscá-lo, através da fé. E Deus é uno. Para contemplá-lo devemos nos afastar dos problemas e preocupações cotidianos e buscá-lo. Ele é onipotente embora não possa fazer coisas como morrer ou mentir. É piedoso, em parte por ser impassível, o que não o impede de exercer sua justiça, pois ele pensa e é vivo. Anselmo fala muito da crença divina do Pai, do filho e do espírito humano. Grandes coisas esperam por aquele que aceitar Deus e buscá-lo. Santo Anselmo influenciou muito o pensamento teológico posterior.

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segunda-feira, 24 de junho de 2019

ELEMENTOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA MEDIEVAL pdf



A história da filosofia medieval
— na sua flagrante
originalidade e especificidade, que a distingue de qualquer outro período da história do pensamento — não se compreende sem uma prévia compreensão do que foi o seu contexto histórico, civilizacional e cultural, que nela se reflete. Daí a necessidade metodológica desta introdução. Note-se, porém, que, ao procurarmos a compreensão da história filosófica a partir do seu contexto cultural e civilizacional, não queremos afirmar a unilateralidade da influência desse contexto na filosofia. De facto, o que a pesquisa historiográfica mostra é que, em regra, em qualquer período histórico, a influência é circular, dá-se nos dois sentidos. Se, pois, tomamos como adquirido que o mundo medieval determinou em boa parte a orientação geral da história filosófica nesse tempo, precisamos de ter também em conta que o contrário também é verdadeiro. A correta compreensão da história medieval não pode, pois, prescindir da uma abordagem dessa história em modo de círculo hermenêutico. No caso presente, todavia, convém ressalvar a escassez da influência filosófica na vida da Idade Média por via imediata. Com efeito, neste longo período, a filosofia teve sempre um lugar e um papel secundários, sempre subalternizados àquela que era considerada a rainha dos saberes, isto é, à teologia. Só pela mediação desta, sem dúvida em boa medida modelada por aquela, é que ela determinou — especialmente com o seu tom platonizante — a orientação da civilização e da cultura que marcaram esse tempo.


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HISTÓRIA DA FILOSOFIA MEDIEVAL - PDF


HISTÓRIA DA FILOSOFIA MEDIEVAL
A disciplina História da Filosofia Medieval abarca um período de dez séculos, desde 430 — caso tomemos como referência a morte de S. Agostinho (354–430), ou 476, se considerarmos a queda do Império romano do Ocidente — até o século xiv. Naturalmente, este curso não poderá abordar todos esses séculos em oito semanas. Por isso, fizemos uma seleção de autores e temas do período medieval para expor, em grandes linhas, os aspectos fundamentais da Filosofia e da Teologia na Idade Média.



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A Escolástica Pós-Tomista - Período Medieval


