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Livro: Uma Síntese a Filosofia Medieval

  Olá pessoal! Depois de um tempo, estou retomando as atividades por aqui. Uma das razões que contribui para esse hiato foi a falta de tempo...


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quinta-feira, 26 de setembro de 2019

HISTÓRIA DA FILOSOFIA PARTE XII - Introdução às obras Aristotélica: ÓRGANON



HISTÓRIA DA FILOSOFIA PARTE XII - Introdução às obras Aristotélica: ÓRGANON

ARISTÓTELES, 384-322 a.C.
Essa obra, dedicada à lógica formal, com­preende seis partes: Categorias, Da inter­pretação, Primeiros analíticos, Segundos analíticos, Tópicos Refutações sofísticas; tem o nome de Organon, que significa “uten­sílio, instrumento”. Isto porque Aristóteles considera a lógica formal como o meio que, à disposição do espírito, permite-lhe racio­cinar e exprimir-se em conformidade com a verdade.
Aristóteles dedica Categorias ao da predicação – o verbo grego kategorein significa “atribuir um predicado a um sujeito”. O autor apresenta no primeiro capítulo a definição dos termos “homônimo” – são chamadas homônimas coisas que só têm o nome em comum – e “sinôni­mo” – são chamadas sinônimas as coisas ­que têm em comum o nome e o conceito, como por exemplo homem e boi, que po­dem ser ambos chamados de “animal” e partilhar o conceito de animal. No segundo capítulo, ele faz a distinção entre os nomes – nome comum, verbo, grupo, atributo – e as proposições, que são uma ligação (symploké) de nomes.
Depois de definir atributo (cap. III), Aris­tóteles distingue as diferentes significações da predicação (cap. IV). Assim, o atributo pode significar a substância (ou­sia) quando responde à pergunta “O que é?”, mas pode significar também quantida­de, qualidade, relação, lugar, tempo, posi­ção, posse, ação e paixão. Aristóteles defi­ne a substância primeira (cap. V) como o que não é afirmado de um sujeito nem num sujeito – é portanto o indivíduo -, e a subs­tância segunda, como o gênero e o espaço aos quais pertencem o indivíduo. Os capí­tulos VI a IX são dedicados ao estudo deta­lhado das outras categorias ou modos de predicação. Por fim, o capítulo X estuda os opostos; o capítulo XI, os contrários; o ca­pítulo XII, o anterior; o capítulo XIII, o si­multâneo; e o capítulo XIV, o movimento. O capítulo XV encerra o tratado com o es­tudo da categoria da posse.
Os catorze capítulos do tratado Da inter­pretação são dedicados ao estudo das pro­posições que são definidas como um dis­curso no qual reside o verdadeiro ou o fal­so. Essas proposições são classificadas em afirmativas e negativas, universais, particu­lares ou singulares, segundo o sujeito da proposição seja predicado por “todos”, por “alguns”, ou seja constituído por um nome próprio. Aristóteles estuda também a diferentes oposições das proposições, a saber a contradição e a contrariedade. Um capítulo desse tratado é dedicado ao estudo da opo­sição das proposições modais (capítulo XII), enquanto o capítulo IX trata da célebre questão dos futuros contingentes.
Depois de examinar a construção das pro­posições, Aristóteles vai dedicar os Analíti­cos a unir essas proposições para formar raciocínios. Os Primeiros analíticos são de­dicados ao estudo dos silogismos – ligação dedutiva de três proposições. Servem para construir demonstrações do tipo “A é B; ora B é C; logo A é C”: em que a primeira proposição é chamada de maior, a segunda é chamada de menor, e a terceira é a con­clusão. O predicado da conclusão é deno­minado termo maior; o sujeito, termo me­nor; e termo médio é o termo que os rela­ciona. Os silogismos são classificados em três tipos, segundo a posição ocupada pelo termo médio, mas só o primeiro tipo é de­monstrado diretamente.
Depois de estudar o silogismo do ponto de vista formal, Aristóteles dedica Segun­dos analíticos à aplicação prática deste. Diz que podemos afirmar conhecer uma coisa quando conhecemos sua causa, constituin­do o termo médio do silogismo. Afir­ma, por outro lado, que os princípios do conhecimento nos são dados pela indução, que permite a passagem do particular ao universal. É a intuição intelectual (noésis) que apreenderá esse universal.
Os Tópicos são dedicados ao exame do silogismo dialético cujas premissas são ape­nas prováveis. Aristóteles arrola todos os procedimentos que possibilitam convencer, sem se preocupar com o valor de verdade do discurso.
Refutações sofísticas, por fim, são dirigi­das contra os sofistas: Aristóteles examina e refuta os argumentos que estes opõem aos adversários.
Esses tratados de lógica formal foram muito comentados durante a Idade Média e utilizados até o advento da lógica moderna.

