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Livro: Uma Síntese a Filosofia Medieval

  Olá pessoal! Depois de um tempo, estou retomando as atividades por aqui. Uma das razões que contribui para esse hiato foi a falta de tempo...

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

HISTÓRIA DA FILOSOFIA PARTE II


O mito sempre foi um elemento cultural importante na pólis grega, pois dava unidade às cidades-estado com instituições e costumes tão diversos. Os deuses da mitologia grega relacionavam-se com a natureza e eram bastante próximos do homem: zangavam-se, alegravam-se, apaixonavam-se, sentiam ciúme e fome. As histórias dos gregos eram transmitidas em forma de mito. Por tratarem de sentimentos humanos, como o amor, o ódio, a admiração, a inveja, os mitos servem para entendermos melhor a nós mesmos, na tentativa de responder a indagações morais que rondam a mente humana.
Os filósofos pré-socráticos foram os primeiros sábios gregos a formular uma explicação racional para o mundo sem recorrer ao sobrenatural. Alguns aspectos comuns entre eles podem ser apontados: em primeiro lugar, eram estudiosos da natureza (physis). Por buscarem entender a organização racional do universo, a partir de princípios e leis que o regem, dizemos que eram voltados para a cosmologia, ou seja, a busca por entender a razão que rege o universo. Em segundo lugar, tentavam encontrar uma relação de causalidade entre os fenômenos da natureza. Por fim, todos buscavam um princípio ou elemento primordial a partir do qual explicariam os fenômenos naturais.

Tales de Mileto (cerca de 624-545 a.C.)
Segundo uma tradição, que remonta aos próprios gregos antigos, o primeiro filósofo da história teria sido Tales de MiletoEle ficava indignado por “todas as coisas estarem cheias de deuses”. Dessa maneira, tentou explicar que a água era a origem única (physis) de todas as coisas. A água, Tales afirmava, era a substância fundamental de que todas as outras se compunham; se pulverizássemos bem as coisas, as dissecássemos ou as examinássemos de muito perto, encontraríamos não ferro, pedra ou carne, mas água. Tales, então, pensa que, no fundo, “tudo é um”, ou seja, há uma unidade geral do universo.  A matéria era água condensada e o ar, água evaporada. Toda a Terra, ele sustentava, era um disco que flutuava num lago gigantesco, cujas ondas e encrespações eram a causa dos terremotos.
Anaximandro de Mileto (cerca de 610-546 a.C.)
Em meados do século VI a.C, Anaximandro de Mileto, que já havia introduzido e aperfeiçoado o relógio de sol (gnomon) na Grécia, foi também o primeiro a traçar um mapa do mundo habitado e, influenciado pelos orientais, a tentar calcular a distância entre as estrelas. Para Anaximandro, o universo teria resultado de modificações ocorridas num princípio originário (arché). Esse princípio seria ápeiron, que se pode traduzir por infinito e/ou ilimitado. Sendo princípio, deve também não ter princípio e ser indestrutível, porque o que foi gerado necessariamente tem fim e há um término para toda destruição. Por isso, assim dizemos: não tem princípio mas parece ser princípio das demais coisas e a todas envolver e a todas governar.

Pitágoras de Samos (cerca de 570-495 a.C.)

Pitágoras de Samos pressupunha uma unidade fundamental entre todos os seres: mas, para ele, o que une todos os seres do universo é a matemática (arithmós). O trabalho intelectual descobre a estrutura numérica de todas as coisas e, assim, vê sua relação com o cosmo, a harmonia, a proporção e a beleza. Os números não seriam, portanto, meros símbolos, mas a própria “alma das coisas”.
Como disse Nietzsche, explicando Pitágoras: “A música, como tal, só existe em nossos nervos e em nosso cérebro; fora de nós compõe-se somente de relações numéricas quanto ao ritmo, se se trata de sua quantidade, e quanto à tonalidade, se se trata de sua qualidade, conforme se considere o elemento harmônico ou o elemento rítmico. No mesmo sentido, poder-se-ia exprimir o ser do universo, do qual a música é, pelo menos em certo sentido, a imagem, exclusivamente com o auxílio de números”.

Parmênides de Eleia (cerca de 515-445 a.C.)
Parmênides de Eleia viveu no fim do século VI e começo do século V a.C. e deixou um poema, apresentando suas ideias filosóficas. A primeira parte do poema mostra o que seria a “via da verdade”, ou seja, o pensamento verdadeiro; a segunda parte apresenta a “via da opinião”, ou seja, o pensamento errôneo. Na “via da opinião”, os mortais, por confiarem em seus sentidos (audição, tato, olfato visão, paladar), não chegariam à verdade (aletheia) nem à certeza, permanecendo nas opiniões e nas convenções de linguagem. Os sentidos enganam, levam-nos ao erro e tentam nos manter numa ilusão. Como então saber a verdade? É aí que entra a parte de seu poema chamada “via da verdade”: não confiando nos sentidos, mas apenas no que é razoável à razão, ao pensamento. É como se nosso pensamento revelasse um mundo distinto da razão. Note, portanto, que Parmênides é o primeiro filósofo a identificar a distinção entre realidade e aparência e combater, com isso, o senso comum.

Heráclito de Efeso (cerca de 535-475 a.C.)
Nascido em Efeso, colônia grega da Ásia Menor, Heráclito escreveu o livro Sobre a Natureza, em prosa, no dialeto jônico, mas de forma tão concisa que recebeu o cognome de Skoteinós, o Obscuro. Defendia a ideia de que o movimento e o conflito não apenas existiam como eram a própria essência das coisas. Heráclito diz: “Tudo flui (panta rei), nada persiste, nem permanece o mesmo”, “a essência é a mudança” e “o verdadeiro é apenas como a unidade dos opostos”.
Heráclito nunca poderia dizer que o ar ou a água são a essência do mundo, uma vez que os dois não representam o processo nem a mudança: eles próprios estão submetidos a essa mudança, ao tempo, que é a verdadeira essência de tudo. Heráclito, assim, enfatiza o caráter mutável da realidade, sempre em fluxo: “Tu não podes entrar duas vezes no mesmo rio, porque novas águas correm sempre sobre ti”, ou “o sol não apenas é novo cada dia, mas sempre novo, continuamente”. Heráclito também acreditava que a realidade era marcada pelo conflito (pólemos) entre os opostos, e que esse conflito, longe de ser negativo, era a garantia do equilíbrio do universo, era a garantia de sua harmonia. Dia e noite, sol e chuva, criança e adulto, calor e frio, morte e vida, amor e ódio, dormir e acordar são opostos que se complementam, de forma que um só pode ser entendido em razão do outro.

Parmênides julgava o ser uno, imóvel, indestrutível, ingênito (isto é, incriado, não nascido, não gerado) e eterno. Segundo seu modo de pensar, o não ser, o nada não existe e não pode ser nem dito nem pensado. Portanto, o ser não pode ter surgido, porque ou teria surgido do nada, o que é impossível, ou teria surgido de outro ser, justificando que o ser já era e sempre será; logo, é eterno. Nem também o ser pode se movimentar, pois se se altera (o movimento em grego era tido como deslocamento, crescimento, diminuição e alteração) será outro ser, mesmo continuando a ser e, por isso, dois seres são impensáveis, apenas um ser é pensável. E se não foi criado, nem gerado, também não pode ser destruído, já que se destruído, algo ficará e assim permanecerá sendo.

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