A Escolástica A Escolástica Pós-Tomista

O Século XIII: O Triunfo de Aristóteles
A atividade filosófica da escolástica pré-tomista foi essencialmente lógico-dialética e, logo, formal. Esta atividade formal, intensa e penetrante, esperava um conteúdo adequado, racional, filosófico. E tal conteúdo lhe foi proporcionado pela descoberta do sistema aristotélico integral, que representa o ápice do pensamento helênico. O mundo latino-cristão, escolástico, depois de conhecido Aristóteles através da cultura árabe, apaixonou-se pela filosofia aristotélica, que estudou intensamente. Este movimento cultural e filosófico se desenvolveu especialmente no âmbito das universidades, então surgidas e organizadas eficientemente, graças aos pensadores pertencentes às ordens religiosas, os quais a tudo renunciaram, salvo à ciência e à caridade.
A atitude do mundo latino-cristão perante Aristóteles foi tríplice: uma decidida aversão à filosofia que queria constituir-se unicamente com meios racionais, e um retorno ao agostianismo (São Boaventura); um culto idolátrico para com o Estagirita, que foi identificado com a própria razão humana e preferido, no fundo, à revelação cristã, quando não concordava com a razão (averroísmo latino); uma aceitação e valorização do sistema aristotélico, mas crítica e racional, pelo qual se chegou à construção de uma filosofia distinta e autônoma, mas em harmonia hierárquica com a fé (Tomás de Aquino).
Como dissemos, foram os árabes - e secundariamente os hebreus - que levaram ao conhecimento do mundo latino-cristão a filosofia de Aristóteles. Os árabes, após terem conquistado o oriente helenista, entraram em contato com a cultura grega, especialmente na Síria. Em seguida, estendendo suas conquistas até o ocidente europeu, trouxeram-lhe a própria cultura impregnada de aristotelismo. Os árabes foram admiradores de Aristóteles e da sua filosofia, que salvaram das invasões bárbaras durante as trevas medievais do Ocidente latino. E assim, originariamente bárbaros eles mesmos, os árabes, por sua vez, foram civilizados pelo pensamento grego, aristotélico. Os maiores filósofos árabes conhecedores de Aristóteles e que influíram profundamente sobre o Ocidente latino-cristão, foram Avicena e Averroés. Avicena tentou harmonizar a filosofia aristotélica com a religião islâmica. Averroés, - o famoso comentador de Aristóteles - afirmava ao invés a subordinação da religião a filosofia quando as argumentações delas fossem contrastantes, e considerava a religião como uma filosofia simbólica para o vulgo.
Era preciso traduzir do árabe para o latim as obras de Aristóteles e os comentários árabes. Foi o que fez, nos meados do século XII, uma sociedade de homens cultos surgida em Toledo, na Espanha. Mais tarde sentiu-se a necessidade de traduzir diretamente do grego as obras de Aristóteles, e, por conselho de Tomás de Aquino,Guilherme de Maerbeke (falecido em 1286) fez essa tradução, que proporcionou aos latinos o conhecimento do genuíno pensamento do Estagirita.
Ao mesmo tempo se desenvolveram as universidades, as grandes universidades medievais, surgidas geralmente das escolas episcopais; famosas mais que todas as outras, foram as universidades de Paris e de Oxford. A universidade de Paris, a mais ilustre universidade da Idade Média, desenvolveu especialmente a filosofia e a teologia, inspirando-se na mentalidade aristotélica, ao passo que a universidade de Oxford dedicou-se especialmente às ciências naturais, inspirando-se na mentalidade agostiniana. O conjunto dos professores e dos alunos da universidade de Paris, em princípios do século XII, constituiu um corpo único, uma universitas única, e obteve das autoridades civis e religiosas reconhecimento jurídico e grandes privilégios. Especialmente os papas protegeram a universidade de Paris, devido à importância que tinha naquele estabelecimento do ensino superior universitário a teologia. Desta sorte, tal universidade se tornou como que a cidadela cultural da ortodoxia católica, o seminário dos filósofos e dos teólogos de todo mundo.
Nessas universidades recém-organizadas, bem cedo, contra a vontade dos leigos e por desejo dos papas, entraram e tiveram preponderância professores pertencentes as duas ordens religiosas surgidas no século XIII: os Dominicanos, fundados por São Domingos de Gusmão, espanhol, e os Franciscanos, fundados por São Francisco de Assis, italiano. A característica nova e comum destas duas ordens religiosas foi a pobreza individual e coletiva, donde o nome de mendicantes a elas atribuído, e também certa liberdade a respeito das obrigações conventuais, para melhor facultar o cultivo do estudo e a pregação apostólica entre o povo. Os dominicanos dedicaram-se mais ao estudo, à ciência, inspirando-se no pensamento aristotélico, exercendo, destarte, sua maior influência entre as classes sociais elevadas; os franciscanos, ao contrário, propuseram-se como finalidade principal a caridade ativa e tiveram uma enorme influência sobre o povo, inspirando-se na mentalidade agostiniana.