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sexta-feira, 6 de setembro de 2019

HISTÓRIA DA FILOSOFIA PARTE XI - Introdução as obras Aristotélica.


HISTÓRIA DA FILOSOFIA PARTE XI - Introdução às obras Aristotélica.

Aristóteles nasceu em 384 a.C. em Estagira, na região da Macedônia. Por isso, ele também é conhecido como “o Estagirita”. Estagira era uma colônia grega encravada no território do reino da Macedônia, numa região portuária ao norte do mar Egeu. Aristóteles era descendente de uma família ligada à medicina.
Seu pai, Nicômaco, era médico de Amintas, rei da Macedônia.
Por volta dos dezoito anos foi para Atenas e ingressou na Academia de Platão, onde permaneceu por cerca de 20 anos. Após a morte de Platão (347 a.C.), decepcionado por não ter sido escolhido sucessor do seu mestre (o escolhido foi Espeusipo, sobrinho de Platão), Aristóteles abandonou Atenas e passou a morar na polis de Assos e, mais tarde, em Mitilene, na ilha de Lesbos.
Em 343 a.C., foi convidado por Filipe, o novo rei da Macedônia, para ser o preceptor de seu filho Alexandre. Aristóteles exerceu essa função até 336 a.C., quando Filipe morreu assassinado e Alexandre tornou-se rei.
Um pouco antes de morrer, o rei Filipe havia invadido e anexado à Macedônia uma boa parte das poleis gregas, inclusive a polis de Atenas. Ao assumir o trono, Alexandre ofereceu a Aristóteles a direção da Academia como uma recompensa pelo seu trabalho de educador. No entanto, Aristóteles não quis retornar à Academia através de uma imposição do rei e solicitou a este que lhe concedesse uma propriedade na qual pudesse fundar sua própria escola. O rei atendeu o seu pedido e Aristóteles recebeu um grande terreno no qual construiu uma instituição de ensino inovadora, que recebeu o nome de Liceu.
Diferente da Academia, que dava muita importância à geometria, os estudos no Liceu concentravam-se sobre o que hoje poderíamos chamar de "ciências naturais". Mais do que uma edificação com salas de aula, o Liceu era uma chácara onde Aristóteles colecionava espécimes animais e vegetais que seus colaboradores lhe enviavam de todas as partes do mundo conhecido. Sempre que possível o mestre incluía em suas aulas uma parte de observação direta. Assim, era comum os debates ocorrerem durante passeios pelos caminhos do Liceu. Por esse motivo, os discípulos de Aristóteles passaram a ser chamados de peripatéticos (que em grego significa: os que passeiam).
Ao longo dos quinze anos em que foi dirigido diretamente por Aristóteles, o Liceu se tornou o maior centro de investigação filosófica e científica do mundo helênico, com o patrocínio do imperador Alexandre.
Com a morte de Alexandre, em 321 a.C., os gregos passam a lutar pela independência de suas poleis e Aristóteles passou a ser visto como uma figura que representava a dominação macedônica. Para “não permitir que Atenas pecasse pela segunda vez contra a filosofia” (a primeira tinha sido a execução de Sócrates), Aristóteles fugiu para Cálcis, na Eubéia, onde morreu no ano seguinte com 63 anos.
Após a saída de Aristóteles, a direção do Liceu foi confiada ao seu discípulo Teofrasto. No entanto, a maior parte dos peripatéticos abandou Atenas. A partir daí, a escola estendeu suas atividades também a dois novos centros: a Ilha de Rodes e Alexandria. Entre os seguidores do Liceu, destacaram-se Eudemo de Rodes e, mais tarde, já no século I a.C., Andrônico de Rodes.

