O mito sempre foi um elemento cultural importante na pólis grega,
pois dava unidade às cidades-estado com instituições e costumes tão diversos.
Os deuses da mitologia grega relacionavam-se com a natureza e eram bastante
próximos do homem: zangavam-se, alegravam-se, apaixonavam-se, sentiam ciúme e
fome. As histórias dos gregos eram transmitidas em forma de mito. Por tratarem
de sentimentos humanos, como o amor, o ódio, a admiração, a inveja, os mitos
servem para entendermos melhor a nós mesmos, na tentativa de responder a
indagações morais que rondam a mente humana.
Os filósofos
pré-socráticos foram os primeiros sábios gregos a formular uma explicação
racional para o mundo sem recorrer ao sobrenatural. Alguns aspectos comuns
entre eles podem ser apontados: em primeiro lugar, eram estudiosos da natureza (physis). Por buscarem entender a organização
racional do universo, a partir de princípios e leis que o regem, dizemos que
eram voltados para a cosmologia, ou seja, a busca por entender a razão que rege o universo. Em segundo lugar,
tentavam encontrar uma relação de causalidade entre os fenômenos da
natureza. Por fim, todos buscavam um princípio ou elemento
primordial a partir do qual explicariam os fenômenos naturais.
Tales de Mileto (cerca de
624-545 a.C.)
Segundo uma tradição, que remonta aos
próprios gregos antigos, o primeiro filósofo da história teria sido Tales de
Mileto. Ele ficava indignado por “todas as coisas
estarem cheias de deuses”. Dessa maneira, tentou explicar que a água era a origem única (physis) de todas as coisas. A água, Tales afirmava, era a substância fundamental de que todas
as outras se compunham; se pulverizássemos bem as coisas, as dissecássemos ou
as examinássemos de muito perto, encontraríamos não ferro, pedra ou carne, mas
água. Tales, então, pensa que, no fundo, “tudo é um”, ou seja, há uma unidade
geral do universo. A matéria era água condensada e o ar, água evaporada.
Toda a Terra, ele sustentava, era um disco que flutuava num lago gigantesco,
cujas ondas e encrespações eram a causa dos terremotos.
Anaximandro de Mileto
(cerca de 610-546 a.C.)
Em meados do século VI a.C, Anaximandro de
Mileto, que já havia introduzido e aperfeiçoado o relógio de sol (gnomon) na
Grécia, foi também o primeiro a traçar um mapa do mundo habitado e,
influenciado pelos orientais, a tentar calcular a distância entre as estrelas.
Para Anaximandro, o universo teria resultado de modificações ocorridas num
princípio originário (arché). Esse princípio seria o ápeiron, que se
pode traduzir por infinito e/ou
ilimitado. Sendo princípio, deve também não ter princípio e ser
indestrutível, porque o que foi gerado necessariamente tem fim e há um término
para toda destruição. Por isso, assim dizemos: não tem princípio mas parece ser
princípio das demais coisas e a todas envolver e a todas governar.
Pitágoras de Samos (cerca de 570-495 a.C.)
Pitágoras de Samos (cerca de 570-495 a.C.)
Pitágoras de Samos pressupunha uma unidade
fundamental entre todos os seres: mas, para ele, o que une todos os seres do
universo é a matemática (arithmós). O trabalho intelectual descobre a estrutura numérica
de todas as coisas e, assim, vê sua relação com o cosmo, a harmonia, a
proporção e a beleza. Os números não seriam, portanto, meros símbolos, mas a
própria “alma das coisas”.
Como disse Nietzsche, explicando Pitágoras:
“A música, como tal, só existe em nossos nervos e em nosso cérebro; fora de nós
compõe-se somente de relações numéricas quanto ao ritmo, se se trata de sua
quantidade, e quanto à tonalidade, se se trata de sua qualidade, conforme se
considere o elemento harmônico ou o elemento rítmico. No mesmo sentido,
poder-se-ia exprimir o ser do universo, do qual a música é, pelo menos em certo
sentido, a imagem, exclusivamente com o auxílio de números”.
Parmênides de Eleia (cerca
de 515-445 a.C.)
Parmênides de Eleia viveu no fim do século VI
e começo do século V a.C. e deixou um poema, apresentando suas ideias
filosóficas. A primeira parte do poema mostra o que seria a “via da verdade”,
ou seja, o pensamento verdadeiro; a segunda parte apresenta a “via da opinião”,
ou seja, o pensamento errôneo. Na “via da opinião”, os mortais, por confiarem
em seus sentidos (audição, tato, olfato visão, paladar), não chegariam à
verdade (aletheia) nem à certeza, permanecendo nas opiniões e
nas convenções de linguagem. Os sentidos enganam, levam-nos ao erro e tentam
nos manter numa ilusão. Como então saber a verdade? É aí que entra a parte de
seu poema chamada “via da verdade”: não confiando nos sentidos, mas apenas no
que é razoável à razão, ao pensamento. É como se nosso pensamento revelasse um
mundo distinto da razão. Note, portanto, que Parmênides é o primeiro filósofo a
identificar a distinção entre realidade
e aparência e combater, com isso, o senso comum.
Heráclito de Efeso (cerca
de 535-475 a.C.)
Nascido em Efeso, colônia grega da Ásia
Menor, Heráclito escreveu o livro Sobre a Natureza, em
prosa, no dialeto jônico, mas de forma tão concisa que recebeu o cognome de
Skoteinós, o Obscuro. Defendia a ideia de que o movimento e o conflito não
apenas existiam como eram a própria essência das coisas. Heráclito diz: “Tudo
flui (panta rei), nada persiste, nem permanece o mesmo”, “a
essência é a mudança” e “o verdadeiro é apenas como a unidade dos opostos”.
Heráclito nunca poderia dizer que o ar ou a água são a essência do mundo,
uma vez que os dois não representam o processo nem a mudança: eles próprios
estão submetidos a essa mudança, ao tempo, que é a verdadeira essência de tudo.
Heráclito, assim, enfatiza o caráter mutável da realidade, sempre em fluxo: “Tu
não podes entrar duas vezes no mesmo rio, porque novas águas correm sempre
sobre ti”, ou “o sol não apenas é novo cada dia, mas sempre novo,
continuamente”. Heráclito também acreditava que a realidade era marcada pelo
conflito (pólemos) entre os opostos, e que esse conflito, longe
de ser negativo, era a garantia do equilíbrio do universo, era a garantia de
sua harmonia. Dia e noite, sol e chuva, criança e adulto, calor e frio, morte e
vida, amor e ódio, dormir e acordar são opostos que se complementam, de forma
que um só pode ser entendido em razão do outro.
Parmênides julgava o ser uno, imóvel,
indestrutível, ingênito (isto é, incriado, não nascido, não gerado) e eterno.
Segundo seu modo de pensar, o não ser, o nada não existe e não pode ser nem
dito nem pensado. Portanto, o ser não pode ter surgido, porque ou teria surgido
do nada, o que é impossível, ou teria surgido de outro ser, justificando que o
ser já era e sempre será; logo, é eterno. Nem também o ser pode se movimentar,
pois se se altera (o movimento em grego era tido como deslocamento,
crescimento, diminuição e alteração) será outro ser, mesmo continuando a ser e,
por isso, dois seres são impensáveis, apenas um ser é pensável. E se não foi
criado, nem gerado, também não pode ser destruído, já que se destruído, algo
ficará e assim permanecerá sendo.
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