Os Filósofos Franciscanos
Os filósofos franciscanos julgaram fosse mister dar uma forma teórica à atitude prática, afetiva, sentimental do Pobrezinho de Assis que entrevia Deus e Jesus Cristo em todas as coisas. E julgaram os filósofos franciscanos que, para tanto, se prestasse o agostinianismo, com o seu misticismo e voluntarismo - julgando inapto para esse fim o racionalismo, o empirismo e o intelectualismo aristotélicos.
O maior representante do agostinianismo antiaristotélico foi São Boaventura (1221-1274); nasceu na Itália, estudou em Paris e, mais tarde, foi geral da sua ordem e depois cardeal de Albano. Suas obras principais são: os Comentários a Pedro Lombardo, o Itinerário da Mente para Deus, sobre a Redução das Artes à Teologia.
Segundo São Boaventura, a tarefa da filosofia não é teórica e racional, mas prática e religiosa, isto é, a filosofia deve levar a Deus, que se atinge imediatamente em todas as coisas e se possui pela união mística, como ele descreve no Itinerário. A gnosiologia de Boaventura inspira-se no iluminismo agostiniano, que lhe sugeriu a prova intuitiva da existência de Deus, enquanto ele é imediatamente presente ao espírito humano. A metafísica de Boaventura, pois, afirma três princípios diretamente opostos ao aristotelismo tomista: a existência de uma matéria geral sem as formas específicas; a pluralidade das formas em um mesmo ser, tantas quantas são as suas propriedades essenciais; a universalidade da matéria fora de Deus, porque todos os seres são compostos de matéria e de forma, inclusive as essências angélicas e as almas humanas. A psicologia de Boaventura, pois, sustenta que a alma humana é uma substância completa independentemente do corpo, composta de forma e matéria, auto-suficiente.
Diametralmente oposto a este aristotelismo agostiniano, é o aristotelismo exagerado averroísta, que aceita o sistema aristotélico sem crítica nenhuma, e, por consequência, será inteiramente infecundo. Esta orientação filosófica é chamada averroísta, porquanto admite - como admitia Averroés - que haja teses filosóficas em contraste com o teísmo da religião, ainda que pareça limitar-se a sustentar a existência de duas verdades paralelas e contrastantes, e não chegar até subordinar a religião à filosofia. O maior representante do averroísmo latino é Siger de Brabante (falecido pelo ano de 1284), professor na universidade parisiense, condenado mais tarde pela Igreja. A sua obra principal é Da Alma Intelectiva. As teses mais notáveis de Siger em contraste com o cristianismo são: a negação da providência divina; a afirmação da eternidade do mundo; a afirmação da unidade do intelecto na espécie humana e a consequente negação da imortalidade pessoal do homem. Entre estas duas posições extremadas - de idolatria ou de irredutível hostilidade - a respeito de Aristóteles, medeia Tomás de Aquino, que realizará a justificação da filosofia e da teologia.

A Escolástica Pós-Tomista
O tomismo era, talvez, um movimento excessivamente novo e arrojado, para poder súbita e definitivamente impor-se no âmbito do pensamento cristão medieval. Houve, portanto, no mesmo século XIII, logo depois de uma reação violenta contra o tomismo, um retorno especulativo ao agostinianismo, que julgou encobrir o seu anacronismo, tentando uma superação do racionalismo tomista. Entretanto esse movimento terminará nas posições fideístas do pré-tomismo, acentuadas e tornadas piores após a poderosa construção crítica e racional do Aquinate; e terminará, consequentemente, na ruína da metafísica, da filosofia, da ciência. A escolástica pós-tomista, contudo, sentiu profundamente o problema da concretidade e da experiência, indubitavelmente negligenciado pela escolástica clássica, donde surgirão a história e a ciência modernas - com suas técnicas - que constituem o valor do pensamento moderno.
O centro desta escolástica pós-tomista é a universidade de Oxford, na Inglaterra, cujas características tendências empiristas, experimentais, positivas, práticas, são conhecidas.