Corpus aristotelicum é o nome dado ao conjunto dos escritos de Aristóteles. Segundo os relatos de historiadores antigos, ele escreveu mais de 400 livros, mas somente uma pequena parte dessa obra chegou até os nossos dias.
Após a morte de Aristóteles, vários livros foram escondidos. Foi somente no ano 50 a.C. que Andrônico de Rodes, então diretor do Liceu, descobriu os livros que haviam ficado perdidos por cerca de trezentos anos. Andrônico os organizou e passou a divulgá-los.
Por aproximadamente cinco séculos, a obra aristotélica ganhou novamente uma posição de destaque no pensamento ocidental. No entanto, a ascensão do cristianismo e a queda do Império Romano fizeram com que ela mais uma vez fosse quase que totalmente esquecida.
Preservada principalmente pelos filósofos árabes, algumas obras de Aristóteles sobreviveram à Idade Média e outras acabaram se perdendo.
Somente será possível entender o pensamento aristotélico conhecendo a sua vasta obra com os textos que atualmente compõem o corpus aristotelicum são os seguintes:
Organon [Livros de lógica]: Categorias; Sobre a Interpretação; Primeiros Analíticos; Segundos Analíticos; Tópicos; Argumentos Sofísticos.

Livros de física: Física; Sobre o Céu; A Geração e a Corrupção; Meteorológicos.

Livros de metafísica: 14 livros sobre filosofia primeira; (Foi Andrônico quem atribuiu a estes livros a denominação de Metafísica (literalmente "depois da física”), indicando com esse termo a posição desses livros na classificação geral da obra aristotélica: eles ficariam logo após os livros que tratam da física).

Livros de psicologia: Da Alma, Parva Naturalia

Livros de biologia: História dos Animais; Partes dos animais; Do movimento dos animais; Da marcha dos animais; Da geração dos animais.

Livros de ética: Ética a Nicômaco; Ética a Eudemo; Grande Moral

Livros de Política: Política; Constituição de Atenas.

Livros sobre a linguagem e a estética: Retórica;
Poética

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sexta-feira, 30 de agosto de 2019

HISTÓRIA DA FILOSOFIA PARTE X - Pensamento Filosófico de Platão: Teoria das Formas


HISTÓRIA DA FILOSOFIA PARTE X
Pensamento Filosófico de Platão: Teoria das Formas
Tudo que nossos sentidos apreendem no mundo material não passa de simples sombras da realidade. Essa crença platônica é base de sua Teoria das Formas: para cada coisa na terra que temos o poder de apreender com nossos sentidos há uma correspondente forma ou ideia”, isto é, uma eterna e perfeita realidade daquela coisa no mundo das ideias.
Como o que apreendemos pelos sentidos é baseado em uma experiência de “sombras” imperfeitas ou incompletas da realidade, não podemos ter um conhecimento real das coisas. No máximo, podemos ter opiniões, mas conhecimento genuíno só pode vir do estudo das ideias, e isso só pode ser alcançado pela razão.
Essa separação em dois mundos distintos – um, da aparência, e o outro, realidade de fato – solucionou o problema da busca de constantes em um mundo aparentemente em transformação. O mundo material pode estar sujeito a mudança, mas o mundo das ideias é eterno e imutável.
Platão aplica sua teoria não apenas às coisas concretas, mas também a conceitos abstratos. No mundo das ideias de Platão, há uma ideia de Justiça, que é a verdadeira, enquanto todos os exemplos de Justiça do mundo material ao nosso redor são apenas variantes menores.
Persiste o problema de como podemos nos familiarizar com essas ideias, para que tenhamos a capacidade de reconhecer os exemplos imperfeitos no mundo que vivemos. Platão argumentou que nossa concepção das formas ideais deve ser inata, ainda que não estejamos conscientes disso.
Os seres humanos são divididos em duas partes: corpo e menteNossos corpos possuem sentidos, por meio dos quais somos capazes de apreender o mundo material, enquanto a mente possui a razão, com a qual podemos apreender o reino das ideias.
Platão concluiu que “a alma” (ou “a mente”), imortal e eterna, habitou o mundo das ideias antes de nosso nascimento e ainda se mantém naquele reino após nossa morte. Por isso, as variantes das ideias que o mundo dos sentidos apresenta nos soam como uma reminiscência. Rememorar as lembranças inatas dessas ideias exige razão, um atributo da mente.
Para Platão, a tarefa do filósofo é usar a razão para descobrir as formas ideais ou ideias. Aqueles que são fiéis à vocação da Filosofia deveriam ser a classe dominante, pois somente o verdadeiro filósofo poderia entender a natureza do mundo e a verdade dos valores morais.

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segunda-feira, 26 de agosto de 2019

HISTÓRIA DA FILOSOFIA PARTE IX - PENSAMENTO POLÍTICO DE PLATÃO


O PENSAMENTO POLÍTICO DE PLATÃO
Platão é, portanto, um dos grandes criadores do pensamento ocidental. Uma de suas principais obras, A República, é uma das maiores influências da cultura

ocidental, seja em seus aspectos políticos ou metafísicos.
PLATÃO, nasceu por volta de 427 a.C, em uma família ateniense de renome. Ainda jovem, conheceu o notável filósofo Sócrates, que se tornou seu amigo e mentor. Em 399 a.C, Sócrates, então com setenta anos de idade, foi julgado por uma acusação meio vaga de impiedade e corrupção dos jovens de Atenas, sendo condenado, sentenciado a morte e executado.
A execução de Sócrates — que Platão denominava “o homem mais sábio, justo e o melhor entre todos que jamais conheci” — desencantou seu discípulo com a democracia.
O Mito da Caverna faz referência a este episódio que ocorreu ao seu mestre Sócrates, então com setenta anos de idade, foi julgado por uma acusação de subversão aos jovens de Atenas, sendo condenado, sentenciado a morte e executado.
No Mito da Caverna, Platão diz que um dos homens que habitavam à caverna  e consegue sair dela era Sócrates. Ao decide retornar à caverna e soltar os outros. Quando volta, tem de lutar para se adaptar novamente à escuridão do lugar. Os outros prisioneiros estranham seu comportamento (a escuridão da caverna ainda é a única realidade deles) e, em vez de lhe fazer elogios, acham-no estúpido e não acreditam no que tem para lhes contar. Os prisioneiros ameaçam matá-lo, caso tente libertá-los também.
Pouco depois da morte de Sócrates, Platão deixou a cidade e passou os dez ou doze anos seguintes viajando pelo exterior. Por volta de 387 a.C, regressou à Atenas e fundou uma escola, a Academia, que se manteve em funcionamento por mais de novecentos anos.
Platão ficou a maior parte de seus restantes quarenta anos em Atenas, ensinando e escrevendo sobre filosofia. Seu aluno mais famoso foi Aristóteles, que veio para a Academia quando tinha dezessete anos de idade, e o mestre, sessenta. Platão morreu em 347 a.C, com oitenta anos.
Escreveu trinta e seis livros, a maioria sobre questões políticas e éticas, mas também sobre metafísica e teologia. Obviamente, não é possível resumir esses trabalhos em poucas linhas.
Entretanto, mesmo correndo o risco de simplificar excessivamente seus pensamentos, tentarei fazer um esboço das principais ideias políticas expressas em seu livro mais famoso, A República, que expõe seu conceito de sociedade ideal.
A República e a classe dos guardiões
A melhor forma de governo, sugere Platão, é a aristocracia. Devido ao ocorrido com Sócrates, Platão estava desiludido com a democracia, e com isso ele se volta para um novo modelo de se fazer política.
O modelo não se tratava da aristocracia hereditária ou a monarquia, mas uma aristocracia por mérito, ou seja, o governo exercido pelas pessoas melhores e mais sabias do Estado, que deveriam ser escolhidas não pelo voto dos cidadãos, mas por um processo de cooptação.
Essas pessoas são os governantes ou membros da classe dos guardiões, que admitiriam novos adeptos as suas fileiras, sempre em função do seu mérito.
Acreditava ele que todas as pessoas, homens e mulheres, deveriam ter a oportunidade de demonstrar sua aptidão enquanto membros da classe dos guardiões (Platão foi o primeiro grande filósofo a sugerir a igualdade básica dos sexos).
A fim de assegurar igualdade de oportunidades, defendia a criação e a educação de todas as crianças como encargo do Estado, que lhes proporcionaria, em primeiro lugar, completo treinamento físico, sem negligenciar, entretanto, a música, a matemática e outras disciplinas acadêmicas.
Em determinados níveis, seriam feitos exames detalhados. Quem atingisse resultados médios seria indicado para exercer as atividades econômicas na comunidade; quem se destacasse continuaria recebendo mais treinamento.
Essa educação adicional incluiria não apenas assuntos acadêmicos rotineiros, mas também o estudo da filosofia, o que significava para Platão o estudo da sua doutrina metafísica do mundo das ideias.
Na idade de trinta e cinco anos, os indivíduos que de fato demonstrassem domínio dos princípios teóricos teriam direito a quinze anos de treinamento complementar, que consistiria em experiências práticas de trabalho. Seriam admitidos na classe dos guardiões os que se mostrassem capazes de aplicar seu conhecimento teórico na vida real.
Além disso, apenas os que demonstrassem estar basicamente interessados no bem chegariam a se tornar guardiões.
Ser membro da classe dos guardiões não interessaria a todos. Os guardiões não seriam ricos, só lhes sendo permitido um mínimo de pertences pessoais, não possuindo terras ou casas particulares. Deveriam receber um salário fixo (e não muito grande) e não poderiam possuir ouro ou prata; também não lhes seria permitido constituir família; deveriam alimentar-se em conjunto e teriam consortes em comum.
A compensação para esses filósofos-reis não seria a riqueza material, mas a satisfação do serviço público. Esse é, em resumo, o conceito de Platão da república ideal.
A influência de Platão na história do Ocidente
A República tem sido amplamente lida há muitos séculos. Deve-se notar, entretanto, que o sistema político ali proposto nunca foi adotado como modelo por qualquer governo civil. No intervalo entre a época de Platão e a nossa, a maioria dos Estados europeus foi governada por monarquias hereditárias e, em séculos mais recentes, várias nações adotaram formas democráticas de governo.
Também houve vários casos de governo militar e de tiranias demagógicas, como as de Hitler e de Mussolini. Nenhuma dessas formas de governo se assemelha a república ideal de Platão, e suas teorias nunca foram adotadas por qualquer partido nem formaram a base de algum movimento político, como ocorreu, por exemplo, com as teorias de Karl Marx.
Devemos, então, concluir que os trabalhos de Platão, apesar de mencionados com respeito, foram totalmente ignorados na pratica? Acho que não.
É verdade que nenhum governo civil na Europa foi moldado diretamente pela teoria de Platão. Existe, entretanto, considerável semelhança entre a posição da Igreja Católica na Europa medieval e a classe dos guardiões de Platão. A Igreja medieval consistia em uma elite auto perpetuadora e cujos membros tinham sido rigorosamente treinados numa filosofia oficial.
Em princípio, todos os homens, independentemente da origem familiar, eram passíveis de ingressar no clero (embora as mulheres fossem excluídas). Também os religiosos não tinham famílias e se supunha que fossem motivados basicamente pelo cuidado de seu rebanho e não pelo desejo de autopromoção.