Rogério Bacon
Rogério Bacon (1210-1294), nascido na Inglaterra, entrou na ordem franciscana e estudou nas universidades de Oxford e de Paris. Após Ter lecionado algum tempo em Oxford, foi obrigado a deixar a cátedra. Estabeleceu-se então em Paris, onde levou uma vida agitada e foi condenado à prisão pelos próprios superiores da sua ordem. Crítico agressivo das maiores autoridades da sua época, foi um temperamento genial e original, enciclopédico e místico, cientista e supersticioso. A sua obra mais importante é a chamada Obra Maior; publicou ainda a Obra Menor e a Terceira Obra.
Segundo Bacon, três são as fontes do saber: a autoridade, a razão, a experiência. A autoridade dá-nos a crença, a fé não porém a ciência, porquanto não nos fornece a compreensão das coisas que formam o objeto da crença. A razão proporciona essa compreensão, quer dizer, a ciência; no entanto, não consegue distinguir o sofisma da demonstração verdadeira, se não achar fundamento e confirmação na experiência. A ciência experimental constitui a fonte mais sólida da certeza. Conforme Bacon, todavia, deve-se entender por experiência não apenas a que se alcança pelos sentidos externos e nos oferece o mundo corpóreo, mas também a experiência proporcionada pela iluminação interior de Deus. É, como se vê, um vestígio do agostinianismo tradicional. Do agostinianismo, Bacon aceita também a unidade entre filosofia e teologia, que Tomás tinha distinguido.

João Duns Scoto
O maior expoente da escolástica pós-tomista é, sem dúvida, João Duns Scoto, o doutor sutil. Também ele, inglês e franciscano, foi aluno e professor nas universidades de Oxford e de Paris. Faleceu em 1308. Suas obras principais são: a Obra Oxoniense, isto é, o tradicional comentário das sentenças de Pedro Lombardo; os Teoremas Sutilíssimos, as Questões Várias, a Obra Parisiense. Nestas obras revela-se um crítico e um pensador de muito superior à São Boaventura.
O agostinianismo de Scoto manifesta-se, antes de tudo, no conceito de filosofia, entendida como instrumento para entender a fé e não como obra autônoma do espírito, como julga Tomás de Aquino. E, por sua vez, a teologia não é - segundo Scoto - disciplina essencialmente especulativa - como julga Aquinate - mas unicamente prática, em conformidade com o espírito do voluntarismo agostiniano.
A gnosiologia iluminista-intuicionista agostiniana firma-se no escotismo não tanto como participação da inteligência humana na luz divina, quanto como sendo a espontaneidade e a independência do intelecto com respeito ao sentido. Em todo caso, está contra o chamado empirismo aristotélico-tomista, conforme o qual o nosso conhecimento começa pela sensibilidade. Scoto concede, em linha de fato, o empirismo do nosso conhecimento; não o admite em linha de direito, como exige o tomismo. E isso seria devido - segundo o doutor sutil - à escravidão da alma com respeito ao corpo, decorrente do pecado. Pelo contrário, deveria a alma, por sua natureza, conhecer diretamente as essências, não só as materiais mas também as espirituais.
Na teodicéia, Scoto (contra a corrente agostiniana e em harmonia com o tomismo) ensina que Deus não é conhecido por intuição; a existência de Deus é demonstrável apenas com argumentos a posteriori, embora procure também combinar esta demonstração com o argumento ontológico, a priori. Quanto à natureza divina, o atributo essencial de Deus seria a infinidade.
Na psicologia escotista aparece ainda uma doutrina inspirada no agostinianismo. É a doutrina do conhecimento intuitivo da essência da alma, princípio de todos os demais conhecimentos. E também inspira-se no agostinianismo a doutrina de certa independência da alma com respeito ao corpo; seria a alma, por natureza, uma substância completa.
Com efeito, segundo Scoto, todos os seres, mesmos os espirituais, são compostos de matéria e de forma. A matéria não é mera potência, inexistente sem a forma, mas tem uma realidade sua própria; a forma não é única, mas há multiplicidade de formas em cada indivíduo. A individuação não depende da matéria (pelo que o indivíduo fica incognoscível intelectualmente), mas de um elemento formal individual, chamado haecceitas (que se sobrepõe à matéria por si subsistente e à hierarquia das formas); destarte, o indivíduo se tornaria intelectualmente cognoscível.
Contra o intelectualismo tomista, Scoto sustenta a primazia da vontade: a vontade não depende do intelecto, mas o intelecto depende da vontade. A tarefa do homem é conhecer para querer e amar; na vida eterna, Deus seria atingido, na visão beatífica, pela vontade, pelo amor e não pelo intelecto. Scoto põe também em Deus esse primado de vontade sobre o intelecto. Desse modo, as coisas criadas por Deus não dependem fundamentalmente da razão divina, e sim da vontade divina. E a própria ordem ética não é intrinsecamente boa por motivo racional, mas unicamente porquanto é querida por Deus, que poderia impor uma ordem moral oposta, em que, por exemplo, a mentira, o adultério, o furto, o homicídio, etc., seriam ações morais, e imorais as ações opostas.