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sexta-feira, 23 de agosto de 2019

HISTÓRIA DA FILOSOFIA PARTE VIII - PENSAMENTO PLATÔNICO II O Mundo Sensível e o Mundo das Ideias



O Mundo Sensível e o Mundo das Ideias
Este Mundo das ideias perfeitas transcende ao homem e só é dado a quem conquista a sabedoria. Para estabelecer a ligação entre o mundo sensível e o mundo inteligível (mundo das ideias), para dizer como se dá a intuição dessas essências separadas daquelas presas ao mundo sensível, Platão utiliza outro mito.

Conhecimento para ele é reminiscência, recordação.
Recordação do que? Daquilo que a alma viu no Mundo das ideias. O mito dos cavalos alados refere-se à alma e remete para uma existência anterior, na qual a alma estava no Mundo das Ideias e contemplou coisas perfeitas. Na verdade, há no homem três almas: A apetitiva, a irascível e a racional.
É interessante notar que estas almas ocupam espaço no corpo.
A alma apetitiva se localiza nas entranhas, no abdômen e faz alusão aos instintos.

A alma irascível está no peito e diz respeito aos sentimentos.

A alma racional está na cabeça e representa a razão, o mais nobre no homem.
As duas primeiras são mortais. Só a racional é imortal. O mito descreve um carro puxado por dois cavalos alados: um branco mais manso, de boa raça e outro preto, pesado, fogoso, indomável. O carro é dirigido por um cocheiro que precisa conduzir adequadamente estes cavalos para o carro não se perder. O cavalo preto representa a alma apetitiva. Ela é comandada pelos apetites, pela condição biológica, instintiva do homem.
O cavalo branco representa a alma irascível, sede das paixões.
O cocheiro é a alma racional à qual incumbe dominar as outras duas que lhe são inferiores.
Mal conduzido o carro, a alma cai do Mundo das Ideias, em um corpo que representa para ela a prisão. Platão utiliza a expressão de ser o corpo o túmulo da alma. A alma, enquanto esteve no Mundo das Ideias, conheceu as coisas perfeitas.  Ao ser aprisionada no corpo vê as coisas do mundo sensível, recorda das coisas perfeitas e deseja retornar. A recordação é possível pela relação que existe entre o mundo sensível e o mundo das ideias. Esta relação é narrada no Timeu, pela ação do Demiurgo. Por bondade, faz nascer o cosmos a partir de uma massa caótica, desordenada e em revolução, imprimindo nela a ordem, a organização, a harmonia.
O Demiurgo não tem poder criador. "O artesão, por mais ativo que seja em sua reflexão intelectual não faz mais que organizar uma matéria que já está lá imitando um modelo já existente, em função de ideias e de números já inscritos no mundo inteligível." (DROZ, 1997: p. 127).
Ele faz o mundo dispondo dos elementos da natureza – a água, a terra, o ar e o fogo – e utiliza, por modelo, copiando-as, as ideias perfeitas e infunde alma no mundo dando-lhe ordem e unidade. No Parmênides encontra-se a seguinte colocação: "...as formas estão na natureza como paradigmas, e que as outras se parecem com elas e são semelhantes delas." (PLATÃO, 2003: 132 d). Assim, pela semelhança que existe entre as coisas do mundo sensível e do mundo inteligível, justifica-se a identificação de conhecimento com a reminiscência.
A reminiscência é um ponto importante na teoria do conhecimento platônico cujo pilar é a crença na pré-existência da alma e na metempsicose – isto é a crença no retorno das almas que não atingem o grau mais alto do aperfeiçoamento, reencarnando em outros corpos – e sustenta o princípio socrático de que nada se ensina porque não há transmissão de algo exterior para o interior da pessoa na medida em que o saber está na alma e só precisa ser redescoberto por meio de recordação. "...a anamnesis, longe de nos religar a uma passado, religa-nos à verdade, isto é, ao Mundo da Ideias, ou melhor ainda, ao ser imutável e eterno." (DROZ, 1977: p. 70).
Nessa ascensão no conhecimento, na qual a alma se eleva da ignorância à intuição, o amor ajuda porque se encontra no meio entre os que estão na ignorância e os deuses que não precisam buscar o que já possuem.
A alegoria do amor, numa bela descrição literária, está no relato que, durante o Banquete, Sócrates faz de um ensinamento que recebeu e narra o nascimento do amor cuja mãe Pênia, a Pobreza, lega ao filho a indigência, por isso, Eros não tem morada e está sempre carente e inquieto. Não é belo.
É rude e vive na penúria, na pobreza. Do pai Poros, deus da Abundância, Eros recebe a virilidade, a resolução, o desejo do belo e do bom. Aspira o saber e descobre os caminhos que permitem atingi-lo. Eros não possui a sabedoria, mas aspira alcançá-la porque deseja o que não possui. "A sabedoria, com efeito, é uma das coisas mais belas e Eros é amor do belo, de modo que Eros é necessariamente amante da sabedoria, e ser amante da sabedoria está, portanto, entre o sábio e o ignorante.
É porque existe no homem a necessidade do conhecimento e o desejo de alcançá-lo que o faz filosofar, ascendendo no conhecimento do belo desde a visão dos corpos belos, das ações belas para, pela intuição, contemplar à beleza em si.
Como se verifica, por meio dos diferentes mitos, Platão transmite ideias sobre o conhecimento, sua necessidade e decurso.
Primeiramente, é importante esclarecer que este tema é tratado em mais de um diálogo platônico e consiste em um dos principais fundamentos do pensamento do filósofo. Para entender as razões que possivelmente motivaram Platão a desenvolver esta parte de sua filosofia, precisamos resgatar alguns aspectos do pensamento pré-socrático, tendo como foco, especialmente duas propostas feitas por dois pensadores específicos que antecederam Platão: Heráclito e Parmênides. O primeiro, em suas tentativas de buscar elementos que explicassem a natureza, entendeu e afirmou que a realidade que o cercava era aparente, ou seja, estava em constante transformação (devir). Em oposição, Parmênides assegurou que a realidade não se altera e negou a ideia de movimento contínuo da natureza. 
O Mundo das Ideias parece surgir para Platão como uma proposta reflexiva que sintetiza estas oposições anteriores. Platão compreende que existem dois planos distintos: um deles é estável, o outro instável. O que o filósofo chamou de Mundo das Ideias é imutável, eterno e real, e opõe-se ao Mundo Sensível, em que os objetos são passageiros, caracterizados pela mutabilidade e ilusórios. Este último é o mundo das aparências, das cópias imperfeitas daquilo que se encontra no Mundo das Ideias que, por sua vez, é o mundo da Episteme (verdades) e o Mundo Sensível o mundo traçado pela doxa (opinião), através do qual, portanto, não se atinge a verdade. Isto significa que no primeiro mundo as coisas existem em sua essência e como absolutas, enquanto que no segundo, apenas existem de maneira aparente, não como realmente são em si. O Mundo Sensível é o mundo que apreendemos, que sentimos e que vivemos. Neste plano existem apenas cópias das Formas verdadeiras que encontram-se no Mundo das Ideias. Para Platão, a razão é o instrumento que possibilita o conhecimento das verdades eternas que encontram-se no referido mundo perfeito. Através do exercício intelectual, o homem pode relembrar verdades que já encontram-se em seu íntimo e que foram anteriormente assimiladas pela alma no Mundo das Ideias.
Estas aparências encontradas no Mundo Sensível teriam sido criadas por um ser superior chamado por Platão de Demiurgo (que seria um artesão). Este, teria montado um mundo imperfeito que copia as formas perfeitas e, assim, as essências existentes neste plano ideal proposto por Platão possuem a forma primordial da qual se originam as coisas que o homem conhece através da realidade sensível. Ou seja, há uma forma da qual tudo se origina.
Na verdade, com a criação destes dois mundos, Platão resolve um problema criado pelos filósofos pré-socráticos: Parmênides e Heráclito. O problema era a respeito do movimento.
Se, para Heráclito tudo está em constante movimento, mas nada dura para sempre. Já para o pensamento de Parmênides este movimento é apenas uma ilusão, pois se as coisas mudassem deixariam de serem elas mesmas.
Para Platão, no mundo das ideias não existe mudança, pois tudo é eterno, assim como para Parmênides. E, no mundo dos sentidos de Platão tudo está mudando e sujeito ao erro, assim como para o pensamento de Heráclito.