Guilherme de Occam
Guilherme de Occam é, ao mesmo tempo, um opositor e um discípulo de Scoto: discípulo, no sentido de que desenvolve o individualismo de haecceitas escotista no nominalismo, que ele fez reviver no ambiente experimental da universidade de Oxford, depois do realismo imanente aristotélico-tomista. Guilherme nasceu em Occam na Inglaterra pouco antes do ano de 1300; fez-se franciscano, estudou e lecionou na Universidade de Oxford. Processado por heresia pela Santa Sé, refugiou-se junto do Imperador, então em luta contra o Papa, e escreveu várias obras para defender o imperador contra a Santa Sé. Faleceu pelo ano 1350. Suas obras especulativas são, além do Comentário às Sentenças de Pedro Lombardo: Sete Várias QuestõesSuma de Toda a LógicaCentilóquio Teológico.
Segundo Occam, o conhecimento sensível é superior ao conhecimento intelectual, porquanto o primeiro é intuitivo, ao passo que o segundo é abstrato; o primeiro dá-nos a realidade, concreta e individual, ao passo que o segundo nos dá apenas as semelhanças entre seres reais (as ideias gerais), e, por conseguinte, um conhecimento vago e confuso deles, que não nos permite distingui-los um do outro. O conhecimento sensível dá-nos as relações reais entre as coisas reais (o nexo causal, que se conhece só pela experiência), ao passo que o conhecimento intelectual nos proporciona conhecer as relações lógicas entre conceitos abstratos, sem nada nos dizer em torno da realidade das coisas. Em conclusão, a sensação é o sinal de um objeto na alma; o conceito é sinal de mais objetos percebidos como semelhantes. O conceito, pois, é um sinal natural, representado pelo nome que é, porém, um sinal artificial, variável segundo as diversas línguas.
Estamos na linha do experimentalismo inglês da Universidade de Oxford; desse experimentalismo deriva o empirismo, e deste deriva logicamente a ruína do conceito e, consequentemente, da ciência, da filosofia, da moral, etc. E deriva também a ruína das próprias noções de substância e causa, indispensáveis à própria ciência natural, porquanto essas noções de substância e causa não são experimentáveis. Pelo fato de a alma e Deus não serem sensíveis, segue-se que não são cognoscíveis. Deus não se pode provar a posteriori mediante o princípio de causalidade, válido empiricamente; e também não se pode provar - pela via de causalidade - a alma, de que é impossível demonstrar cientificamente a imortalidade.
Dado que em torno de Deus nada conhecemos filosoficamente, e dado outrossim o voluntarismo divino escotista, a vontade de Deus é absolutamente livre para criar uma moral mesmo oposta à presente, e para estabelecer uma outra ordem sobrenatural (por exemplo, se Deus quisesse, o Verbo poderia Ter-se encarnado num burro). Destarte, a ciência humana reduz-se à física, que nos faz conhecer os seres materiais, sensíveis, a lógica que nos ilustra as relações entre os conceitos. Portanto, nenhuma metafísica: o conhecimento de Deus, da alma, da moral, etc., é abandonado inteiramente à Revelação, à fé (fideísmo). Esta absoluta divisão entre a razão e a fé, coloca o ocamismo em uma posição afim à do averroísmo da dupla verdade. Com o diminuir da fé medieval e com o firmar-se do humanismo moderno, bem cedo a razão se porá contra a fé e a substituirá. O ocamismo tem um êxito vasto e imediato nos séculos XIV e XV; mas logo declina, degenerando num formalismo lógico. Com ele declina e, historicamente, termina a escolástica medieval.

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