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quinta-feira, 22 de agosto de 2019

HISTÓRIA DA FILOSOFIA PARTE VII - Pensamento platônico I Mito da Caverna


Pensamento platônico I
O Mito da Caverna
Platão é o grande discípulo de Sócrates e, como já anteriormente referido, assume a tarefa de imortalizar o mestre fazendo-o, com empenho, por meio de suas obras.
Estas obras costumam ser organizadas por períodos listando-se os denominados Diálogos Socráticos na primeira fase de produção; pertencem à fase intermediária a República, Fédon, Fedro, Banquete e na última fase, na época da maturidade são colocados, entre outros, Teeteto, Político, Sofista, Parmênides, As Leis.
Na verdade não existe concordância absoluta sobre os períodos em que foram escritos nem sobre a autenticidade da totalidade dos textos.
Um exemplo pode ser encontrado no comentário introdutório realizado por Emílio Lledó Iñigo na edição dos Diálogos I, de Platão publicado pela Editorial Gredos de Madrid. Nas páginas 53-55 traça um quadro comparativo das discrepâncias quanto às fases nas quais foram produzidas as obras, segundo alguns autores.
Em face dos sofistas propagadores da relatividade, Platão defende o conhecimento; contra a licenciosidade dos costumes, opõe a educação. E Platão confia na razão, desconfia dos sentidos e esclarece o processo de conhecimento. É possível apresentar as várias concepções de Platão interpretando o significado dos mitos relatados em vários de seus textos.
O mito, em Platão, não tem a mesma finalidade que se mostrou existir na fase mítica do pensamento humano porque caracteriza um estilo literário para comunicar uma mensagem destinado a cativar, convencer, ensinar e é utilizado como um método para facilitar a busca da verdade.
Para Platão são três os níveis do conhecimento: a ignorância, a opinião e a ciência.

A ignorância é a falta de conhecimento, é a negação do saber.

A opinião é o conhecimento das coisas mutáveis que existem no mundo sensível.
A ciência é a verdadeira sabedoria, o conhecimento das coisas imutáveis.
Para facilitar a transmissão de seus pensamentos Platão faz uso de um mito célebre: o Mito da Caverna.Resultado de imagem para MITO DA CAVERNA
Nesse mito Platão relata que, numa caverna escura, estão alguns homens presos, acorrentados e voltados para o fundo da caverna sem poderem olhar para outro lado. Na frente dessa caverna há uma abertura por onde penetra a luz e diante dela passam pessoas conversando e carregando toda sorte de objetos.
Os homens presos ouvem vozes, veem a sombra das pessoas e dos objetos que carregam projetados no fundo da caverna. Vendo as sombras, acreditam conhecer o real.
Se um desses homens se libertar e voltar-se para a luz, de imediato seus olhos ficarão cegos pelo excesso de claridade a que não estavam acostumados e precisará, aos poucos, habituar os olhos à luz. Quando sair da caverna constatará que existe um mundo concreto, diferente daquele que pensara antes, vendo sombras. (PLATÃO, L.VII 514a - 519d).
Existe neste texto de Platão o ensinamento sobre o conhecimento.
Os presos na escuridão representam aqueles que vivem na ignorância.
O homem comum habita e participa da vida da Polis, mas num mundo de coisas fugazes, capta o aparente e se acomoda passivamente com ele, não se preocupa em procurar a realidade.
A sombra lhe é suficiente.
Desconhece o mundo, mas julga conhecê-lo.
O homem que se volta para a luz e tem os olhos turbados é o homem da opinião. Contenta-se em conhecer as coisas mutáveis, partes do mundo sensível.
A opinião, a doxa como a chama Platão, não é fato porque se relaciona às paixões, aos interesses particulares, que induzem a ver as coisas sob a ótica mais interessante aos desejos subjetivos e circunstanciais. Por isso é regida pelo constante fluxo da mutabilidade, do devir. Mas ainda não se completou a trajetória, pois a libertação é tarefa custosa.
Exige livrar-se da segurança das correntes para voltar-se ao desconhecido, causa a cegueira, a dor nos olhos. Mas o homem ainda está em caminho. Debate-se entre a ilusão, a conjetura e a crença, entre o que está na penumbra e o que os olhos, mesmo mal, podem ver e o que está na luz e não consegue enxergar.
Quem atinge a luz conquista a sabedoria e conhece as coisas imutáveis, perfeitas existentes no mundo das ideias. É o conhecimento do ser que é plenamente inteligível, das essências imutáveis apreendidas pela intuição, indicando que há algo estável, permanente, imutável, para se poder compreender uma coisa em si, não redutível ao que os sentidos veem maculados pelas paixões, requerendo ingente esforço de captar o inteligível que aí está. Este homem é capaz de comparar o estágio do conhecimento (ou a falta de conhecimento) anterior com o alto grau da sabedoria que agora tem; sente-se penalizado pelos outros e feliz pelo dom alcançado quando saiu da caverna.
Portanto a ascensão no conhecimento não é algo repentino. É uma conquista árdua, exige empenho, esforço, dedicação e coragem para vencer os obstáculos que continuamente se interpõem.



Mundo Inteligível é o Mundo das ideias, descrito no mito da caverna de Platão. É resumidamente a ideia de que fazemos das coisas, o ideal. Ex.: sabemos o que é uma cadeira, independente de sua forma, pela ideia de "cadeira" que possuímos.
Mundo Sensível, pelo contrário, seria o Mundo material, o que tocamos. Acima está a pintura do quadro chamado Escola de Atenas em que Platão e Sócrates estão no centro exatamente discutindo sobre isso. Aristóteles aponta pra baixo, pro Mundo sensível. Enquanto Platão para o alto, que seria o mundo inteligível ou das Ideias.
Com um toque de seu mestre Sócrates, de quem Platão aproveita a noção de logos, está criada a teoria platônica e a distinção dos mundos sensíveis e inteligíveis.

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